A iniciação cristã de um adulto não culminará até que o mesmo não consiga calar o impulso evangelizador
At 9, 1-20; Jo 6, 52-59
Uma das dimensões da Liturgia pascal que se desdobra desde a grande Vigília em que se celebra a Ressurreição de Jesus é a liturgia batismal, desde o início da Igreja como caminha catecumenal. E depois da Páscoa, a liturgia tem um caráter mistagógico, quer dizer, de iniciação nos mistérios da vida de Cristo. Quer dizer, a narração das aparições do Ressuscitado e os outros textos escolhidos para a celebração da Páscoa têm a finalidade de nos (re)iniciarmos no caminho para vivermos a vida em Cristo.
Ao falar-nos de Jesus como Pão da Vida, o evangelista João tem uma dupla intenção: por um lado, contra os docetas, afirmar a plena e verdadeira realidade da humanidade de Cristo, opondo-se à “espiritualização” da Sua humanidade; por outro, definir a Eucaristia como a continuação da incarnação. Deste modo, aquela “carne” que durante a Quaresma fomos convidados a evitar, para superarmos os apetites relacionados com a mesma, é aqui apresentada como “obrigatória” para definir o Pão da Vida que somos chamados a comer para vivermos de e a partir de Cristo.
A liturgia de hoje é um convite a adentrarmo-nos por uma intimidade com Cristo que seja concreta e não uma experiência espiritualizada. Precisamos do corpo para a salvação! Vejamos a experiência de Saulo: percebeu que o poder de Deus antecipou-se a ele, amando-o mesmo no caminho contrário àquele que Deus previu para ele. Como aconteceu com Jonas. A luz de Cristo cegou-o para que pudesse abrir os olhos para uma nova maneira de ser fundada na relação com Cristo, a partir da comunidade, que o introduz e lhe explica o caminho que há de trilhar e a partir do qual será apóstolo. A leitura de hoje, apresenta-nos um verdadeiro processo de iniciação cristã.
Mesmo os que somos já batizados precisamos de nos deixarmos (re)inicializar no caminho da fé, até que o impulso evangelizador nos faça sair para fora, para a estrada a manifestar a luz de Cristo. Se queremos ser instrumentos de Cristo, deixemo-nos, também, levar pela mão.
Precisamos de processos de iniciação cristã que, para além de nos ajudarem a habitar uma comunidade cristã, nos ajudem a exercer um serviço em saída. No que toca aos adultos, entrar/habitar e sair podem ser momentos concomitantes. Aprende-se a ser escutando e fazendo o que Deus manda.