A humildade é melhor “escoltada” por uma simploriedade ativa do que pela vã ou aparente simplicidade. Para que triunfe o verdadeiro poder que muda vidas

Mc 11,1-10 ─ No Domingo de Ramos na Paixão do Senhor

O monte das oliveiras é, desde o Antigo Testamento, o lugar anunciado para uma revelação escatológica de Deus, segundo o profeta Zacarias que permaneceu na memória dos judeus. Mas a imagem de Messias que Zacarias profetiza é inesperada:

Exulta de alegria, filha de Sião! Solta gritos de júbilo, filha de Jerusalém! Eis que o teu rei vem a ti; Ele é justo e vitorioso; vem, humilde, montado num jumento, sobre um jumentinho, filho de uma jumenta. Ele exterminará os carros de guerra da terra de Efraim e os cavalos de Jerusalém; o arco de guerra será quebrado. Proclamará a paz para as nações.

Zc 9,9-10

Do espaço os judeus sempre se lembraram, mas sobre o que o tempo dizia sobre o tipo de Messias, esqueceram-se. Não é à toa que o Papa Francisco diz que “o tempo é superior ao espaço“. Por isso, naquele pequeno espaço que é o monte das oliveiras e na conjuntura do momento em que está para ser condenado, Jesus, através de gestos simples, mas significativos, está para abrir sobre a humanidade inteira “um horizonte maior que nos abre ao futuro como causa final que nos atrai”. Doravante, só se pode ajudar na construção de um povo a ousadia dos mesmos gestos de Jesus diante das contrariedades humanas.

E quais são estes gestos, que Jesus viveu em toda a sua vida e que aparecem sumariados na aproximação a Jerusalém?

1) O alargamento das relações humanas e geográficas: as “cercanias”, os “dois discípulos”, a “povoação aí enfrente” ─ revelam uma provocação do divino para alargar os âmbitos tímidos dos seres humanos, das famílias, das comunidades. Ninguém se salva sozinho; ninguém realiza algo de grande sem alargar as fronteiras da relação humana e geográfica. Se Jesus precisasse só dos judeus para a vivência do seu Mistério Pascal, seguramente nós não estaríamos hoje aqui.

2) Ousar e não ter vergonha da novidade que está na simploriedade: “encontrareis à entrada um jumentinho que ninguém montou ainda”. Jesus manda soltar e trazer para a sua entrada triunfal um “efetivo” que ninguém ousava admitir eficiente para o “cargo”. Isto acontece muitas vezes nas nossas vizinhanças ou na vizinhança de uma grande atividade: ousar integrar aqueles e aquilo que são habitualmente denunciados como inadequados. Quando, para se elogiar a simplicidade, se tem necessidade de descartar os que representam a simploriedade, a própria simplicidade pode sair ameaçada com o encosto à vaidade. O Senhor precisa daquele sinal, mas não vai deixar de o devolver onde ele deve estar: sempre à porta, na passagem, como sinal impreterível da verdadeira humildade.

3) Não ter medo de abrir caminho e de “escoltar” a humildade: “muitos estenderam as suas capas pelo caminho; outros puseram ramos que tinham cortado no campo; e tanto os que seguiam à frente como os que vinham atrás exclamavam”. Jesus é a humildade encarnada. Aproximando-Se de Jerusalém, vem para fundar um novo culto com palavras e gestos que só podem gerar a paz.

No decorrer das celebrações da Semana Santa ou Semana Maior, vamos aprender como a ambição do poder anula o testemunho da fé. Defender o rumo e o horizonte vivido e apresentado por Jesus implica, como vamos ouvir na Leitura da profecia de Isaías, não fechar os ouvidos a Deus, nem recuar um passo, apresentando as costas àqueles que insultam os mensageiros de Deus. O maior exemplo é o d’Aquele que, como refere São Paulo aos Filipenses, “era de condição divina, não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens. Por isso Deus O exaltou e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes.”

A partir da Paixão do Senhor, cruz e paz não são mais incompatíveis.

(Continuará…)