A gratuidade da Ressurreição de Jesus: ponto de partida ou ponto de chegada?!

[Leitura] L 1 Act 10, 34a. 37-43; Sal 117 (118), 1-2. 16ab-17. 22-23 L 2 Col 3, 1-4 ou 1 Cor 5, 6b-8 Ev Jo 20, 1-9

[Meditação] No acontecimento que foi o incêndio na Catedral de Notre-Dame, assistimos a duas manifestações não habituais, no que toca à monitorização noticiosa: que franceses se tenham ajoelhado na rua para rezar; que personagens milionárias se tenham posto a doar os seus bens para a sua reconstrução rápida. Terão sido estas manifestações de todo “gratuitas”?! O que parece ter sido um desastre está a ser acompanhado por acontecimentos similares que não são, com toda a certeza, acidentais, mas manifestações de ódio ao Cristianismo, pelo mundo fora. Onde estão, agora, essas manifestações aparentemente “gratuitas”?!

A experiência de fé no Ressuscitado “corre” em dois ritmos: o primeiro é a estafeta solitária de Maria Madalena que, dando-se conta de que o Corpo do Senhor não estava no sepulcro, vai a gritar isso aos outros discípulos. O alarme dos que sofreram mais de perto aquele incêndio deveria parecer-se com este grito. Após a notícia do sepulcro vazio, lá vão os dois discípulos – Pedro e João – a confirmar, também eles em correria, mas para, com o toque ou só a visão, declarar a fé na Ressurreição de Jesus. Daqui depreendemos que a Fé na Ressurreição de Jesus não é meramente um ponto de chegada de uma caminhada feita no contacto com a presença terrena do Mestre, mas, sobretudo, um ponto de partida (porque o Mestre já não está na mesma figura física) para uma nova aventura que implica compreender as Escrituras e incarná-las na vida.

De que vale ficarmos a olhar com mais piedade ou dinheiro para os sepulcros vazios onde a humanidade continua a jazer, vítima de ódios e desespero? Há que proagir (e não só reagir), em favor do que continuam a sofrer atrocidades que ferem a dignidade humana, à partida e não à chegada! Há que trabalhar pela promoção da dignidade humana sempre e ao encontro dos que correm o risco de a perder. Porque é que rezamos publicamente só quando acontecem males ou só quando é previsto pela diplomacia social dar azo à a que a Liturgia da Igreja saia à rua? Ela é um facto privado? Não, nem sequer público-privado! Por isso, não deverá ficar fechada em quatro paredes… mesmo que as tenhamos de preservar.

Quer na oração, quer na partilha, o que se reza e o que se dá não deverá esperar nada em troca, de modo que se deve rezar sempre sem desfalecer, mesmo que seja na rua, e se deve doar sempre sem arrecadar mais que o essencial, nem esperar dividendos do que se dá. Páscoa é transformação de consciências e de opções fundamentais, para que o mundo também seja restaurado dos males que o têm asfixiado. Páscoa é sinal certo de que é possível recomeçar sempre, voltando ao início restaurador da fé. E porque é cristã e se refere a um Deus que é família, declara a verdade de que não é possível voltar a um mero caminho religioso solitário ou autorreferencial.

[Oração] Como no dia pascal:

Cristo Ressuscitou. Aleluia! Aleluia!
Cristo vive para sempre no meio de nós. Aleluia! Aleluia!
Cristo encha de paz e alegria as nossas famílias. Aleluia! Aleluia!
Celebremos a Páscoa do Senhor, na vida e na comunidade. Aleluia! Aleluia!

[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo

%d bloggers gostam disto: