Da inculturação do Evangelho à evangelização das culturas, o discípulo não é superior ao mestre

[Leitura] Is 6, 1-8; Mt 10, 24-33

[Meditação] Um professor costuma dizer do aluno que foi além dos seus ensinamentos: «o discípulo ultrapassou o seu mestre». Naturalmente, esse professor não é O Mestre, pois, enquanto que o que um simples professor quer é que o aluno aprenda a ser ele mesmo e se realize, Jesus quer que os Apóstolos realizem a Sua Missão. Por isso, declara aos Apóstolos o que eles valem diante de toda a realidade do mundo onde são chamados a dar testemunho da Boa Nova. Os discípulos, para serem verdadeiros Apóstolos, terão que sentir-se purificados pelo poder da graça de Deus e sentir-se-ão sempre enviados pelo alto e não por outro poder mundano. Por isso, as suas motivações serão sempre as do Evangelho de Jesus Cristo.

Segundo D. Rino Fisichella (Arcebispo Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização), Evangelização é uma expressão que substitui a expressão “inculturação do Evangelho”. O seu pensamento pode sintetizar-se do seguinte modo:

A evangelização pensou-se sempre em relação com as pessoas; mas o novo conceito de cultura e as novas relações e interconexões que as pessoas e as comunidades têm com ela obrigaram a ampliar o seu horizonte semântico e conceptual. Diante das provocações que chegam do mundo contemporâneo, a Igreja do Vaticano II recolocou-se também o problema da sua forma de relacionar-se com as culturas.

No documento Gaudium et Spes (53-62), define-se a cultura e reconhece-se a sua autonomia com os próprios valores que permitem o seu progresso e a sua conservação e reveem consequentemente as modalidades de intervenção da Igreja na sua missão evangelizadora.

A cultura expressa o modo de pensar das pessoas, sua atividade criadora e espiritual, e reflete-se em comportamentos que favorecem o reconhecimento de grupos e comunidades. Sobre a base desta compreensão, evangelizar as culturas equivale a entrar em contacto com as riquezas que constituem a história de um povo. Ao ser a forma de pensar e da ação criativa de homens e mulheres de gerações inteiras, a cultura é capaz, de “per se”, de acolher o Evangelho, já que o Evangelho é, por sua vez, fonte de promoção espiritual e integral da pessoa.

Dá-se, por conseguinte, uma relação mútua, não positiva, entre a cultura e o Evangelho. Com efeito, este criou e inspirou – e continua a inspirar nos nossos dias – uma cultura; as culturas, por sua vez, enquanto que tendem a um progresso global, podem ver realizado no Evangelho o sentido de cumprimento ao que tendem. A evangelização das culturas é tão antiga como o cristianismo.

O primeiro testemunho disso (da antiguidade cristã da “evangelização das culturas”) são diretamente os escritos do Novo Testamento; seguem-se os diversos pronunciamentos dos diversos concílios e as obras dos Padres da Igreja. Pensadores como Agostinho e Tomás de Aquino levaram a cabo, de facto, uma evangelização do pensamento antigo; Mateo Ricci na China, Bartolomeu de Las Casas na América Latina e Roberto Nobili na Índia, o Papa Francisco na Europa… são exemplos concretos que pertencem, com todo o direito, à história da evangelização das culturas.

A tarefa que hoje se perfila não é uma tarefa simples. Recordando a expressão de Paulo VI na Evangelii nuntiandi, há que observar que: «a rutura entre o Evangelho e a cultura é sem dúvida o drama da nossa época» (EN 20), e isto não facilita certamente a tarefa de uma forma renovada de interação entre as duas. Assim, pois, é necessário abandonar as expressões de suspeita e de fechamento/bloqueio para assumir a responsabilidade do diálogo e do compromisso para o futuro. Além disso, as culturas da nossa época estão marcadas por um processo de massificação, fruto do papel decisivo que representam os meios de comunicação social. É necessário que uma evangelização das culturas não veja uma obra diabólica na comunicação e nos meios que nos foram dados pelo progresso, mas que atue com eles e sobre eles para que possa produzir-se uma verdadeira cultura e com ela uma consciência renovada de participação e de progresso.

[Para aprofundar mais: FISICHELLA, R., «Evangelización de las culturas», in: , Diciconario Teológico Enciclopédico, Editorial Verbo Divino, Navarra 1995 , pp. 362-363.]

[Oração] Sal 92 (93)

[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo