Quem não reconheceu Jesus vivo, também não pôde reconhecê-l’O como Ressuscitado, dando a última palavra à Sua morte. Só está centrado quem obedece a um horizonte

L 1 At 13, 26-33; Sl 2, 6-7. 8-9. 10-11 Ev Jo 14, 1-6

Numa das dez Crónicas de Nárnia, “As Crónicas de Nárnia: o Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa”, transposto para filme pelo realizador Andrew Adamson em 2005, há uma ena que nos pode ajudar a ilustrar o inteligente discurso do Apóstolo Paulo na sinagoga de Antioquia da Pisídia. A cena em que, depois de a White Witch ter morto o Leão Aslan, A Susan e a Lucy o encontram morto sobre o altar, lamentando-se do facto. Virando-se para se irem embora, já de costas, ouvem um estrondo e, ao olhar para trás, já não veem o Leão morto, mas só veem o altar vazio e partido. Aslan aparece-lhes por entre as colunas já vivo e ajuda-as a ler o friso do altar onde se encontram as Escrituras.

A pregação de Paulo é portadora do paradoxo que existe entre a má ação dos judeus e seus chefes ─ o facto de não reconhecerem Jesus como Filho de Deus e O terem matado ─ e de acabaram por cumprir o que estava anunciado pelos profetas ─ a morte anteriormente anunciada e a ressurreição já anteriormente prometida. De facto, o mistério pascal é a síntese e o vértice para onde caminha toda a história da salvação.

No Evangelho, Jesus ajuda-nos a saber qual é a causa do não reconhecimento: a perturbação do coração. É preciso ter um coração sereno para que a fé em Deus seja a fé n’Ele. Dá-nos a impressão que quanto mais próximo de nós estiver Jesus, mais perdemos o pé das nossas forças pessoais, para que se revele em nós a força de Deus. E conforme fica esclarecido, não podemos ir ao Pai senão por Jesus. Não há outro nome ou homem aqui na terra que nos possa servir de ponte ou caminho para Deus a não ser d’Aquele que é Deus e Homem!

Os judeus e os seus chefes estavam habituados a governar uma “santidade” centrada neles, mas sem horizonte. Não lendo todas as profecias, cristalizaram numa das imagens de Deus que lhes trouxe mais lucro (material ou espiritual que seja). A proposta de Jesus centra-se na autoridade do Pai, à qual obedece, apresentando-Se como caminho, verdade e vida. Assim há de ser o sacerdócio do que se querem configurar com Ele: não como fim em si mesmo, ou seja, na ordem dos fins, mas na Ordem dos meios ao serviço de um fim: o Batismo que promete a vida eterna. O centro é sempre Deus, mas contemplemos como Jesus Se apresenta sempre: o Filho do homem. É para não desfocar a visão no horizonte último que tem a última palavra: o próprio Deus. Se na sua divina carne Jesus tivesse dado a última palavra, que espaço ficaria para as “coisas” do Espírito de Deus? A tensão da fé tem de ser sempre o o seu horizonte último e não para os meios, sendo que estes precisam de ser bem dispostos para o serviço àquele fim.

Um GPS não serve para nada se não for para unir 2 pontos no mapa através de uma viagem. Assim é a Escritura: é para nos unir a Deus. Se fosse para nos bastarmos a nós próprios não era precisa a profecia.