Naquele verdadeiro trono de glória, não sentados, mas crucificados, ali estavam aqueles a quem estava reservado

(A propósito de Marcos 10, 35-45)

Pode escandalizar-vos uma leitura literal da Sagrada Escritura que me leva a descrever o Evangelho de hoje no título e imagem deste post. No entanto, não me escandaliza menos a vontade desmedida de poder daqueles dois discípulos em relação aos outros dez que ficaram indignados (não sei se por ferirem a autoridade do Mestre ou se por terem inveja do objeto pedido ou do atrevimento com que o fizeram).

Nos três anúncios da Paixão-Morte-Ressurreição, que conhecemos relatados pelo evangelista Marcos, sabemos que os discípulos acompanharam Jesus fisicamente, mas o seu caminho interior foi lento e um tanto enviesado: na primeira ocasião, Pedro quis afastar Jesus do seu projeto (“obrigando” Jesus a colocar Pedro atrás d’Ele, uma vez que não estava caminhas de caminhar lado-a-lado); na segunda ocasião, os discípulos discutiam entre si qual deles era o maior (“obrigando” Jesus a colocar diante deles uma criança como modelo para a entrada no Reino); na terceira ocasião (hoje proclamada na Eucaristia dominical), dois pedem os melhores lugares, sem saber o que pedem (“obrigando” Jesus a declarar-lhes um estilo de vida pautado pelo serviço e não pelo poder).

Afinal, quem é o verdadeiro Mestre? E quem são os verdadeiros servidores? Qual será o verdadeiro poder a imitar pelos discípulos de Jesus: o da potestas ou o da diaconia? (cf. GRÜN, Poder, uma força sedutora, 15)

Daqui em diante, faz-nos bem rezar pelo sucesso (divino e não mundano) do Sínodo dos Bispos 2020-2023, que tem por tema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”, para alinharmos todos a nossa vida interior (e a correspondente exterior, social, civil, eclesial…) pela proposta do Mestre, sem lhe impormos nada, mas acolhendo os desígnios de amor de Deus para toda a humanidade, também hoje “crucificada” por tantos abusos de poder.

Eis-nos aqui, diante de Vós, Espírito Santo!
Eis-nos aqui, reunidos em vosso nome!

Só a Vós temos por Guia:
vinde a nós, ficai connosco,
e dignai-vos habitar em nossos corações.
Ensinai-nos o rumo a seguir
e como caminhar juntos até à meta.

Nós somos débeis e pecadores:
não permitais que sejamos causadores da desordem;
que a ignorância não nos desvie do caminho,
nem as simpatias humanas ou o preconceito nos tornem parciais.

Que sejamos um em Vós,
caminhando juntos para a vida eterna,
sem jamais nos afastarmos da verdade e da justiça.

Nós vo-lo pedimos
a Vós, que agis sempre em toda a parte,
em comunhão com o Pai e o Filho,
pelos séculos dos séculos.
Ámen.

Com o Nascimento de Maria, o Amor prepara as entranhas da Salvação

[Leitura] Miq 5, 1-4a ou Rom 8, 28-30; Mt 1, 1-16. 18-23; LUMEN GENTIUM

[Meditação e Oração] No Capítulo VIII da Constituição Dogmática Lumen Gentium, que descreve o papel da «Bem-aventurada Maria Mãe de Deus no Mistério de Cristo e da Igreja», podemos encontrar as introduções aos cinco mistérios da Vida de Maria, que ainda antes dos Mistérios da Vida de Cristo (da Alegria, da Luz, da Dor e da Glória) poderíamos (sem a ousadia de os querer inaugurar) recitar os Mistérios da Esperança. Na verdade, na natividade de Maria, nasceu a verdadeira esperança da humanidade. Não é à toa que, na Igreja, a invocamos como Nossa Senhora da Esperança nas “entranhas” da Igreja em que se formam e geram os que servem no Ministério. De facto, toda a missão da Igreja, em que, à imitação de Maria, muitos se deixam amar e servem o Amor de Deus, através de uma vida de consagração, estendem essas “entranhas” do Espírito para que a Redenção possa culminar na Salvação de toda a humanidade. Sobretudo a pensar nos jovens que acolhem o Espírito do chamamento do Senhor para a possibilidade a virem a consagrar-Lhe a vida, partilham-se as seguintes meditações que podem iluminar a oração mariana de hoje:

1º Mistério: A Imaculada Conceição. Maria encontra-se já profeticamente delineada na promessa da vitória sobre a serpente, feita aos primeiros pais caídos no pecado. Ela é, igualmente, a Virgem que conceberá e dará à luz um Filho, cujo nome será Emmanuel. (LG 55) Ao passo que, na Santíssima Virgem, a Igreja alcançou já aquela perfeição sem mancha nem ruga que lhe é própria, os fiéis ainda têm de trabalhar por vencer o pecado e crescer na santidade; e por isso levantam os olhos para Maria, que brilha como modelo de virtudes sobre toda a família dos eleitos. A Igreja, meditando piedosamente na Virgem, e contemplando-a à luz do Verbo feito homem, penetra mais profundamente, cheia de respeito, no insondável mistério da Encarnação, e mais e mais se conforma com o seu Esposo.  (LG 65) A Mãe de Jesus, assim como, glorificada já em corpo e alma, é imagem e início da Igreja que se há-de consumar no século futuro, assim também, na terra, brilha como sinal de esperança segura e de consolação, para o Povo de Deus ainda peregrinante, até que chegue o dia do Senhor. (LG 68)

2. Natividade. Unida a Ele [Cristo] por um vínculo estreito e indissolúvel, foi enriquecida com a excelsa missão e dignidade de Mãe de Deus Filho; é, por isso, filha predilecta do Pai e templo do Espírito Santo, e, por este insigne dom da graça, leva vantagem a todas as demais criaturas do céu e da terra. (LG 53) O Pai das misericórdias quis que a aceitação, por parte da que Ele predestinara para mãe, precedesse a encarnação, para que, assim como uma mulher contribuiu para a morte, também outra mulher contribuísse para a vida. É o que se verifica de modo sublime na Mãe de Jesus, dando à luz do mundo a própria Vida, que tudo renova. Deus adornou-a com dons dignos de uma tão grande missão; e, por isso, não é de admirar que os santos Padres chamem com frequência à Mãe de Deus «toda santa» e «imune de toda a mancha de pecado», visto que o próprio Espírito Santo a modelou e d’Ela fez uma nova criatura. (LG 56)

3. Anunciação. Efectivamente, a Virgem Maria, que na anunciação do Anjo recebeu o Verbo no coração e no seio, e deu ao mundo a Vida, é reconhecida e honrada como verdadeira Mãe de Deus Redentor. Remida dum modo mais sublime, em atenção aos méritos de seu Filho, e unida a Ele por um vínculo estreito e indissolúvel, foi enriquecida com a excelsa missão e dignidade de Mãe de Deus Filho; é, por isso, filha predilecta do Pai e templo do Espírito Santo, e, por este insigne dom da graça, leva vantagem á todas as demais criaturas do céu e da terra. (LG 53) Enriquecida, desde o primeiro instante da sua conceição, com os esplendores duma santidade singular, a Virgem de Nazaré é saudada pelo Anjo, da parte de Deus, como «cheia de graça»; e responde ao mensageiro celeste: «eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra». (LG 56)

4. Apresentação. Com ela, excelsa Filha de Sião, passada a longa espera da promessa, se cumprem os tempos e se inaugura a nova economia da salvação, quando o Filho de Deus dela recebeu a natureza humana, para libertar o homem do pecado com os mistérios da Sua vida terrena. (LG 55) Quando O apresentou no templo ao Senhor, com a oferta dos pobres, ouviu Simeão profetizar que o Filho viria a ser sinal de contradição e que uma espada trespassaria o coração da mãe, a fim de se revelarem os pensamentos de muitos. (LG 57) Exaltada por graça do Senhor e colocada, logo a seguir a seu Filho, acima de todos os anjos e homens, Maria que, como mãe santíssima de Deus, tomou parte nos mistérios de Cristo, é com razão venerada pela Igreja com culto especial. (…) Na verdade, as várias formas de piedade para com a Mãe de Deus, aprovadas pela Igreja, dentro dos limites de sã e recta doutrina, segundo os diversos tempos e lugares e de acordo com a índole e modo de ser dos fiéis, têm a virtude de fazer com que, honrando a mãe, melhor se conheça, ame e gloria fique o Filho, por quem tudo existe e no qual «aprouve a Deus que residisse toda a plenitude», e também melhor se cumpram os seus mandamentos. (LG 66)

5. Assunção. É a primeira entre os humildes e pobres do Senhor, que confiadamente esperam e recebem a salvação de Deus (LG 55), Aquela que na santa Igreja ocupa depois de Cristo o lugar mais elevado e também o mais próximo de nós (LG 54). Depois de elevada ao céu, não abandonou esta missão salvadora, mas, com a sua multiforme intercessão, continua a alcançar-nos os dons da salvação eterna. Cuida, com amor materno, dos irmãos de seu Filho que, entre perigos e angústias, caminham ainda na terra, até chegarem à pátria bem-aventurada. Por isso, a Virgem é invocada na Igreja com os títulos de advogada, auxiliadora, socorro, medianeira. Mas isto entende-se de maneira que nada tire nem acrescente à dignidade e eficácia do único mediador, que é Cristo. (LG 62) A Mãe de Jesus, assim como, glorificada já em corpo e alma, é imagem e início da Igreja que se há-de consumar no século futuro, assim também, na terra, brilha como sinal de esperança segura e de consolação, para o Povo de Deus ainda peregrinante, até que chegue o dia do Senhor. (LG 68) Dirijam todos os fiéis instantes súplicas à Mãe de Deus e mãe dos homens, para que Ela, que assistiu com suas orações aos começos da Igreja, também agora, exaltada sobre todos os anjos e bem-aventurados, interceda, junto de seu Filho, na comunhão de todos os santos, até que todos os povos, tanto os que ostentam o nome cristão, como os que ainda ignoram o Salvador, se reunam felizmente, em paz e harmonia, no único Povo de Deus, para glória da santíssima e indivisa Trindade. (LG 69)

[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo

SEQUÊNCIA DA SOLENIDADE DE PENTECOSTES

Vinde, ó santo Espírito,
vinde, Amor ardente,
acendei na terra
vossa luz fulgente.

Vinde, Pai dos pobres:
na dor e aflições,
vinde encher de gozo
nossos corações.

Benfeitor supremo
em todo o momento,
habitando em nós
sois o nosso alento.

Descanso na luta
e na paz encanto,
no calor sois brisa,
conforto no pranto.

Luz de santidade,
que no Céu ardeis,
abrasai as almas
dos vossos fiéis.

Sem a vossa força
e favor clemente,
nada há no homem
que seja inocente.

Lavai nossas manchas,
a aridez regai,
sarai os enfermos
e a todos salvai.

Abrandai durezas
para os caminhantes,
animai os tristes,
guiai os errantes.

Vossos sete dons
concedei à alma
do que em Vós confia:

Virtude na vida,
amparo na morte,
no Céu alegria.

Novena de Natal 2015 – Dia 9: Todos os confins da terra

Todos os confins da terra
verão a tua salvação, Senhor,
porque o teu nascimento não foi em vão.
Da tua realeza descente à nossa pobreza,
não te envergonhando de nada na humanidade.
Habitas um corpo,
onde verteste toda a Luz de Deus,
para a reacenderes nas nossas trevas.
Brados de alegria, ó Deus-connosco,
é o que soltamos em vez do medo.
Ajuda-nos a ser sentinelas da manhã
em que Te dignaste
inaugurar uma nova história
para que, em Ti, todos possam
tornar-se filhos de Deus!

Glória ao Pai

Sugestão − Diverte-te a contemplar a pequenez: nas crianças que tens em casa ou nos pobres que vivem perto de ti. Não vale de nada adorares o Menino Jesus no presépio se não conseguires “beijar”, nem que seja só com o olhar ou um breve pensamento de compaixão, a fragilidade da qual te vergonhas em ti ou nos que te rodeiam. Solta brados de alegria a Deus que te veio salvar em Jesus Cristo!

Novena de Natal 2015 – Dia 8: Faz de mim a Tua casa

Faz de mim a Tua casa,
vem habitar no meu interior, ó Emanuel.
Visita-me e vem com a Tua luz
libertar-me do pecado que me oprime.
Vem fazer brotar rebentos novos
de fraternidade, de justiça e de paz,
para viver a relação com os outros
e experimentar o serviço
com um coração firme.

Pai nosso

Sugestão − Deixa o exterior das ruas e dos hipermercados. Recolhe-te no interior da tua casa, com os teus. Cuida de cada preparativo do Natal envolvendo os que estão à tua volta. Se saíres de casa, que seja para servir alguém. Diante dos desafios mais difíceis de suportar por estes dias (a perda de alguém, o desamor de outrem, a dureza do trabalho e as distâncias…) mantém o coração firme. Afinal, Deus quis fazer dele (o teu!) o seu “trono”.

Novena de Natal 2015 – Dia 7: Deste-me um nome

Deste-me um nome, Senhor,
condizente com o que haveria de fazer,
e confirmaste-me
com os sinais dessa missão.
Preservaste a minha vida
recorrendo à minha mudez,
para que o teu silêncio falasse mais
do que o meu ignorante preconceito.
Ainda vou rabiscando na “tábua” da vida
essa identificação com a missão
que um dia sonhaste para mim.
Apaga, Senhor, com a “borracha” da tua misericórdia
os traços de um mero querer mundano,
reconduzindo o meu coração à tua justiça verdadeira.

Pai nosso

Sugestão – Gostas do “nome novo” pelo qual te chamam (pai, mãe, padre, freira, frade, catequista, etc.)? Se ainda buscas a tua vocação ou o teu lugar na Igreja, que “nome” gostarias que te chamassem? Procura num dicionário especializado ou na Internet o significado do teu nome de Batismo ou de registo, redescobrindo melhor a tua missão.

Novena de Natal 2015 – Dia 6: O coração como uma arca

O coração como uma arca
Te ofereço, Senhor,
para que, parando eu no frenesim dos dias festivos,
me deixe transladar por Ti,
na permanência da tua graça,
para um novo começo.
Unifica a minha vida, Senhor,
e dá sentido à minha história,
como fizeste, silenciosa e calmamente,
no longo encontro de Maria e Isabel.
Saiba eu cantar as maravilhas que operaste
no silêncio do passado que já não sei conter.
Ofereço-Te, no presente deste Natal, o meu futuro.
A Ti pertence, a Ti o consagro,
com humildade e alegria.

Avé Maria

Sugestão − Pergunta-te quanto tempo páras diante das pessoas e dos momentos mais importantes da tua vida. Faz uma hierarquia desses encontros e buscas e relaciona-os com a forma como geres o teu relógio. Se vives neste mundo, certamente vais precisar do divino “relojoeiro”, parando diante d’Ele e abrindo-lhe o coração para que possas conter algum pedaço que seja do seu Mistério neste Natal.

 

Novena de Natal 2015 – Dia 5: Evangelho vivo

Evangelho vivo és Tu, Senhor,
que, desde o seio de Maria, nos impulsionas
e, desde a montanha de júbilo, nos atrais.
No vale do monte das bem-aventuranças,
com Maria, já nos queres bem-aventurados,
por podermos acreditar
na felicidade que está escondida
e, ainda, amarrada pelas nossas misérias.
Dá-nos, Senhor, os dons do Teu Espírito,
para percorrermos a história de Deus-connosco
e podermos vir a saborear os seus frutos de vida eterna.

Pai nosso

Sugestão − Conheces alguma mulher que esteja grávida? Estás perto de alguém que está para iniciar um novo projeto profissional ou de vida? Abeira-te de uma dessas pessoas. Pode ser que lhes leves algo de que precisem para irem avante sem medo e tu… tragas algo que te atraia para uma nova forma de existir.

Novena de Natal 2015 – Dia 4: Exulta de alegria

Exulta de alegria,
Mãe do Verbo incarnado!
Exulta também em mim.
Ajuda-me a ver o Espírito escondido
e a dar-Lhe forma no ritmo dos dias.
Que o cenário da Anunciação não seja
uma fotografia do passado fechada num álbum,
mas um incentivo a escutar e a reagir,
a sair e a visitar as urgências deste tempo.
Obrigado por acreditares,
fazendo de mim um peregrino.
Encontrar-nos-emos num  presépio qualquer,
para realizarmos com amor
o que a vontade de Deus nos inspirar.

Avé Maria

Sugestão − Nesta quadra que lembra as pessoas que estão sós porque perderam alguém ou têm longe os seus entes queridos: faz uma visita ou deixa-te visitar; vasculha dentro de ti os entusiasmos perdidos, invocando o Espírito de Deus, e sai para bater à porta de alguém ou abrir a quem bate. Dá lugar à surpresa, incentiva à alegria.

Novena de Natal 2015 – Dia 3: Livra-me da desonra

Livra-me da desonra, Senhor,
da infecundidade do pecado
que não me deixa pôr em prática a tua Palavra.
Gera vida em mim, Senhor,
sobretudo na minha forma de comunicar o teu amor aos outros.
Faz-me compreender os teus sinais de bondade fecunda
e faz-me calar quando a minha fala os obscurece.
Toma a minha vida em oblação por muitos,indica-me o caminho a seguir.

Pai nosso

Sugestão − Vai à procura de uma situação de infecundidade: pode ser um casal que não pode ter filhos, um estudante que não tem sucesso escolar, um homem desempregado há muito tempo, etc. Procura tempo para parares diante de Deus e rezares por essa situação de desonra. Muitos esperam esta oração como oferenda, como a humanidade esperou durante muito tempo a oblação de Zacarias.