Ser discípulo é preferir Jesus e estimar-se para amar o próximo

[Leitura] Rom 13, 8-10; Sal 111 (112); Lc 14, 25-33

[Meditação] Por vezes olha-se para os seguidores de Jesus Cristo como pessoas que têm de gostar só de coisas estritamente ligadas à religião, como se não pudessem gastar algum tempo ou esforços com coisas tidas como “profanas”. Também é frequente haver quem pense e demonstre que para se ser discípulo, alguém tenha de ser sumamente perfeito, como se a maturidade fosse algo estático e alcançável de uma vez por todas nesta ou naquela idade. Por outro lado, há quem pense que carregar a cruz é ser masoquista. Nada disto! Na liturgia de hoje, providencialmente memória de S. Carlos Borromeu, padroeiro dos Seminários, volta a entrar em jogo a questão da autotranscendência que, para ser eficiente e afetiva se aconselha que seja teocêntrica, para ser filantropicosocialmente bem sucedida (sem socialismos fantochados) e egocentricamente razoável e não exagerada (narcisista). As ciências humanas já há muito nos ajudaram a perceber que há em cada pessoa um conflito ou dialética de base no seu íntimo mais íntimo que contém os elementos contrários que constituem o “combustível” de uma luta interior. Talvez seja esta a cruz que Jesus quer que cada um carregue.

E para não se perder, cada um pode preferi-Lo a Ele e ao que Ele gosta, de forma a deixar-se iluminar por aquilo que verdadeiramente ajuda a “resolver” ou “integrar” (tanto quanto se pode nesta vida) os elementos daquele conflito de base, em ordem a viver-se o equilíbrio e a caridade sem limites. Se, como diz o Apóstolo, a caridade não faz mal ao próximo, muito menos a quem a pratica. Pelo contrário, porque proveniente d’Aquele que preferimos imitar, é fonte de felicidade crescente para ambos.

Na formação humana, em geral, e na sacerdotal, em particular, a dimensão espiritual foi sempre considerada prioritária e aquela que envolve todas as outras dimensões da formação − humana, intelectual, comunitária e pastoral −, informando-as de forma a fazê-las progredir o mais possível, para que se chegue ao homem perfeito, o que só advém no mais além, quando vermos Deus face-a-face, mas cujo progresso nesta vida não nos escusa de algumas renúncias para conseguirmos andar em frente sem regressões que aumentem a cruz pessoal. Na verdade, a cruz é para estimar tanto como a felicidade. Não se trata de diminuir, como sugerem alguns cartoons do face, mas de deixar que dela salte a luz que ilumina o caminho, como uma tocha. Na verdade, muitos dos elementos que alimentam a nossa luta interior (coisas de que não gostamos em nós) são, ao mesmo tempo, o tal combustível que faz o motor da vida andar. Convém é guiar bem o carro e… escolher bem o mapa, os sinais e a meta!

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