As caraterísticas da auto-revelação de Jesus como Pastor e Porta. Como o refletimos na Igreja?

L 1 At 11, 1-18; Sl 41 (42), 2-3: 42, 3. 4 Ev Jo 10, 1-10

Ao meditar neste Evangelho, lembro-me dos padres na circunstância das celebrações da Eucaristia. Quando as celebram de forma espaçada e com tempo entre as mesmas, dá para entrar pela porta da frente ou principal, às vezes fazer aquela entrada solene em dias de festa, e, ainda, vir despedir-se das pessoas concelebrantes à mesma porta. Mas, quando o padre não tem tempo livre entre as muitas celebrações e é a ele que cabe fazer muitas das coisas que os leigos poderiam fazer através dos variados serviços, então a porta da sacristia é a mais prática, para não se atrasar. Em vez de ser o “porteiro” que abre a porta aos olhos e ouvidos dos fiéis ao Bom e Belo Pastor, acaba por ser, sem querer, uma só frágil tentativa de pastor. Como é que o poderá imitar, então? O Evangelho de hoje mostra-nos as Suas caraterísticas:

• Entra pela porta. Não entra por frestas ou janelas. Entra pela comunhão e não pela setorialização.

• Deixa-se acolher por um porteiro. Não é um intruso desconhecido, nem é acolhido sem subsidiaridade.

• É Ele que fala e a sua voz é conhecida pelas ovelhas, que ouvem cada uma o seu próprio nome. Ele importa-se com todas e com cada uma em particular.

• Não demora muito em levá-las para fora e de lhes propor o seguimento, indo à sua frente e guiando-as com o “gps” que é a sua voz.

• As ovelhas que Lhe pertencem e o conhecem, são aquelas que entram e saem por esta Porta, de modo que encontra pastagem, para que tenham vida em abundância.

• Jesus apresenta-Se em contraste com o ladrão e o salteador, que não entram pela porta, mas por brechas de uma não comunhão, para matar, roubar e destruir e não para dar vida, defender e construir. Ao estranho, as Suas ovelhas não o seguem, porque não conhecem a sua voz.

• O tipo de discurso de Jesus é descritivo de uma realidade que acontece com base de uma pertença livre e não de uma imposição ou de um grupo exclusivista. Prova-o a afirmação “Quem entrar por Mim será salvo”. Prova-o a força do Espírito de Deus que trabalha nos gentios a partir da Palavra que é Cristo, o que leva a crer que “Deus concedeu também aos gentios o arrependimento que conduz à vida”, “por terem acreditado no Senhor Jesus Cristo”, o que traz tranquilidade e leva a glorificar a Deus.

• Conforme Jesus utiliza as imagens de Pastor e Porta para falar da passagem “pascal” da terra para o Reino de Deus, assim Pedro, através do batismo do pagão Cornélio, anuncia a Igreja de Jesus Cristo como comunidade universal de todos a quem chegasse a palavra de Deus e a Ele se convertessem.

Hoje relaciono esta mensagem com a realidade política que nos circunda. Os que têm assento no Parlamento entram por muitas portas diferentes (partidos). Nem sempre o que está sobre a mesa da discussão é para o bem comum. Nas comunidades da Igreja, também pode acontecer assim: há pessoas, grupos e movimentos que não ligam diretamente aos interesses do Bom Pastor, porque também não ligam muito ao “porteiro” que tem a missão de O acolher na comunhão, participação e missão. Hoje peço pela unidade na diversidade, para que haja uma só porta de entrada para o discipulado e de saída para a missão. Há uma só vida terrena, há um só Reino, o de Deus. Muito do resto são fantasias, para além de realidades fabricadas pelos homens, para os seus interesses mesquinhos. Rezo para que todos deixemos falar a voz do Bom e Belo Pastor, sem ruídos de qualquer género…