A Liberdade de ser Discípulos de Cristo
[Leitura] 1 Reis 19, 16b. 19-21; Gal 5, 1. 13-18; Lc 9, 51-62
[Meditação] A letra “D” apareceu em destaque na preparação e no próprio dia em que celebrámos o XIII domingo do tempo comum. Porquê? Porque, em Viseu, vivemos o “Dia da Diocese” e, também, porque a liturgia da Palavra me sugeriu a afirmação em título. Foi importante, também, acompanhar e celebrar a Ordenação de mais um jovem que teve a coragem de ser livre diante da proposta a ser Presbítero, o agora Pe. Carlos Manuel de Matos Rodrigues.
O Papa Francisco tem vindo a “soletrar-nos” a expressão discípulos-missionários como sendo a definição de um verdadeiro cristão. Já compreendemos o que ele nos quer dizer. Não será fácil levarmos à prática da vida este binómio. Caminhar equilibradamente sobre estas duas “pernas” não é experiência, por vezes, desigual à de uma criança que começou a dar os primeiros passos. E, quando já adultos, somos convidados a ser missionários e a sentir a importância dessa tarefa, Jesus vem ao nosso encontro para nos ajudar a viver bem os pressupostos do ser discípulos.
Toda a liturgia da Palavra me sugeriu as seguintes caraterísticas que ativam o crescimento para melhor sermos discípulos e, consequentemente, predisporão a nossa liberdade para sermos melhores missionários:
a) Paciência. Os discípulos, por vontade própria, tendem à prática de uma missão “com fins lucrativos”, seja de que tipo for. Jesus repreende-os, pois, com o bem de uns não se pode causar o mal de outros, seja por que motivos for. Há que dar espaço e tempo. A missão de Jesus desemboca no Reino e não noutra “praia” qualquer dentro das preferências humanas.
b) Espírito de sacrifício. Seguir Jesus implica viver como Ele viveu, sem “tocas” nem “ninhos”. Poderemos objetar ou adocicar pensando com os botões ou defendendo diante dos outros: “Se fosse hoje, Jesus teria o seu carro, a sua casa, etc.”. Esquecemo-nos de que é bem possível que, quando o estamos a dizer, ignoramos ou escondemos que não é “o que” temos, mas a marca do que temos. Habitualmente, estas objeções escondem o facto de que nos estamos a referir a um carro topo de gama, com estes ou aqueles extras, e uma casa “segura” que dê para acolher os amigos ou que me dê a privacidade que desejo. O espírito de sacrifício inerente ao ser discípulo prepara-nos para os sacrifícios inerentes à missão.
c) Prontidão. Seguir Jesus implica desapego e dar o salto, ainda que com os pés assentes na terra e nas relações de sangue. O salto implica fazer renúncias e aceitar cortes. É embarcar na hora certa, no sítio certo, sem olhar para trás. É dizer sim, sem medo, às vozes de que Ele se serve como mediação humana.
b) Amor. Jesus nunca no sugeriria um caminho de renúncia se não fosse para nos propor um amor maior, muito mais libertador, porque apoiado nas coisas do espírito e não nas da carne. Um amor ultramundano que, embora conjugado através dos valores naturais do ser homem e mulher, é o próprio Amor de Deus Pai e de Jesus Cristo, transbordando para nós. É o Espírito Santo que trabalha em nós e do qual Deus Se serve para nos atrair para o seu Reino eterno.
Esta Liberdade de ser Discípulos de Cristo, para ser “liberdade no Espírito” pode, pedagogicamente, ser construída à volta de quatro caraterísticas:
1ª Liberdade essencial – Capacidade de entender e de querer, isto é, de compreender, refletir e decidir. Esta vem a faltar somente na presença de: Psicoses graves (esquizofrenia grave, ciclotimia grave); Personalidade anti-social grave (falta de empatia pelos valores morais e religiosos); Narcisismo grave, incapacidade de distinguir o “eu” do “objeto”; Debilidades sexuais que estejam ligadas às perturbações anteriores.
2ª Liberdade efetiva – Quando a liberdade essencial pode ser exercida com uma escolha entre várias alternativas possíveis (limitação mais ou menos grande de número e amplitude das escolhas que se podem fazer entre alternativas possíveis).
3ª Liberdade horizontal (ou exercício horizontal da liberdade) – decisão ou escolha que tem lugar dentro de um horizonte já estabelecido.
4ª Liberdade vertical (ou exercício vertical da liberdade) – conjunto de juízos e decisões por meio dos quais se passa de um horizonte a um outro.
É uma liberdade que se verifica na realização do bem pela vontade. Esta acontece gradualmente e verifica-se nos seguintes estádios:
1º Will – Capacidade de tomar decisões.
2º Willing – Atuação das decisões.
3º Willingness – Estado no qual o sujeito não tem necessidade de persuasão para tomar decisões. Potência a responder; predisposição, estado de prontidão para uma decisão.
Para ser missionário, qualquer discípulo tem de ter o seu “dia D”: desembarcar de tudo o que o leva a um caminho de perdição e embarcando numa barca impelida pelos ventos do Espírito. No final da celebração do Dia da Diocese, na Catedral de Viseu, D. Ilídio Leandro declarou que são precisas boas vocações nestes três estilos de vida apontados pela Igreja como caminhos nos quais se pode seguir Cristo de forma livre e construtiva: o Sacerdócio, a Vida Consagrada e o Matrimónio. Estes estilos de vida podem ser discernidos com base naqueles instrumentos que as ciências humanas descobrem entre o conhecimento concreto da capacidade que o ser humano tem de se desenvolver e do Evangelho como voz de Jesus que chama. Bons discípulos, para uma exigente missão!
[Oração] Sal 15 (16)
[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo