O Espírito Santo, alma da Igreja, joga à defesa nesta nossa missão contracorrente

At 16, 11-15; Jo 15, 26 – 16, 4a

Ter medo dos tempos que correm, com as adversidades que temos de ultrapassar no meio da missão que Jesus Cristo nos confiou é sinal de que há pouca confiança no Paráclito ─ um dos nomes dados ao Espírito Santo ─, o Defensor que Cristo nos envia de junto do Pai, para nos sugerir o que havemos responder no tempo oportuno, para sermos capazes de dar razões da nossa esperança no meio de tribulações (cf. 1Pd 3, 15-18).

Por vezes, tendemos a ignorar este divino “espírito santo de orelha” na hora de “chutar a bola” para o campo do adversário. Esquecemo-nos de que não se trata de ganhar por ganhar, nem da vitória de um clube, mas de fazer um caminho em que o “Nós e o Espírito Santo” decidem em conjunto (cf. Act 15,28), em direção à plenitude. Dar testemunho cristão é mais do que uma paráfrase do desporto: implica não atirar às cegas, nem atirar para matar. Se assim fosse, em nada nos pareceríamos com Aquele que dizemos seguir.

O Papa Francisco no “Regina Coeli” deste VI Domingo da Páscoa garantiu-nos que

O Espírito Santo quer estar conosco: não é um hóspede de passagem que nos vem fazer uma visita de cortesia. Ele é um companheiro de vida, uma presença estável, é Espírito e deseja habitar em nosso espírito. Ele é paciente e está conosco mesmo quando caímos. Permanece porque realmente nos ama: não finge que nos ama para depois nos deixar sozinhos nas dificuldades.

Fonte

Jesus tinha consciência de que muitos dos perseguidores não conheceram o Pai nem a Ele (cf. versículo 3 de Jo 16). Significa que o desconhecimento do Amor eterno leva muitos seres humanos a cometer atrocidades contra os seus semelhantes. Por isso, os discípulos de Cristo só podem gastar o tempo em ser missionários desse Amor que ajuda a mudar de perspetiva. Para que a conversão a este Amor possa acontecer, é preciso realizar uma dupla hospitalidade: por um lado, a adesão do coração ao que os Apóstolos transmitiram e transmitem, por outro, a ousadia de permanecer alguns dias com os destinatários da Boa Nova, sejam eles quais forem.

Um dia, um amigo perguntou-me se eu sabia porque é que o dinheiro não cresce quando o deixamos cair ao chão (vulgo: quando o “semeamos”). Respondi-lhe da maneira mais óbvia: Porque não é orgânica e não se faz render como as sementes. Não ─ replicou ─ é porque o apanhamos logo, não o deixando criar raízes. Lembro-me desta desconversa cómica no momento em que reflito que, também, porventura, a conversão ou o crescimento de um descrente muitas vezes não acontece, pelo menos visivelmente, porquanto os que são discípulos de Jesus Cristo tenham dificuldades em permanecer junto deles, nas suas casas, nos seus parques de diversões, dos seus corredores de trabalho. Como pode a semente da Palavra frutificar se a lançarmos como “dardo” para ferir e separar? De usar da autodefesa todos temos direito, se do outro lado vier algo que fira a consciência, a dignidade ou a vida física individuais.

Reflito ser a família um lugar onde se aprende a “namorar” com o Espírito Santo que o Pai e o Filho nos enviaram, para aprendermos a ser família à sua imagem e semelhança, sem ser rejeitados nas quedas, nem evadidos nas vitórias. Os objetivos da celebração do Dia Internacional da Família provam, pois, a sua importância como núcleo vital da sociedade. Não o é menos no que toca à missão da Igreja.

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