Escondimento e testemunho: a “quaresma” e a “páscoa” das boas obras
[Leitura] 2 Reis 2, 1. 6-14; Mt 6, 1-6. 16-18; Iuvenescit Ecclesia
[Meditação] Ainda há poucos dias, o Mestre nos aconselhou a mostrar a nossa luz diante dos homens, para que vendo as nossas boas obras, glorifiquem o Pai que está nos céus (cf. Mt 5, 13-19). No Evangelho de hoje, aconselha o contrário. Mas… cuidado! Não o diz da luz, mas das nossas boas obras. As que são nossas, aparentemente, boas obras, podem não ser luz que mostre a glória do Pai. Para que o sejam têm de passar pela “quaresma” do escondimento e da humildade. Para que a esmola, a oração e o jejum deem frutos, é necessário que sejam discretas e o Pai é que recompensará com os frutos da “páscoa” que elas permitem, com o Seu poder, fazer. No Antigo Testamento, há um pequeno paralelismo entre Jesus e Pedro nos profetas Elias e Eliseu, respetivamente. Este promete àquele não o deixar; Pedro também prometeu seguir Jesus e, até, não O negar. Apesar de O ter negado, não deixa, como Eliseu diante de Elias, quando este parte no carro de fogo, de olhar e confiar na Sua misericórdia, quando Ele parte naquela cruz de sangue.
Doravante, Eliseu com a dupla porção do espírito de Elias, só conseguiu ser eficaz com o bater do manto para voltar a passar no Jordão ao invocar o Senhor Deus de Elias. Da mesma forma, Pedro só consegue ser eficaz na sua missão de Pontífice, quando invoca, sob o Espírito de Deus, o Nome do mesmo Deus (para o cristão, o Deus Uno e Trino). Sendo, como Jesus disse, somente Bom um só − o Pai que está nos céus (cf. Mc 10, 18; Lc 18, 19) −, então as nossas obras serão boas se forem iluminadas com a luz do Fogo que é o Espírito Santo. Para isso, é preciso caminhar com Jesus, esperar no Senhor e invocar o Seu Espírito, para que as nossas obras sejam eficazes. Sem essa Luz, podem ser consideradas boas aos olhos dos homens, mas não aos olhos de Deus.
A Congregação para a Doutrina da Fé publicou, recentemente, a Carta Iuvenescit Ecclesia para os Bispos da Igreja Católica, sobre a relação entre os dons hierárquicos e carismáticos para a vida e missão da Igreja. Na verdade, já estávamos a precisar de alguma ordem na relação entre estes dons, colocando-os, novamente, na relação com a mesma fonte e a mesma missão. Por vezes, ao observarmos a variedade de atividades promovidas pelos vários dinamismos existentes na Igreja, dá-nos a impressão de que temos horizontes diferentes e não é claro que a perspetiva do Reino de Deus esteja em todos. Pode ser porque algumas iniciativas careçam daquela Luz de que falámos acima, precisando de “quaresma” e dos critérios para que um carisma esteja em conformidade com a missão da Igreja, não pensando tanto na autorreferencialidade e autodefesa, mas, orientada e vigiada pela hierarquia (cuja autoridade deve ser entendida como serviço), a ser “esmola” do “ser útil para os outros e não só para os próprios”, do “jejum” da “espera do tempo oportuno, sem o sucesso provocado pela euforia dos homens” e da “oração” que “invoque a força de Deus, para que se manifeste o seu poder e não o nosso”. Há, porventura, muitos dinamismos (promovidos por grupos, movimentos, associações e obras) que só mexem com as águas da vida humana (experiências históricas, emoções, sentimentos, motivações, sonhos, etc.), sem, porventura, ajudarem a orientar esta barca que é a Igreja para o seu porto seguro que é a sua missão de acompanhar cada ser humano na “travessia do Jordão” para a Santidade que é o mesmo que dizer Felicidade plena, que só o amor de Deus pode realizar em cada um. É preciso que “a Igreja rejuvenesça” para que as pessoas encontrem o verdadeiro caminho da Salvação!
[Oração] Sal 30 (31)
[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo