Integrar a fragilidade é preferível a repudiar o amor
[Leitura] Tg 5, 9-12; Mc 10, 1-12; PAPA FRANCISCO, Amoris laetitia
[Meditação] Prosseguimos na aventura do evangelista Marcos, confrontando-nos, hoje, com uma questão muito cara e delicada para a Igreja, que é o Matrimónio e a Família, por causa das desilusões que acontecem nas histórias de amor e do sofrimento que causam certas fragilidades. Na Exortação Apostólica Pós-sinodal “A Alegria do Amor” o Papa Francisco não ignora as situações de rutura que possam acontecer nas histórias familiares. No entanto, percebe-se, pela estrutura do documento a “ordo amoris” que está delineada no Evangelho, em que Jesus declara como primária o desígnio de amor proposto pelo Criador e secundária a possibilidade do divórcio causado pela dureza dos corações. Jesus representa os profetas que não se deixam levar pelas circunstâncias, mantendo firmes os princípios. Na verdade, as desilusões do caminho não anulam o bem que o Criador quis para o homem e a mulher. Jesus não reprovou a postura de Moisés, mas repropõe a ordem de fatores que, por vezes, na história ficam baralhados pelo “protagonismo” dado às fragilidades, em vez de ser dado ao verdadeiro amor.
No capítulo VIII da Exortação, porpõe-se o acompanhamento, o discernimento e a integração da fragilidade. É aqui que Francisco dá aos pastores (bispos) a coragem e a autoridade para, respetivamente e segundo as circunstâncias e a cultura de cada Igreja particular, se poder quer anunciar “a alegria do amor” que está presente no ideal matrimonial e familiar, quer de integrar as situações de fragilidade que assolam a vida das pessoas. Voltando à história da formação sacerdotal, uma vez que os que vivem o ministério presbiteral não deve viver desligado dos problemas da família, mas empenhado em acompanhar, convém que os mesmos saibam, também em si, integrar as fragilidades para uma sempre maior vivência do amor de Deus (pois este é princípio e horizonte!):
- Enfim, o modelo que promete aproveitar os aspetos positivos dos precedentes e resolver as suas subtis falsidades é o modelo de integração. É um modelo que é notoriamente fruto entre uma perspetiva teologia e psicológica, e que, sob a antropologia da vocação cristã, nos transporta no plano da redenção como integração, cujo processo podemos definir como: a capacidade de «construir e reconstruir, compor e recompor, a própria vida e o próprio eu à volta de um centro vital e significativo, fonte de luz e de calor, no qual encontrar a própria identidade e verdade, e a possibilidade de dar sentido e cumprimento a cada fragmento da própria história e da própria pessoa, ao bem como ao mal, ao passado como ao presente, num movimento constante centrípeto de atração progressiva. Tal centro, para o crente, é o mistério pascal, a cruz do Filho que, elevado da terra, atrairá a si todas as coisas (cf. Jo 12,32)» (cf. A. CENCINI, L’Álbero della Vita – Verso un modello di formazione iniziale e permanente.)
Quantas vezes se “terá deitado o bebé fora com a água suja”, em vez de se ter sorrido às fragilidades com um olhar sereno e confiante do amor maior que Deus nos tem e designa para a construção das pessoas que se propõem fazer um caminho de felicidade, sabendo que esta será sempre influenciada por debilidades e moldada por possibilidades. Não sendo ingénuos, é verdade que há muitos enganos nas tentativas de relação; e a Igreja está cá para ser esse espaço de acolhimento e acompanhamento para o discernimento e a integração, quer das fragilidades, quer de novas possibilidades, segundo a lei da gradualidade, em direção ao horizonte do amor que Deus propôs desde o princípio. Quanto a este acompanhamento, aguardamos de quem tem autoridade, uma interpretação idónea e pedagógica que nos leve à urgente ação.
[Oração] Sal 102 (103)
[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo