A cruz itinerante é antídoto para o egoísmo estagnante

[Leitura] Jer 20, 7-9; Rom 12, 1-2; Mt 16, 21-27

[Meditação] Neste XXII domingo do tempo comum contemplamos o profeta Jeremias entre a sedução do Senhor e a frustração da missão. Esta contradição não é, certamente, estranha a nós cristãos, entre a fé pessoal e o compromisso comunitário de testemunhar a Palavra de Deus na sociedade. Aliás, a sedução de Deus não se esconde por detrás de nenhum bem-estar inútil; assim como os confrontos desagradáveis não conseguem apagar o fogo do amor de Deus que arde no coração de cada um de nós (nem que seja no mais íntimo).

O convite de Jesus, de renunciarmos a nós próprios e tomar a própria cruz, em primeiro lugar, implica que cada um/uma saiba enuclear de que “madeiro” ela é feita. O que te faz sofrer, de modo a sentires-te estagnado/a? O que nos faz sofrer costuma ter como “consola” ou “base de carregamento” (como para os smartphones) o umbigo pessoal. Aquele convite tem como primeio objetivo desinstalar-nos daquilo que compreensível ou incompreensivelmente nos dói, renunciando à absoluta compreensão que nos levaria a ser donos de nós mesmos num bem-estar físico ou psicológico que nada tem de promessa espiritual. É assim que podemos compreender a tentação de Pedro.

Em segundo lugar, o convite a seguir o Mestre, de facto, implica aquela autodescentralização ou autoreferenciação, pois para efetivamente O seguirmos não basta a mera vontade de querer, mas de realizar as escolhas que combinam com a vontade de Deus, na radicalidade dos atos ou dos factos. Um distanciamento de si próprio/a que, embora na consciência da própria fraqueza, nos leve ao encontro de quem nos incentiva a ver com realismo o que somos e o que o nosso ser transformado por Cristo nos permitirá realizar.

Na possível aridez do caminho, a oração confiante do salmo 62 é remédio, não só para não desistirmos da entrega pessoal a uma missão concreta, mas também uma motivação a deixarmo-nos trabalhar por dentro, não em conformidade com este mundo, mas com a vontade de Deus, que o Espírito Santo nos vai fazendo contemplar nas palavras e atitudes de Jesus.

[Oração] Sal 62 (63)

[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo

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