Ser protagonistas no Espírito Santo é descobrir a Verdade escondida por detrás das Palavras de Jesus impressas no nosso coração crente

At 16, 22-34; Jo 16, 5-11

Ponhamo-nos na pele dos discípulos de Jesus, a quem Ele fala de perseguições e anuncia a sua partida para o Pai. Não nos surpreenderá o seu sentimento humano de tristeza. Se aqueles discípulos estivessem aqui no Seminário, poderíamos vê-los na ponte entre a etapa da configuração e a de síntese vocacional, já fora da comunidade do Seminário. Que é o mesmo que dizer entre o desejo do protagonismo, porque conscientes dos valores do Mestre, e o medo da responsabilidade na ausência aparente do Mestre.

Pode acontecer, eventualmente, nos candidatos ao presbiterado que estão já fora do Seminário, na denominada etapa da síntese vocacional (cf. Ratio Fundamentalis Istitutionis Sacerdotalis, nn. 74-79), que vivem este transe entre o querer estar sozinhos numa ação pastoral, sentindo-se protagonistas de uma ação concreta sem a vigilância direta dos atuais formadores, e, por causa do cansaço ou da dureza da missão, o medo do desacompanhamento direto dos mesmos formadores. Ouvi alguém dizer (e penso com razão) que a autoridade delega-se, mas a responsabilidade não. Parece-me que o desejo do protagonismo no seu sentido denotativo ─ destaque pessoal, distinção ─ pode perder o seu fervor quando se vivencia o seu sentido figurativo que é a qualidade de ter iniciativa (cf. dicionário). O Evangelho dá-nos a impressão de que Jesus está a espicaçar a iniciativa dos discípulos, no «nenhum de vós Me pergunta: “para onde vais?”». O núcleo da questão que aqui quero refletir é a diferença entre o estarmos e o sentirmo-nos sozinhos ou acompanhados real e não só aparentemente.

Para aqueles que estão prestes a ser protagonistas como Apóstolos a partir do Pentecostes, a pedagogia de Jesus é clara, dentro da Verdade que anuncia: conforta os seus discípulos, no momento em que começa a pôr “a faca e o queijo” nas suas mãos. Para que lhes possa delegar a sua Autoridade ─ no Espírito da Verdade ─ eles são chamados a uma responsabilidade: a da coragem de viver sob essa mesma verdade, como alegres testemunhas. O episódio que hoje proclamamos dos Atos dos Apóstolos é a prova real de que é possível não ter medo de exercer um protagonismo pessoal dentro de circunstâncias adversas e, ao mesmo tempo e a confirmar a presensa do Espírito de Jesus, contemplar o protagonista principal que Cristo lhes deixou, o próprio Espírito Santo que consola e defende. Hoje celebra-se o Dia Internacional do Viver Juntos em Paz; vejamos como pode estrebuchar a paz de dentro de uma prisão! Este é um dos sinais de uma madura síntese vocacional em ato presente concretamente em Paulo e Silas.

69. Não se pode esquecer, finalmente, que o próprio candidato ao sacerdócio deve ser considerado protagonista necessário e insubstituível na sua formação: toda e qualquer formação, naturalmente incluindo a sacerdotal, é no fim de contas uma auto-formação. Ninguém, de facto, nos pode substituir na liberdade responsável que temos como pessoas individuais.

Certamente também o futuro sacerdote, e ele antes de mais ninguém, deve crescer na consciência de que o protagonista por antonomásia da sua formação é o Espírito Santo que, com o dom do coração novo, configura e assimila a Jesus Cristo Bom Pastor: nesse sentido, o candidato afirmará a sua liberdade da maneira mais radical, ao acolher a acção formadora do Espírito. Mas acolher esta acção significa também, da parte do candidato ao sacerdócio, acolher as “mediações” humanas de que o Espírito se serve. Por isso mesmo, a acção dos vários educadores só se revela verdadeira e plenamente eficaz se o futuro sacerdote lhe oferece a sua pessoal, convicta e cordial colaboração.

JOÃO PAULO II, Exortação Apostólica Pós-sinodal “Pastores DAbo Vobis”, n. 69.
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