A gramática para se saber desfrutar a alegria cristã

[Leitura] Is 61, 1-2a. 10-11; Sal Lc 1, 46b-48. 49-50. 53-54; 1 Tes 5, 16-24; Jo 1, 6-8. 19-28

[Meditação] Costuma dizer-se que o excesso de passado gera a depressão, o excesso de presente gera estresse e o excesso de futuro gera ansiedade. E parece ser verdade, mesmo constatando que muitas pessoas escondem estas perturbações por detrás de momentos divertidos por uma alegria aparente.

A Palavra do III Domingo do Advento, chamado de “Laetare” (da Alegria) ajuda-nos a perceber a gramática que, se declinada com serenidade, coragem e abertura, poderá levar-nos a experimentar graciosamente a alegria prometida por Jesus Cristo e já presente no Seu Nascimento, assim como na sua vinda constante às nossas vidas:

1) Memória. O Prólogo de João (o evangelista) é um convite a remontarmos à eternidade para saber da origem de Jesus Cristo, para não ficarmos só pela contemplação da sua carne. Ele é o Verbo eterno do Pai! Assim, também, cada ser humano pode considerar-se filho no Filho, não só por ter um corpo, mas também por uma existência sonhada e querida pelo mesmo Pai, de maneira que a devemos a esse eterno Amor, também com a colaboração dos pais terrenos, assim como para Jesus foi importante a missão de Maria, José e João Batista (o Precursor que aponta e não substitui). Revisitar o passado, nesta ótica, implica a aceitar purificação da memória dos maus acontecimentos (inclusive, do próprio pecado) e constatar, na fé, do bem que Deus nos proporcionou.

2) Irrepreensibilidade. Para o Apóstolo Paulo, o ser humano é um todo formado de sarx, anima e pneuma. Ou seja: uma unidade complexa formada de corpo, psique e espírito. Não basta estar bem fisicamente para experimentarmos a alegria (é frequente estar com pessoas doentes que me transmitem mais alegria do que aquela que, por vezes, sinto!). Também são tão necessárias a inteligência espiritual e emocional para que a experiência da alegria nos tire daquela tensão a que chamamos estresse que, por vezes, não nos deixa comunicar com o corpo, nem sentir paz, nem, até, rezar. Experimentar a alegria cristã implica o cuidado (a irrepeensibilidade) para com essas três dimensões.

3) Abertura à novidade. Se esta atitude diante da novidade da graça de Deus, como é que a alegria cristã pode ser oferta de Deus, antes que esforço do ser humano? Se fosse um bem comprado nos hipermercados, há muito que teria acabado. Mas… continuar a “nascer” e a “renascer” em cada criança e em cada etapa do nosso viver. E, como nos anuncia o Profeta Isaías, é uma possibilidade para os mais necessitados, diante de tanta indiferença humana para com os pobres e marginalizados por diversas causas. Por isso, os tradicionalismos humanos são o pior “berço” para a alegria cristã. A Tradição da Igreja, por outro lado, procura profetizar, celebrar e anunciar esta Luz que aclara a vida humana, denunciando tudo o que a pode ofuscar.

Também o Papa Francisco tem vindo a ser um “precursor” da nossa alegria cristã, apontando-nos novos caminhos que dependem mais do encontro (físico, psíquico e espiritual) com Jesus, do que com algum empreendedorismo humano caro (porque cansativo e estressante) que possamos fazer:

A Alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria. Quero, com esta Exortação, dirigir-me aos fiéis cristãos a fim de os convidar para uma nova etapa evangelizadora marcada por esta alegria e indicar caminhos para o percurso da Igreja nos próximos anos.

O grande risco do mundo actual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada. Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza da doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem. Este é um risco, certo e permanente, que correm também os crentes. Muitos caem nele, transformando-se em pessoas ressentidas, queixosas, sem vida. Esta não é a escolha duma vida digna e plena, este não é o desígnio que Deus tem para nós, esta não é a vida no Espírito que jorra do coração de Cristo ressuscitado.

A Alegria do Evangelho, nn. 1-2

[Oração] Rezar em família:

Senhor, faz de nós uma família feliz, capaz de contagiar esta alegria junto de outras famílias. Que saibamos inventar mais momentos de convívio familiar, seja à ‘volta da lareira’, seja ao ar livre com a Natureza!

[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo

%d bloggers gostam disto: