Fazer de conta? Só para aprender a “jogar” a vida

[Leitura] L 1 Sir 27, 5-8 (gr. 4-7); Sal 91 (92), 2-3. 13-14. 15-16 L 2 1 Cor 15, 54-58 Ev Lc 6, 39-45

[Meditação] Neste VIII Domingo do Tempo Comum que antecede, neste Ano C do ciclo da Liturgia, o início da Quaresma, a parábola do Evangelho que Jesus conta aos discípulos pode ajudar a animar os dias de Carnaval que estamos a viver, no sentido de abrir um caminho novo de conversão e vida. Nela, Jesus utiliza a palavra grega “hipocrité”, quer quer dizer “ator” ou “máscara”, para afastar os seus discípulos de brincarem com coisas sérias, sobretudo na relação com os outros, que são chamados a não julgar. Para isso, utiliza, também, adágios frequentes na sua época: “um cego não pode guiar outro cego…”; “o discípulo  não é superior ao mestre, mas pode ser perfeito como ele…”; e “da árvore boa só podem vir bons frutos, da má virão maus frutos…”.

O jogo e a representação em teatro são componentes humanas e artísticas úteis ao desenvolvimento humano e não me parece que o Evangelho esteja contra elas, incluindo as nossas marchas carnavalescas. Nestas o ser humano esconde-se por detrás de “máscaras” para se repropor à redescoberta de si mesmo e dos outros. Porém, este jogo não se pode prolongar no tempo de forma indeterminada, com o risco de a pessoa se perder numa identidade que não seja aquele ser à imagem e semelhança de Deus, num percurso individual e comunitário que Deus designou à partida como história de amor.

Vai-se sabendo, entre a psicologia que se estuda e o mistério que se acolhe, que o desenvolvimento humano precisa do jogo e de uma educação que se desenvolva na expressão e no controlo, para que a pessoa consiga fazer a passagem da “bios” (vida…) ao “logos” (…com sentido), passando pela tensão do “pathos” (ação, paixão, decisão livre). O jogo sustenta os parâmetros onde, também, o mistério de concretiza. São eles: a alteridade e a contínua tensão entre o sujeito e um objeto; a temporalidade pela referência e avizinhamento entre jogo e cultura, servindo para ligar passado, presente e futuro; e os estádios, sendo a estrutura do jogo sempre precária e provisória, por um lado, e exprimindo um modo de afrontar a realidade que está em relação com o mistério, por outro.

Torna-se assim, o jogo da Sapiência! (cf. Pr 8, 27-31)

[Oração] Provérbios 8, 27-31:

Quando Ele formava os céus, ali estava eu;
quando colocava a abóbada por cima do abismo,
quando condensava as nuvens, nas alturas,
quando continha as fontes do abismo,
quando fixava ao mar os seus limites,
para que as águas não ultrapassassem a sua orla;
quando assentou os fundamentos da terra,
eu estava com Ele como arquitecto,
e era o seu encanto, todos os dias,
brincando continuamente em sua presença;
brincava sobre a superfície da Terra,
e as minhas delícias é estar junto dos seres humanos.

[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo

%d bloggers gostam disto: