Gn 1, 1-19; Mc 6, 53-56 ─ na memória obrigatória de São Paulo Miki e Companheiros

Na história do martírio dos japoneses Paulo Miki e Companheiros, padroeiros do Japão juntamente com S. Francisco Xavier, contemplamos não só a constância de todos, com os olhares fixos no céu, mas também como cantavam salmos de ação de graças entregando a alma a Deus e rezando. Paulo Miki acolhia a cruz como uma tribuna que nunca tivera, dando graças por tão elevado benefício, e declarando “não haver outro caminho para a salvação do que aquela que possuem os cristãos”, caminho que nos ensina a “perdoar os inimigos”, pedindo a “todos que se batizem”. Da sua cruz, Paulo Miki anima os companheiros, suscitando no irmão Luís uma expressão corporal de alegria que mais parecia desporto na cruz. A expressão “Jesus, Maria” e a exortação aos presentes que todos levassem uma vida digna serve de passaporte para o céu, nas mãos dos seus carrascos. (Cf. Leitura do Ofício)

É desta mesma alegria que o Papa Francisco está a falar, quando nos convida a passar para uma nova etapa evangelizadora, “a Alegria do Evangelho [que] enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento” (Evangelii gaudium, 1). É a mesma alegria que exorta aos congoleses, nesta sua viagem recente, que confirmada pela paz diz de quem pertence a Jesus, sem deixar prevalecer a tristeza. O Papa confirma-lhes que “se ao nosso redor se respira este clima [de tristeza], que não seja por nossa causa: num mundo desanimado com a violência e a guerra, os cristãos fazem como Jesus. Ele, como que insistindo, repetiu para os discípulos: A paz esteja convosco! E nós somos chamados a assumir e proclamar ao mundo este inesperado e profético anúncio de paz”, indicando as “três nascentes da paz, três fontes para continuar a alimentá-la: o perdão, a comunidade e a missão”. Garante que Jesus “conhece as suas feridas, conhece as feridas do seu país, do seu povo, da tua terra! São feridas que ardem, continuamente infetadas pelo ódio e a violência, enquanto o remédio da justiça e o bálsamo da esperança parecem nunca mais chegar. É isto que Cristo deseja: ungir-nos com o seu perdão.” Diz-lhes ainda: “Irmãos, irmãs, somos chamados a ser missionários de paz, e isto nos encherá de paz. Trata-se de uma opção: é dar espaço a todos no coração, é acreditar que as diferenças étnicas, regionais, sociais e religiosas vêm em segundo lugar e não são obstáculo; que os outros são irmãos e irmãs, membros da mesma comunidade humana; que cada um é destinatário da paz trazida ao mundo por Jesus. É acreditar que nós, cristãos, somos chamados a colaborar com todos, a romper a espiral da violência, a desmantelar os enredos do ódio. (…) “A paz esteja convosco: diz Jesus hoje a cada família, comunidade, etnia, bairro e cidade deste grande país. A paz esteja convosco: deixemos que ressoem no coração, em silêncio, estas palavras de nosso Senhor. Ouçamo-las dirigidas a nós e escolhamos ser testemunhas de perdão, protagonistas na comunidade, pessoas em missão de paz no mundo””, concluiu Francisco.”

Penso que esta visita ao Congo e ao Sudão do Sul ajudam-nos a contemplar o Evangelho proclamado hoje. Alguns judeus não só fugiam de quem estivesse com doenças, como os afastavam da sociedade, criando um espaço de segurança de controlo (não de auto-controlo), não se deixando tocar, nem tocando a vida de quem padecia tormentos. Ainda por cima, impunham justificações morais às doenças dos outros, para terem crédito diante da comunidade religiosa. Jesus e os seus discípulos “desembarcam” a comunidade numa nova história, onde não há medo de tocar a vida dos doentes, seja de que enfermidade for (a existência do medo é que é sinal de pouca confiança no poder de Deus!). É curioso que o evangelista Marcos nos conte que no desembarque de Jesus e dos seus discípulos, “as pessoas reconheceram logo Jesus”, trazendo-lhes os seus doentes para que os tocasse. Tal era a sua fé. “E todos os que O tocavam ficavam curados”! Quem coloca entraves ao desembarque da Igreja para outras margens não sabe o que está a fazer nela, fechando-a ao Espírito de Jesus Cristo.

A leitura do Génesis, nesta ocasião, pode-nos ajudar a contemplar que o mesmo poder criador de Deus está nas palavras e ações de Jesus. De dia para dia, no quotidiano da Sua ação, acontece a nova criação. Somos criaturas chamadas a ser novas criaturas!

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