Uma escola de oração inédita

Gal 2, 1-2. 7-14; Lc 11, 1-4 / Memória (facultativa) de Santa Faustina Kowalska / Dia Mundial do Professor

Estava Jesus em oração…

em certo lugar.

Ao terminar…

… começa aqui uma escola de oração inédita, em que o que se reza se pratica no lugar que é a relação.

Desta vez um dos discípulos teve a coragem de pedir a Jesus que os ensinasse a orar. Nunca tiveram a coragem de O interromper na oração, porquanto a percebiam essencial para a Sua vida e missão.

Este episódio de Lucas traz-nos alguns elementos curiosos relativos ao lugar, ao modo e ao tempo da oração:

a) Primeiro, o evangelista refere que Jesus orava em certo lugar. Sabemos que Jesus preferia o cimo do monte, a apontar a direção da sua oração sempre em discurso direto para com o Pai. E dali descia para se entregar à humanidade, desdobrando a sua oração em palavras que se entendessem e em obras de necessidade. O lugar da oração é indicativo da tensão entre o relacionamento com o Pai (o Alto) e a humanidade do seu tempo (nos vales da existência terrena).

b) Depois de terminar, um dos discípulos pede-lhe que os ensine a orar como João Batista ensinou. De facto, os rabinos do tempo de Jesus eram pregadores que ensinavam os seus discípulos. E estes tinham-nos como referências importantes das suas vidas, que sugeriam um modo personalizado de viver a religião.

c) Em resposta, Jesus diz-lhes Quando orardes dizei O Mestre definitivo aponta-lhes uma outra direção para a oração, não como alternativa, mas como aperfeiçoadora do ato de rezar: o tempo reservado à relação com o Pai. A Palavra e o Tempo juntam-nos ao Pai. É este o objetivo de Jesus, na sua e na oração que Ele quer que os discípulos vivam. Porque é desta relação que se desdobra a vida e nela se multiplicam os dons que da oração ao Pai nos vêm. Não há outro objetivo para a oração, senão que cada um de nós cresça de mão dada com o Pai.

Voltemos à inédita escola de oração. É-o porque:

1) Começa por ser exemplo inédito de relação. Jesus dá exemplo de oração, quer dizer, de relação com o Pai. Mostra-nos com a sua postura que a oração é uma relação primordial que qualifica todas as outras formas de relacionamento.

2) Quanto ao conteúdo ─ ou “o quê” da oração, Jesus deixa uma evocação fundamental e as petições que determinam o essencial da oração como relação com o Pai e, consequentemente, as petições que desdobram essa relação em relacionamentos humanos renovados. São elas:

Evocação: Pai. Este é o link que integra a pessoa e instaura a comunidade.

1ª petição: santificado seja o vosso nome.
2ª petição: venha o vosso reino. Estas duas petições inspiram-nos em que o ser humano é feito para a transcendência e que é esta que funda verdadeiros relacionamentos. Um bom relacionamento é que se funda em Deus.

3ª petição: dai-nos em cada dia o pão da nossa subsistência.
4ª petição: perdoai-nos os nossos pecados, porque também nós perdoamos a todo aquele que nos ofende.
5ª petição: e não nos deixes cais em tentação. Estas três petições abrem-nos à consciência de que a oração traz benefícios colaterais. Uma boa espiritualidade é a que se desenvolve nas responsabilidades para com o próximo. O Sr. D. António Couto lembra-nos de que o cuidar os outros é a grande resposta da oração diante do Pai.

Portanto, a oração que Jesus ensina com o seu exemplo é para se fazer lá onde e quando é preciso unir o humano com o divino.

A segunda leitura ensina-me duas coisas:
1ª ─ O verdadeiro trabalho de evangelização e até de ecumenismo faz encontrar os seus agentes pastorais no cuidado diligente para com os pobres.
2ª ─ As divisões ou incoerências na Igreja devem-se ao esquecimento do que significa rezar e praticar o Pai-nosso.

Hoje é o Dia Mundial do Professor. Neste dia, homenageamos todos os que contribuem para o ensino e para a educação da sociedade. Este dia promove todos aqueles que escolheram o ensino como forma de vida e que dedicam o seu dia-a-dia a ensinar, crianças, jovens e adultos. A mensagem do Dia Mundial do Professor está na dignidade e na importância do professor na sociedade, como construtor de pessoas. O professor é um profissional que é na prática um pilar da sociedade. O dia de hoje é um pouco ofuscado em Portugal pela comemoração da Implantação da República. Em 1994, a UNESCO deu origem a esta efeméride com o objetivo de chamar atenção para o papel fundamental dos professores na sociedade e na instrução da população. Hoje em dia continua a registar-se a falta de professores em vários países, especialmente nos países africanos. Em Portugal, a colocação de professores costuma pecar por tardia e por confusa, mesmo em cima do início das aulas.

Seria interessante um debate aprofundado entre o que significa implantar (a República, etc.) e o que significa instaurar (o Ensino, o bem comum, etc.). É o debate entre o proporcionar a repetição de algo que já existe e que é preciso arreigar ou generalizar (= implantar) e a arte de acrescentar ou instituir algo novo ou inovar (= instaurar). Penso que o “professor Jesus” proporcionou valor infinitamente acrescentado ao ensinar o Pai-nosso aos seus discípulos, construindo a pessoa desde a relação com Deus e para a relação com os outros. Não veio implantar o Reino, mas instaurá-lo com a Cruz (o “tau”) da Sua Morte e Ressurreição.

Da oração do Pai-nosso desdobra-se, em suma, quer a filiação divina, quer a fraternidade humana.

A apóstola da Divina Misericórdia, que foi a polaca virgem Santa Faustina Kowalska afirmou que “para a alma humilde estão abertas as comportas do Céu e cai sobre ela um mar de graças”. Este é, hoje, um apontamento útil para a oração diante do Pai e os desafios da vida com os irmãos.

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