Para nos indicar o caminho, Jesus faz-nos evoluir a partir do nosso ponto de vista

rorschach-misericordia[Leitura] Deut 30, 10-14; Col 1, 15-20; Lc 10, 25-37

[Meditação] Quando sugere a aplicação do teste projetivo de Rorschach (“teste do borrão de tinta”) ao seu cliente, o psicólogo, depois da pessoa descrever solitariamente o que observa diante de cada prancha com manchas de tinta simétricas, pede-lhe novamente que as descreve em pormenor, justificando a escolha das descrições. A partir das respostas, agora dialogadas, procura-se obter um quadro amplo da dinâmica psicológica do indivíduo. Ao procurar organizar a informação ambígua que tem diante dos olhos, o consultado oferece ao psicólogo a possibilidade de refazer o caminho dele “de trás para a frente”, reconstruindo aspetos da sua personalidade que levam às respostas dadas.

Penso ser este procedimento técnico uma metáfora do olhar misericordioso de Jesus, que leva a sério a forma como o doutor da lei lê o que está escrito como mediação que indica o caminho para a vida eterna. Mas, como nas manchas de Rorschach, uma lei pode parecer ambígua, pois depende de como é lida e dos prismas educacionais ou culturais de como é apresentada. Para desambiguar a leitura do que está escrito, Jesus propõe ao seu “consultado”, então, uma parábola. Através de uma história inédita, mas construída a partir de elementos conhecidos pelo doutor da lei, Jesus, levado mais pelo afeto do que pela técnica, procura ajudá-lo a meter-se dentro da história e a escolher um papel.

A compaixão que Jesus inclui dentro da história é a mesma que Ele manifesta pelo homem que O procura para descobrir o bem que tanto quer, mas que não sabe como o obter ou encontrar, justificando-se com a pergunta sobre o que desconhece. Com a sua amizade, Jesus não só indica o caminho, mas também se torna próximo dele para o acompanhar, pois é n’Ele que reside toda a plenitude. Tenha o homem a vontade de levar à prática o que adquire nesta nova relação, neste encontro inédito, pois o que Deus lhe propõe nunca está acima das suas forças, nem fora do seu alcance. A relação terapêutica desenvolvida a partir de um diagnóstico é compreensivelmente descontínua, uma vez que um psicólogo não tem a obrigação de acompanhar o seu cliente em todas as dimensões do seu viver, de interação misteriosamente dinâmica. Por causa desta, Jesus faz-Se presente de forma continuada e, como Ressuscitado, atravessa as “paredes” das dimensões da personalidade de cada pessoa, para desambiguar o que nela obscurece a visão da estrada que dá sentido e forma prática ao desejo de viver eternamente. Por isso, é sempre muito urgente ter-se tempo para acompanhar em ambiente comunitário a busca das pessoas, para um crescimento integral na vocação, entendida como um caminho acessível, quer à compreensão, quer à realização da felicidade compassiva.

[Oração] Sal 68 (69) ou Sal 18 B (19)

[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo

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