O Reino de Deus entre a expropriação e apropriação vocacional
[Leitura] Ex 34, 29-35; Mt 13, 44-46
[Meditação] Não é descabido que os presbíteros ponham tudo o que tenham para a realização da missão pastoral, incluindo a sua côngrua sustentação, conforme se lê na provisão episcopal da tomada de posse de um serviço na diocese.
As pequeninas parábolas do Reino são como que uma espécie de “provisão vocacional” não só para os que se oferecem mediante uma consagração especial, mas também para os que escolhem formar uma Família pelo Matrimónio.
No caso de quem encontra um tesouro no campo, poderíamos pensar que, conhecendo-o somente quem o encontrou, poderia imediatamente escondê-lo em sua própria casa. Porém, aquele tesouro sem o campo não seria, por si só, valioso. Daí que seja condição vender tudo para adquirir o campo onde ele se encontra escondido. Se o tesouro é o seu modo pessoal de ser feliz, o campo seria o ambiente de comunhão (comunidade) sem o qual não pode realizar a felicidade. É o caso de quem se deixa expropriar para o serviço espiritual aos outros. Impressiona-me, por isso, muito negativamente que haja padres que queiram realizar a missão da Igreja sozinhos, sem este espírito de comunhão. E o mesmo se diga dos leigos frequentemente mais clericalistas que os padres, muitas vezes dentro de movimentos ou associações.
No outro caso, o daquele que vai vender tudo para comprar a pérola (sem o campo) pode ser o de quem escolhe o projeto de fundar uma nova Família através do Sacramento do Matrimónio. Este é chamado a estar no mundo (campo sem dono) apropriando-se, nele, de uma porção de pessoas que ajuda a encaminhar para o Reino de Deus. Também me impressiona negativamente, hoje, a existência tentadora de quem vive o Matrimónio e a Família de uma forma privada, como que por uma nova espécie de “fuga mundi”, enquanto que os que escolhem a vida consagrada se tornam cada vez mais seculares.
Estes dois tipos de vocação – Especial Consagração e Família pelo Matrimónio – são cada vez mais necessários em diálogo no campo da Igreja, sem qualquer espécie de “igualdade de género”, para que não aconteça uma homologação das vocações, que seria nociva para a sua missão de construir o Reino. Não são despropositadas a este respeito as imagens de esponsalidade divina que trespassam o Antigo Testamento (em relação ao Povo) e o Novo Testamento (em relação à Igreja) e que bem podem fundamentar a necessidade aquele diálogo.
Também não é por acaso que a nova Ratio fundamentalis que regulamenta a formação sacerdotal proponha que nos estudos teológicos dos rapazes que se consagram pela Vida Religiosa sejam formados para perceber a riqueza do campo que é a Diocese em que os seus carismas se exercem; e os candidatos a presbíteros diocesanos sejam instruídos pelo valor dos institutos de vida consagrada. Não faltará qualquer coisa deste género nos Cursos de Preparação para o Matrimónio e nos projetos de formação que propõem os movimentos da família?!
[Oração] Sal 98 (99)
[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo