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O sacramento da quaresma: a verdadeira fome só Deus é que a pode saciar

Gn 2, 7-9 – 3, 1-7; Rm 5, 12-19; Mt 4, 1-11 | I Domingo da Quaresma

Acho curioso que Mateus nos diga que Jesus só teve fome depois de ter jejuado durante quarenta dias e quarenta noites. Não há informação de que Jesus fosse obeso, de forma a que o seu corpo passasse a consumir a si próprio passado a poucas semanas, que é o tempo em que se pode passar sem comida. Quanto à água, o corpo apenas pode passar sem ela alguns dias. Acresce, ainda, a desidratação do corpo por causa do calor do deserto. Sendo assim, de que fome estaremos a falar?

Imagino que a fome a que Mateus se refere já tenha ultrapassado a das necessidades básicas, passando à significação de sentido fundante e último da vida. E é aqui que o diabo se mete com mais astúcia. As tentações de Jesus, de acordo com os textos citados do Antigo Testamento (Dt 8,3; Sl 91,11s; Dt 6,16; Dt 5,9; Dt 6,13), condizem com as tentações do povo eleito do Antigo Testamento na sua caminhada de quarenta anos pelo deserto. Já ali, o Inimigo tinha feito tentativas para desviar o povo da Terra prometida. Quanto a Jesus, Satanás sabe que não tem muitas tentativas, até à Salvação definitiva, embora estejamos só no início da vida pública de Jesus.

Tudo nos leva a crer que aquela “fome” se reporta a algo que só Deus pode saciar: a daquela consciência da identidade de filiação divina, celebrada no Batismo. E o demónio quer-se passar por deus precisamente aqui, de onde tudo o resto deriva para o bem ou para o mal. Pode tratar-se, comparativamente a todo o ser humano, de uma situação de desespero, de frustração, de desgaste excessivo, em que as perguntas mais graves se colocam nas tribulações. É preciso uma sobredosagem de coragem e de fé para não se deitar tudo a perder. Não se trata de um pedaço de pão, de uma mera sensação de proteção ou ou de um conforto na solidão. Sim, são necessidades básicas, cuja falta é interruptor que liga questionamentos mais profundos: o confronto com o nada, o vazio existencial, a morte, no momento ─ o início de uma vida pública ou o princípio de uma “carreira” ─ em que seria suposto tudo dar certo, em que o sucesso deveria bater à porta, em vez de… tentações no deserto.

Recordemos que foi o Espírito ─ o Amor com que o Pai rasgou o céu no dia do Batismo no Jordão ─ que conduziu Jesus àquele retiro duro, a que pouco se assemelham os nossos exercícios espiritusais, por mais que o queiramos reproduzir. Portanto, Jesus parte para ali com uma declaração forte do amor incondicional do Pai para com Ele. Jesus tem 30 anos e poderíamos dizer que as suas necessidades básicas já foram abundantemente “preenchidas” com a ajuda da Família de Nazaré. De que se tratará agora?

Diria humildemente que se trata de aperfeiçoar ou completar a Lei e não seguir o caminho dos escribas. Jesus tinha de se preparar neste grande retiro para ler o Antigo Testamento de forma a apurar o seu sentido profundo, não se deixando ficar à superfície. Tratava-se de tomar uma direção inédita, que devolvesse a esperança ao povo de Israel oprimido, não obstante as várias tentativas de encontrar a terra prometida que, desde agora, passa a ter uma “margem” não meramente terrena como horizonte.

Neste deserto, Jesus restaura a aliança que o Povo a caminho não foi capaz de levar a cumprimento: a de fugir da lógica do mundo, de um messianismo espetacular, utilizado em proveito próprio. Na Igreja e não só no mundo, ainda estamos a atravessar este deserto. Precisamos de fazer mais do que ler a Palavra de Deus sem cumprir a vontade de Deus. É preciso discernir se o que queremos é Deus que o dá. Porque se é Ele que o dá, serve para responder à vocação na missão; senão, não serve. Só é possível sair vitoriosos nas provações mantendo-nos fiéis à vontade de Deus, porque só esta é digna de confiança.

Há não quarenta dias, mas um ano, que a Ucrânia vive uma quaresma, à espera que chegue o terceiro dia pascal. Até quando, Senhor? Recebemos testemunhos de “guerreiros” da defesa não só de um país, mas também da identidade de filhos de Deus, demonstrada pela resiliência na oração. São, hoje, sinal de Jesus Cristo para nós!

Doravante, a saciação da fome de Batismo não deve ser negada a ninguém, alternativamente ao risco de se vir a escolher fundamentar a vida em escolhas que a diabolizam/separam do seu verdadeiro sentido. Preparar mediante a declaração do desejo e acompanhar. Nunca negar o acesso a esta fonte! O contrário faz-nos cúmplices da morte eterna!

Um busca de identidade humana e eclesial apostada na diferenciação diabólica – por exemplo a de quem busca exclusivameente apoiar-se num Pontífice em particular ou num tipo de espiritualidade em particular, em detrimento de outros – seria o mesmo que apoiar o divórcio matrimonial sem razões de nulidade. Este tipo de busca de esclarecimento de identidade que diverge em totalitarismos nunca será totalizante, porque é o homem a tentar governar-se só a tentar comer da árvore do conhecimento do bem e do mal. Todos somos convocados, sem exclusão, a alimentarmo-nos da árvore da vida, acessível a todos e não é patente exclusiva, mas inclusiva. É Deus que quer ser tudo em todos. De ouro modo não haveria missão. Jesus, por estas sendas do deserto quaresmal sede o nosso guia e proteção.

A prática da justiça e a santificação do tempo são inseparáveis

Is 58, 9b-14; Lc 5, 27-32

À medida que vamos escutando a profecia de Isaías, vamos dando conta de que, contra qualquer dicotomia que possa insinuar-se a relação entre culto e caridade, a prática da justiça de Deus é inseparável da santificação do tempo. Estes dois modos de existir cristãos entrelaçam-se ao longo do texto de uma maneira harmoniosa. A prática da caridade cura e dá vigor; a santificação do Dia do Senhor dá-nos acesso à herança prometida.

Não praticar a caridade para com os necessitados leva a murmurações que não são mais do que auto-justificação pelo bem que não se quer fazer, apontando para o mal dos outros. Não raramente, pessoas como os escribas não separam o pecado do pecador, o erro da pessoa. Desta forma, alteram a definição do valor da pessoa, por causa da apreciação do que a pessoa faz ou não. Jesus, utiliza a metáfora da medicina e do paciente para nos fazer compreender a importância e a urgência de curar os pecadores.

O pêndulo que determina se somos ou não misericordiosos é o que oscila entre a função e a missão: a função determina o bem que eu faço a pensar em mim, ao passo que a missão é determinada pelo bem em si. A missão é de fundamentação cristã; a função é mera atividade humana. Qualquer pessoa pode fazer esta ou aquela função, dependendo das suas qualidades naturais. A missão é reservada só a quem parte de Cristo, implicando um posicionamento acima das forças humanas, como é o amor aos inimigos, o chamamento e a atenção às pessoas marginalizadas, etc. A missão “acredita” no potencial que está dentro das pessoas, ajudando a que a vida eterna “germine” dentro delas; a mera função por falta de fé, desgasta-se inutilmente e leva à depressão. Só como função, a caridade perde-se no voluntarismo ou assistencialismo; sem a celebração da fé, a missão perde-se a turismo sem horizonte.

Diz-nos D. François-Xavier Bustillo, em A vocação do padre perante as crises. A fidelidade criativa (Fátima: Secretariado Nacional de Liturgia, 2022) que uma das “páscoas” que precisamos de desenvolver na pastoral hodierna é da função à missão ou pastoreio. A função pode orientar o homem moderno, e também o padre, para uma vida artificial. Mas a vida não é uma comédia. A nossa fé e a nossa missão não põem no centro as personagens, mas as pessoas concretas. Não podemos ficar a olhar para o dedo que aponta ─ os símbolos ─, mas para a realidade que ele nos chama a contemplar ─ o Mistério. O Senhor deve ser recolocado no centro da nossa vida missionária para redescobrirmos o sentido e o sabor da vida sacerdotal. Ele chamou-nos gratuitamente para uma vida exigente e apaixonante. Não estamos nesta missão porque decidimos fugir de um mundo cruel, nem procurar o conforto de uma vida mais fácil, mas para responder ao apelo de Jesus que nos desloca e recoloca. Exemplo disso é o chamamento de Levi/Mateus, em que Jesus faz sair de uma função para o iniciar numa missão (cf. Mt 9,9-13). A visão decifrada por Daniel (Dn 2,31-35) mostra-nos que da cabeça aos pés não se podem misturar materiais incompatíveis: ferro e barro não combinam (como o funcionalismo e a missão da Igreja). Todo o nosso ser é convocado para a responsabilidade missionária. Ainda que tenhamos ideias nobres na cabeça, o perigo espreita sempre para empreender na descida do corpo uma perda sucessiva de nobreza.

A celebração da Páscoa será luz para cada um de nós, na medida em soubermos/quisermos tirar o mal do meio de nós e nos dermos aos outros com o que somos e temos.

O jejum é o que nos permite ver a presença na ausência, jejuando da presente aparência. A realização do bem é a evocação da presença de Deus

Is 58, 1-9a; Mt 9, 14-15

Observamos com a ajuda de Isaías que o povo estava ausente quando Deus estava presente; e quando Deus parecia estar ausente, o Povo reclamava a presença, pedindo-Lhe sentenças justas. Por isso, questionavam a validade do jejum, vivendo-o e apresentando-o como um fim em si mesmo, quer dizer, com uma moeda de troca por bens perecíveis e a curto prazo. Fazer jejum não é um descargo de consciência diante da corrida para os negócios e a opressão dos servos. Jejuar no meio de contendas é escolher mal o conteúdo ou matéria do jejum.

É Jesus que nos ensina o verdadeiro “jejum que agrada ao Senhor”, já anunciado pelo profeta:

…quebrar as cadeias injustas, desatar os laços da servidão, pôr em liberdade os oprimidos, destruir todos os jugos? …repartir o teu pão com o faminto, dar pousada aos pobres sem abrigo, levar roupa aos que não têm que vestir e não voltar as costas ao teu semelhante?

Versículos 6-7

Esta formulação dos conteúdos do jejum em modo de perguntas, faz com que o Senhor apele à liberdade, colocando os seus ouvintes entre as fragilidades e a respetiva cura, esperando uma decisão consciente e livre.

Então a tua luz despontará como a aurora, e as tuas feridas não tardarão a sarar. Preceder-te-á a tua justiça e seguir-te-á a glória do Senhor. Então, se chamares, o Senhor responderá; se O invocares, dir-te-á: “Estou aqui”».

Versículos 8-9a

No presente daquele povo, o Senhor promete o que na sua aparente ausência cumprirá, aos olhos da fé. Em outras reflexões homiléticas descobrimos que os milagres pressupõem a fé e a fé pressupõe a Sagrada Escritura. Por sua vez, esta pressupõe o jejum. Jejum de palavras inúteis, jejum de maus desejos, jejum de más ações. Só quando o nosso intelecto, a nosso afeto e a nossa vontade estiverem voltados para o Senhor, disponíveis, é que estaremos predispostos a viver aqueles bens que o Senhor nos promete.

Os três parâmetros que a antropologia cristã também assina sobre a dinâmica do desenvolvimento humano, estão presentes no Evangelho de hoje: as etapas (do discipulado), a presença (do “esposo” Jesus) e a ausência (o tempo da Igreja em que nos foi enviado o Espírito Santo).

O que temos, hoje, para oferecer ao Senhor é o nosso coração humilhado e contrito, por olharmos num curto alcance e por termos as pernas curtas. Peçamos-Lhe que Ele não o despreze, por sabermos ser o nosso centro de paixões e decisões que determinam o sentido da nossa vida entre a oferta divina de vida eterna e a nossa liberdade esclarecida.

A perfeição do amor cristão experimenta-se numa presença desarmada diante dos outros

Lv 19, 1-2. 17-18; 1Cor 3, 16-23; Mt 5, 38-48VII Domingo do Tempo Comum A

Há três domingos que caminhamos sobre os cumes vertiginosos do sermão da montanha, no qual Jesus nos apresenta um caminho extraordinário, superando alguns aspetos do Antigo Testamento, para tornar patente o que nos Textos Sagrados se anuncia. Diante das palavras de Jesus o mundanismo espiritual leva-nos à facilidade de adocicarmos a Palavra de Deus.

Jesus faz uma reformulação da Lei: «Ouvistes que foi dito aos antigos… Eu, porém, digo-vos…”. Sendo que o que foi dito aos antigos se refere aos textos legislativos do Antigo Testamento, qual será o sentido das palavras de Jesus? A atitude foi sempre a de completar a Lei, levando os homens a cumpri-la a fundo. Ele pretende reavivar a força da Lei para nos reconduzir a Deus, uma vez que os desvios nos afastam sempre d’Ele e dos irmãos.

No evangelho de hoje, Jesus apresenta-nos umas quantas situações práticas. Na forma como lidamos com elas somos levados a descobrir como lidamos com as outras pessoas. Face-outra face e não murro; túnica-manto e não tribunal; na obrigação inoportuna, duas milhas em vez de uma; pedido-empréstimo e não virar costas; amar e orar pelos inimigos e não odiá-los. Estão aqui formas práticas de caminharmos à luz das Bem-aventuranças, indo por um caminho que não seja o da violência, muitas vezes sugerida pela justiça humana. A justiça de Deus tem outro sentido e alcance: parecer-nos com Deus. A forma de Jesus no-lo mostrar na prática foi, com palavras compassivas, desarmar situações de violência através de palavras e ações benevolentes. Como dizia Hanna Arendt, as palavras e ações de Jesus «arrancam-nos dos círculos viciosos, quebra a compulsão de repetir o que sofreu nos outros, rasga a corrente da culpa e da vingança, quebra as simetrias do ódio».

A presença de Cristo no meio da humanidade e a sua forma de lidar com as diversas situações formam a ética cristã, que não tem outra fonte mais acertada. Ele é «clemente e cheio de compaixão, paciente e cheio de bondade», como se reza através do Salmo 103,8. As nossas relações com o próximo são o barómetro da nossa forma de correspondermos à perfeição que Deus vive, para a qual nos oferece meios adequados às nossas circunstâncias.

Jesus radicaliza as exigências do Antigo Testamento. O seu intuito é travar o ciclo de violência gerado por algumas falsas interpretações da Lei. Onde a Lei de Moisés via uma possibilidade de retaliação da violência, Jesus manda entrever a possibilidade de pôr fim ao círculo da violência. Onde a Lei de Moisés não via para além de um círculo de amizades e possibilitava o ódio, Jesus vê apenas a saída do amor, recomendando o amor incondicional a todos, à imagem do Pai dos céus que para todos, sem exceção, faz nascer o sol ou cair a chuva.

Jesus, hoje, pede que façamos algo de extraordinário e nos destaquemos das formas calculistas de amor. É um amor sem fronteiras que Ele nos propõe. É esta a identidade da Igreja. Hoje somo chamados a dizer palavras e a fazer ações benevolentes sem calcular se as pessoas merecem ou não. Aliás, o caminho sinodal está a demonstrar-nos, através do diálogo com outras comunidades longínquas, que ou a Igreja encontra aliados sem arrogância ou pode correr o risco de fazer com que o Tesouro que transporta deixe de ter significado para a humanidade de hoje. E aquele Tesouro é o suplemento de amor que só pode vir de Deus e, não obstante ser imerecido pela humanidade, é para ser transmitido a todos, sem exceção.

O convite a seguir Jesus está aberto a todos, sem aceção de pessoas. Há que perder algo para que chegue a todos!

Gn 11, 1-9; Mc 8, 34 – 9,1; comentário inspirado em VV.AA. Comentáros à Bíblia Litúrgica. Assafarge: Gráfica de Coimbra 2, 2007.

Ter vergonha de Jesus levará a que Jesus possa vir a ter vergonha de nós. A solução é perder algo no confronto com os outros, para virmos a ganhar no confronto com Jesus.

Como vimos ontem, há uma “cristologia satânica” que leva a uma “eclesiologia satânica”. Aquela apresenta Jesus como sacerdote poderoso ou também como aliado do poder político que deriva na apresentação de uma Igreja como comunidade de poder sacerdotal ou uma comunidade sacerdotal aliada com o poder. Hoje sabemos bem, desgraçadamente, no que derivam os abusos de poder e de consciência, dos quais derivam os abusos sexuais.

O dualismo salvar e perder a vida, na linguagem de Jesus, levou, posteriormente, a uma mística platonista que derivou na dicotomia “corpo” e “alma”, de teor masoquista que levou a uma cosmovisão negativa: tudo o que teria que ver com a alma é bom e tudo o que teria a ver com o corpo é mau. Daqui deriva a “mortificação” como bem absoluto, pensando alguns que ela produzisse automaticamente a certeza da “salvação da alma”. Os ensinamentos de Jesus levam-nos a seguir um caminho diferente: os grandes sinais da sua vida são libertadores em sentido perfeitamente corporal: saciar a fome, obter a cura, superar a angústia e, inclusivamente, ultrapassar a morte.

O segredo da vida cristã está em superar o poder egoísta, colocando tudo o que somos e temos, seja a nível dos bens espirituais, como dos corporais, ao serviço da edificação e defesa da dignidade humana.

A fé pressupõe o seguimento de Jesus na senda das Escrituras

Gn 9, 1-13; Mc 8, 27-33

Ontem, com a cura do cego de Betsaida, concluíamos que os milagres pressupõem a fé em Jesus. Com a consulta de Jesus aos seus discípulos sobre a Sua identidade, aprendemos que a fé pressupõe um conhecimento aprofundado das Escrituras, onde está prefigurada a entrega de Jesus Cristo como servo sofredor.

Enquanto que as multidões ainda viam mal a identidade de Jesus, como aquele cego de Betsaida antes da cura total da visão via homens como “árvores”, Pedro já via qualquer coisa ─ «Tu és o Messias» ─ mas parece que estava com um “descolamento de retina”, quer dizer, sabia intelectualmente bem que Jesus era o Messias de Deus, mas, emocionalmente, estava marcado pelos triunfalismos e nacionalismos da sua gente. Ele não erra no alvo, mas não acerta no centro: Jesus tinha de sofrer, antes da vitória da ressurreição.

É curioso que o episódio de hoje entra em contraste com o de ontem (Mc 8,22-26): enquanto que Jesus, para curar o cego, afasta-o daquela localidade para um “pedaço de Céu”, onde vigoram os procedimentos próprios de um Deus que Se aproxima para tocar a vida do homem e a sanar, no episódio de hoje, Pedro afasta o Senhor do caminho do Céu para a lógica terrena para O contestar. Por isso, Jesus diz-lhe “vai-te Satanás”, melhor traduzido: Pedro, põe-te atrás de Mim e segue-me. Doravante, o seguimento ou discipulado nunca deixará de ser identitário na vida de um crente. Só assim é que poderá haver missão, igualmente parte do estar e sair em Igreja. Segundo Jesus, a missão da Igreja assenta na teologia do Filho do homem, da qual Pedro ainda é só um mero aprendiz.

Na primeira leitura do Livro do Génesis, temos como que um “terceiro” relato da criação, em que Deus exorta a Noé e aos seus filhos que sejam fecundos e que dominem a terra. Aparece três vezes a expressão “pedirei contas” e três vezes a palavra “aliança”. Está aqui prefigurada a atitude de Jesus diante dos seus discípulos: para que haja nova aliança, é preciso prestar contas no caminho para os bens prometidos, sem subterfúgios ou desistências apoiadas na lógica humana.

Para se aceitar o grande e definitivo milagre da Ressurreição é preciso viver uma fé não triunfalista, apoiada na vivência do que dizem as Escrituras que têm como máxima autoridade o que Cristo viveu e ensinou com as suas palavras e ações.

Os milagres pressupõem a fé e professam o altruísmo

Gn 8, 6-13. 20-22; Mc 8, 22-26; reflexão apoiada em VV.AA., Comentáros à Bíblia Litúrgica, Gráfica de Coimbra 2, Assafarge 2007, 987-989.

O evangelista Marcos relata-nos a cura de um cego por parte de Jesus, num contexto pastoral em que se pretendia pôr em evidência a cegueira dos fariseus e dos próprios discípulos. Os gestos que Jesus realiza para restaurar a visão daquele homem de Betsaida, longe de parecerem mágicos, são declarados como sendo uma linguagem tátil que era a única que o pobre cego podia compreender.

Estamos diante de uma cura que se processa em dois tempos: num primeiro momento, o cego vê um pouco confusamente e confunde os homens com as árvores, como fazem normalmente as crianças nos primeiros desenhos; num segundo momento a cura é completa. Estamos a contemplar um milagre que se adapta ao curso normal da recuperação natural. Uma coisa é certa, Jesus não quer consequências triunfalistas com as ações que faz, recomendando ao que agora vê de não entrar na localidade. Convite que também nos pode fazer crer que aquela localidade não era boa para a saúde da visão espiritual, prejudicada por ambições “psicadélicas”.

Jesus podia ser um taumaturgo em virtude de extraordinárias faculdades psico-físicas ou em virtude de uma força estritamente sobrenatural. Mas, reparemos que Jesus, na sua ação, não concentrou a atenção nas suas capacidades! Realizou alguns procedimentos práticos e concentra a sua atenção no paciente: “Vês alguma coisa?”. Se Jesus tivesse concentrado a sua atenção nas suas capacidades, ficaria frustrado à primeira. Mas Ele não está centrado em si, mas no que sofre. Então, não desiste dele, impondo-lhe outra vez as mãos até que o cego veja bem. E agora, vês bem? ─ Ter-lhe-á perguntado para saber se estava melhor e não para ver comprovados os seus poderes. Quantas vezes eu desisto à primeira, por estar tão preocupado na validade dos meus talentos?

Conheci uma religiosa que um dia me testemunhou, após uma formação exaustiva para a direção espiritual, não ter recebido qualquer certificado de participação ou título de reconhecimento que ajudasse a demonstrar as suas competências para acompanhar. Ela estava alegre só com aquilo que os formadores lhe tinham dito: “o certificado ou reconhecimento ser-te-á dado quando te aparecerem casos de acompanhamento. Aí, sim. É a prática aturada do acompanhamento para o bem das pessoas, sem desistências, que será o teu melhor certificado”.

Não é só o cego que recupera a vista que precisa de ter cuidado de não frequentar ambientes ou desejos que estraguem a visão; também os que possuem dons são chamados a não entrarem na localidade da presunção de possuir qualidades divinas. Os milagres não se enquadram dentro de uma cristologia triunfalista. Pelo contrário, são testemunhos ou sinais da vinda do Messias e devem ser relatados discretamente por aqueles que deles foram destinatários. A vida cristã sobrevive à beira do “segredo messiânico”; os crentes não têm de medir forças com os descrentes a propósito dos milagres, mas podem dar testemunho do encontro com Jesus que cura e salva. A experiência espiritual cristã (melhor nome para a teologia da vida espiritual) é uma ciência descritiva, em que a fé, que não vem dos milagres, é pressuposto de quem abre o coração à providência da graça de Deus. Embora não possamos provar racionalmente os milagres, podemos acreditar no poder sobrenatural de Deus, descrevendo o que Ele, por A mais B, é capaz de fazer na nossa vida, acima das nossas forças humanas, nas diversas circunstâncias.

A forma de Jesus proceder está prefigurada em Noé, que teve a paciência de esperar sete dias, em quem podemos descobrir que para a pastoral na Igreja podem ser mais fecundos processos de descoberta criativa do que declarações de qualidades patenteadas que não ajudam a criar nada. Tanto a Criação como a Nova Criação aconteceram por etapas. Continua a ser assim hoje, na vida da comunidade da Igreja, como na vida pessoal de cada crente.

“Ide por todo o mundo e anunciai o Evangelho” é apanágio (privilégio) da fidelidade criativa e do realismo esperançoso do Cristianismo

At 13, 46-49; Sl 116 (117), 1. 2; Lc 10, 1-9 ─ Na Festa dos Santos Cirilo e Metódio, copatronos da Europa

Já no século IX se viveu na missão da Igreja uma das tensões generativas hoje levadas a sério no discernimento sinodal que está presente hoje concretamente na Europa: a adequação das linguagens da comunicabilidade da fé à compreensão dos contemporâneos de diferentes culturas. Dentro da Doutrina Social da Igreja prefere-se falar da conceção analógica do ser do que da sua alternativa conceção unívoca. Esta deita por terra qualquer possibilidade de traduzir a mesma verdade em diferentes línguas para que chegue a um maior número, como é atributo do acontecimento do Pentecostes.

Os irmãos Cirilo e Metódio fizeram com os eslavos o que Tolkien fez com a comunidade pós-guerra: a criação de um alfabeto para transmitir os valores do Evangelho, de forma a que os mesmos fossem compreensíveis pela humanidade num determinado contexto. Apesar de aqueles dois irmãos terem traduzido o Evangelho e os textos litúrgicos (já naquele século!), foram considerados heréticos por não celebrarem Missa em latim, problema ultrapassado pelo Papa Adriano II, que lhes deu razão. O Apóstolo Paulo sofreu alto de parecido com a tradução para grego popular na evangelização dos gentios. Paulo dominava o chamado code-switching, isto é, passava de um a outro registo linguístico para evangelizar a um maior número. E os escritos dos cristãos C.S. Lewis e Tolkien valorizados com a linguagem do cinema! Portanto, uma linguagem inclusiva no caminho da verdade. Jesus já a utilizava, tendo várias formas de se expressar consoante o seu público (a todos em parábolas, em particular com explicações e exortações, etc.). É pena que as invejas geradas nestas tensões gerem equívocos que são veneno para a própria evangelização, que fizeram os santos Cirilo e Metódio sofrer uma forma de “martírio branco” (cf. Liturgia das Horas).

O Evangelho que Jesus convida a anunciar é o Evangelho da Paz. E todos somos poucos para o anunciar. E a primeira condição para que ele possa ser acolhido é haver “gente de paz”, quer dizer, pessoas com a predisposição para caminharem à luz dessa Paz enviada por Cristo. Depois, o método é “mais de Deus e menos de mim”. Não nos devemos perder em preciosismos e perfeccionismos que geram ansiedade (= traços insanos de personalidade ou tendências involuntárias que nos levam a comportar-nos ou a reagir de modo desproporcionado e que nos fazem dano a nós e aos outros), se quisermos ser anunciadores do Evangelho. É preciso curar e dizer que o Reino de Deus está perto!

Como aprendemos em Doutrina Social da Igreja, professamos a possibilidade de que ninguém seja excluído do anúncio da verdade que edifica e dignifica o ser humano. Como os gentios se encheram de alegria, glorificando a Palavra do Senhor proclamada pelo Apóstolo Paulo, que muitos homens e mulheres do nosso tempo possam ter acesso à verdade do Evangelho traduzida pela nossa maneira de viver que, como alguém dizia, para algumas pessoas será única forma a que lhe terão acesso. Não falar de forma a que as pessoas entendam é uma das sub-reptícias formas de indiferença e não há nada mais caro do que aquilo que somos chamados a facultar de graça.

Uma das formas de abuso de poder pode ser possuir a sabedoria e delimitar o caminho da mesma a um mínimo número de pessoas, codificando essa sabedoria para tirar proveito dela mais tarde. Fakenews não são só a veiculação de mentiras, mas também o encobrimento das verdades. Formas de desinformação que atrasam o desenvolvimento humano e as ações de amor que necessitam de ser praticadas em favor da sua dignidade. Se o nosso trabalho não tiver em vista o bem integral da pessoa e estiver mais preocupado pela defesa da instituição, acontecem as deepfakes, formas ainda mais graves e subliminares de controle religioso e social.

Anselm Grün, em “Poder, Uma força sedutora“, elencando como fontes a matéria, a origem, a maioria, o conhecimento, os sentimentos, a função, os contactos, as convicções, e os locais casa, mercado, castelo e templo, avisa-nos que tudo pode ser utilizado para convencer e levar a uma vida saudável ou, então, ser exercidos como poder que assusta as pessoas. A questão do poder, portanto, não se trata de saber se há poder ou não, mas como é que ele é exercido desde aquelas fontes e naquelas áreas da vida humana. Do ponto de vista pastoral, nunca se abusará do poder se se escutarem as pessoas e se for ao encontro da satisfação das suas necessidades mais básicas de humanização. Tudo o que for contra este alicerce será um abuso.

Numa das etapas da história da formação presbiteral encontramos uma tendência intitulada por Amedeo Cencini de “módulo único”, ou seja, o facto de um sacerdote se especializar numa determinada área da pastoral e defendê-la como absoluta, o que gera fragmentações da integralidade do que é ou deve ser a vida cristã. Não obstante o valor da especialização numa determinada área, que ajuda a aprofundar e a levar dons à prática, a falta de correspondência com as outras áreas pode levar à fragmentação do povo de Deus que se é chamado a servir como um corpo. A situação de um dom vivido numa tentativa obsessiva de profundidade, sem relação com Quem o doa na perspetiva da rentabilização em favor dos outros pode ser também considerada uma deepfake. Quem transporta boas notícias não deve ter medo de as traduzir no maior número de línguas possível, tendo, para isso, de pedir ajuda a colaboradores que traduzam.

Hoje celebra-se, a nível social, o Dia Internacional da Doação de Livros. Penso ser esta uma forma de ajudar as outras pessoas a fazer caminho para a verdade: oferecer livros bons, sobretudo que nos tenham feito crescer a quem os oferece.

Oferecer a Deus sacrifícios de louvor ajuda-nos a reagir às circunstâncias da vida de forma mais purificadora e pacificadora. Da fraternidade umbilical à fraternidade universal

Gn 4, 1-15. 25; Mc 8, 11-13

O que aconteceu entre os irmão Caim e Abel repetiu-se e repete-se hoje em dia entre os irmãos de sangue e de humanidade. Na interpretação do texto de Gn 4, é básico afirmar que a criatura que põe de lado o seu Criador, substituindo-O, mais tarde ou mais cedo acaba por cometer algum tipo de “fratricídio”. Quem é contra a linguagem da “fraternidade universal” acaba por esconder um certo ressentimento “caínico” (relativo a Caim). E a culpa nem está em Deus, nem em Abel. Como Jesus referiu, não é o que está fora que torna impuro o ser humano, mas o que sai de dentro do seu coração (cf. Mc 7,15).

O hábito de rezar os Salmos na Liturgia das Horas poupou muitos clérigos e religiosos, que a devem rezar por dever, e muitas outras pessoas de cometer “fratricídios”, pelo menos, através de palavras ou ações de algum modo “mortíferas”. Rezar salmos é como “oferecer sacrifícios de louvor”, quer a vida corra bem, quer a vida corra mal. Com as bem-aventuranças (cf. Mt 5,1-12), Jesus garantiu-nos que qualquer ponto de partida menos bom pode ser um início de superação e caminho para uma vida bem conseguida.

Temos vindo a acompanhar o debate entre a obsessão dos escribas e fariseus pela observância das Leis (sem revisão, nem discernimento, nem confronto) e a autoridade divina das palavras e modo de proceder de Jesus. Para Jesus há o completar da lei para viver em plenitude, desde o coração; para os escribas há um mero cumprimento externo da Lei. Para os escribas vale a lei sem Deus; para Jesus, o Pai é o princípio de toda a lei. Excluir Deus como fonte inesgotável de vida que se renova e nos renova constantemente é excluir os outros como irmãos de uma mesma família, criando grupos ou estratos sociais. A este respeito, infelizmente, não é difícil constatar que a afirmação de classes sócio-económicas se projeta na Igreja criando e defendendo a existência de grupos. Pode afirmar-se que é uma forma mais fácil de viver o Evangelho, mas na verdade, o motivo principal é a influência social, o Evangelho viria depois. Ora, se o Evangelho não vier primeiro, Deus e os irmãos ─ que Jesus coloca ao mesmo nível de avaliação moral ─ ficaram em segundo plano, reservando-se para primeiro os interesses pessoais ou grupais. Nestes grupos, é evidente a obsessão por “sinais” que não são os “sinais dos tempos” a que se refere o Magistério da Igreja, mas os identificativos ou patenteadores da pertença a um certo grupo. Ocupados que estão na autorreferencialidade, desde a autossuficiência, não perceberão dos sinais que Jesus possa realizar entre todos. A este respeito, a pastoral da Igreja segue/deve seguir outro sentido, mesmo que a partir de dinâmicas de grupos.

Jesus convida os discípulos a deixar essas margens, subindo para o barco da Igreja, chamada a renovar-se e a purificar-se das tendências sociais que desumanizam, e a partir para outra margem. Esta margem, apoiada no Evangelho e refletida hoje à luz do Espírito Santo, sob a autoridade reconhecida do Magistério da Igreja, põe de lado todo o tipo de ações que possam ferir a humanidade, toda a humanidade. Não basta tender a gostar de toda a Bíblia e de todo o Magistério e, depois, não amar toda a humanidade. Deus está acima de todos nós e não O podemos adorar só a pensar numa parcela de humanidade, nem mesmo deixando de fora os inimigos (cf. Mt 5,44).

Na abertura da assembleia sinodal em Praga, Tomáš Halík, na sua introdução espiritual, aconselha que

A Igreja precisa de aliados, se souber abordá-los sem arrogância. Se a Igreja quer contribuir para a transformação do mundo, tem de se transformar a si mesma de modo permanente. (…) O lado negro da globalização está a manifestar-se hoje. Pense-se na propagação global da violência, desde os ataques terroristas aos Estados Unidos em 2001 até ao terrorismo de estado do imperialismo russo e ao atual genocídio russo na Ucrânia; pandemias de doenças infeciosas; a destruição do ambiente natural; à destruição do clima moral através do populismo, fake news, nacionalismo, radicalismo político e fundamentalismo religioso.

Convocando a figura do jesuíta Teilhard de Chardin (1881-1955), chamou-o um dos primeiros profetas da mundialização, para quem

a única força que une sem destruir” não é o progresso ou o desenvolvimento, mas o amor, tal como surge testemunhado nos evangelhos.

Halík acredita que este é, assim,

um momento decisivo, a viragem do cristianismo para a sinodalidade, a transformação da Igreja numa vibrante comunidade de peregrinos, que pode ter impacto sobre o destino de toda a família humana. (…) Será que o cristianismo europeu tem hoje a coragem e a energia espiritual para evitar a ameaça de um ‘choque de civilizações’, transformando o processo de globalização num processo de comunicação, partilha e enriquecimento mútuo, numa civitas ecumenica, uma escola de amor e fraternidade universal?

A proteção do Senhor paira sobre o Caim de todos os tempos, não obstante o ato que o fez desertar da primeira experiência de fraternidade a que poderíamos chamar de “umbilical”. Doravante, com a experiência da memória do mal feito, num ímpeto de conversão livre para o bem proposto, somos todos chamados a (re)construir a fraternidade universal.

Os mandamentos do Senhor são sempre co-mandamentos. Realizar na perfeição a vontade de Deus neste mundo implica abrir a ferida, curar e soturar

Sir 15, 16-21 (15-20); 1Cor 2, 6-10; Mt 5, 17-37VI Domingo do Tempo Comum (A)

Se soubéssemos o dom de Deus que está na “árvore da vida”, da qual não foi nem é proibido saciarmo-nos ─ a Palavra de Deus, os Sacramentos e a Caridade ─ não faríamos do caminho da fé uma “religião de leis”. A causa desta tendência é o facto de teimarmos em ficarmos especados a olhar para a “árvore do conhecimento do bem e do mal”. Muito embora o Cristianismo tenha nascido no seio do Judaísmo, a vida em Cristo é uma proposta e uma tentativa de resolução do debate entre a autoridade divina de Jesus ─ gestão da Graça ─ e a dependência na obsessão do mérito pessoal ─ gestão do cumprimento de leis. São Paulo empenhou-se na gestão deste debate até ao fundo.

Não é que não deva haver uma declaração de fronteiras, sobretudo aquelas para além das quais a vida humana se perde, delimitando o ambiente em que se recebe e protege a vida. Quem não viu o filme animado do Rei Leão, em que o pequeno Simba pergunta ao Mufassa seu pai, que zona escura é aquela nos confins do seu reino? O rei da selva rapidamente recomenda ao filho herdeiro que não deve invadir aquele espaço, por causa do risco de perder a vida. E o fruto proibido é sempre o mais apetecido, pois o seu tio ressentido acaba por servir de “serpente” ao seu sobrinho, entusiasmando a desobedecer ao pai, que acaba por morrer ao salvá-lo. Está claro que é preciso haver fronteiras.

Infelizmente, com a colocação obsessiva da atenção na religião como mero cumprimentos de leis ou proibições, esquecemo-nos de dar atenção ─ a mais proveitosa, positiva e importante ─ em como habitar o espaço de onde se recebe e desenvolve a vida e a saúde física, psicológica e espiritual. Como habitar criativamente a vida, como criaturas?

O caminho é “abusarmos” em comer o fruto da árvore da vida, do qual Deus não nos proibiu de comer. É Jesus, na sua Palavra, nos Sacramentos e na Caridade. Deixar de visitar tanto a “árvore do conhecimento do bem e do mal”, do qual Deus nos proibiu de comer, porque só Ele é Deus.

Este é o cerne do confronto entre Jesus e os escribas. Estes estavam sempre a apontar para as leis, mesmo que delas não dessem exemplo. Jesus estava sempre a apontar para o Pai. Os escribas ignoravam que a vocação humana é um caminho de diálogo entre duas autoridades ─ a sabedoria do amor Deus e a vontade da liberdade humana ─ a partir das coisas pequenas e concretas da vida no confronto com os outros. Os mandamentos do Senhor são co-mandamentos (como sugere o inglês commandments). O que Ele manda, Ele vive, acompanhando-nos no crescimento para aonde nos quer levar.