Ef 5, 21-33; Lc 13, 18-21
Admiro como nas comunicações digitais de hoje, a partir de um pequenino feixe de fibra ótima feito de um simples núcleo de vidro, é capaz de partilhar em milésimos de segundo tantas informações audiovisuais para um inúmero conjunto de plataformas informáticas; o mesmo se diga dos satélites para a comunicação intercontinental e para a orientação através dos mapas das estradas. Esta imagem ajuda-me a compreender o Evangelho, no qual hoje, usando comparações com as imagens do seu tempo, Jesus ajuda as pessoas a compreender o Reino de Deus.
As imagens da semente e do fermento ainda são muito atuais, hoje em dia, embora necessitemos, junto das gerações mais jovens, de usar outras imagens para os aproximar do mesmo princípio e horizonte da mensagem do Reino de Deus. No entanto, as comparações utilizadas por Jesus escondem dois elementos do Reino úteis para que nos sintamos envolvidos por ele e o habitemos com liberdade e entusiasmo: a semente designa que o Reino foi lançado por Deus nos nossos corações e recebe inputs (no dic. “introdução de dados”; na psic. “registo de estímulo”) em tudo o que foi criado por Deus; o fermento designa a força para que esses inputs se possam “germinar” no nosso interior e vir a dar frutos de vida eterna.
Mas estas comparações todas não podem ser em vão, quer dizer, não servem só para nos deixarmos conduzir como que numa visita de estudo na contemplação de uma paisagem. O objetivo é a provocação de outputs (psic. “produção de comportamento”) que nos impliquem a colocar “as mãos na massa” de forma a sermos a interventivos ou cooperantes na transformação da vida terrena. O Reino de Deus, entre a semente e os frutos, é uma construção que nos implica a todos, não só como beneficiários que se abrigarão na árvore e se alimentarão dos frutos, mas também aqueles que podem ajudar a cuidar da árvore, através de comportamentos de uma ecologia integral.
Na carta encíclica Laudato Si’, o Papa Francisco apontou-nos São Francisco como “o exemplo por excelência do cuidado pelo que é frágil e por uma ecologia integral, vivida com alegria e autenticidade” (LS 10). E diante da necessidade de defender o trabalho, escreveu:
Em qualquer abordagem de ecologia integral que não exclua o ser humano, é indispensável incluir o valor do trabalho, tão sabiamente desenvolvido por São João Paulo II na sua encíclica Laborem excercens. Recordemos que, segundo a narração bíblica da criação, Deus colocou o ser humano no jardim recém-criado (cf. Gn2, 15), não só para cuidar do existente (guardar), mas também para trabalhar nele a fim de que produzisse frutos (cultivar). Assim, os operários e os artesãos «asseguram uma criação perpétua» (Sir 38, 34). Na realidade, a intervenção humana que favorece o desenvolvimento prudente da criação é a forma mais adequada de cuidar dela, porque implica colocar-se como instrumento de Deus para ajudar a fazer desabrochar as potencialidades que Ele mesmo inseriu nas coisas: «O Senhor produziu da terra os medicamentos; e o homem sensato não os desprezará» (Sir 38, 4).
LS 124
Estas imagens do Reino também nos podem ajudar a compreender melhor o mistério da vocação a que fomos chamados, ao sermos plantados nesta experiência terrena. A relação entre o homem e a mulher, com palavras nem sempre fáceis de entender ou aceitar, por parte de algumas pessoas, dão-nos os verbos com que podemos, sem discriminar ninguém, colaborar com o Criador no cuidado da criação da qual fazem parte os nossos corpos: amar, respeitar, submeter-se ao bem do outro. Esta é a melhor definição de castidade que conheço e que pode vir a dar belos frutos de vida eterna. O modelo, porém, não é o da relação entre o homem e a mulher, mas o da relação entre Cristo e a sua Igreja. A possibilidade de relação entre o homem e a mulher é comparável a uma “semente”; a relação entre Cristo e a Igreja tema força comparável à do “fermento”. Independentemente das vicissitudes históricas no meio das quais vivemos, a germinação do Reino nas nossas vidas não tem limites, pois a caridade de Cristo não desiste de nos amar, nem de nos aceitar na colaboração na construção do seu Reino no dia-a-dia, a partir do caminho pessoal para ser feliz ajudando os outros a ser felizes. Esta é a melhor definição de vocação que conheço.