A “vinha do Senhor” está aberta a todos os que estiverem dispostos a servir

Gn 37, 3-4. 12-13a. 17b-28; Mt 21, 33-43. 45-46

A observar pelos destinatários da parábola de Jesus ─ príncipes dos sacerdotes e anciãos do povo ─, é clara a intenção de Jesus e o objetivo desta parábola, em relação à defesa do povo a qualquer fechamento ou opressão. Não faz sentido, para o povo que foi libertado do Egito e fez a sua “páscoa” contínua como caminho pela história, ficar presa a algum tipo de opressão por parte de qualquer tipo de sistema sedentário.

O novo povo de Deus ─ que é a Igreja ─ também pode correr o risco que está na base da advertência de Jesus àqueles chefes religiosos. Por isso, é chamada a caminhar em renovação contínua, para se fiel à identidade e missão que Cristo lhe confiou.

Uma das “páscoas” que hoje somos convidados a realizar é: De uma separação ou desordenada relação entre sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial à comunhão no serviço, através do chamamento e preparação de novas vocações e ministérios. Onde houver um abismo entre pessoas da mesma comunidade (paróquia ou diocese, ou país) é porque há a necessidade de atender com urgência a esta parábola. É por isso que o Papa Francisco tem afirmado com veemência que o clericalismo é uma perversão da Igreja. Onde ele existe, mais ou menos explicitamente, há uns a aproveitar-se de outros para sobreviver. E a Igreja não tem como missão ajudar-nos a sobreviver, mas a viver. E a vida é dom para todos e requer o serviço de todos, mediante a diversidade de dons e talentos que o Espírito concede a todos os homens e mulheres de boa vontade. É óbvio que a tendência o clericalismo não é meramente um problema do clero; pode ser uma tendência de alguns fiéis batizados que não estão tão bem (in)formados sobre a relação de reciprocidade entre todas as vocações e ministérios, com direitos e deveres previstos no Código de Direito Canónico e no Magistério da Igreja. A fonte destes, que é a Sagrada Escritura, é clara, mas está muito distante e precisa de ser assimilada e discernida nas circunstâncias atuais. Os cristãos que frequentam ou “habitam” as assembleias litúrgicas têm o dever de abrir as comunidades ao bem e fechá-las ao mal. É este o sentido da “incardinação” entendida na ampla dimensão da missionaridade da Igreja, que é a Evangelização. Neste sentido, ouso defender que não são só os clérigos que precisam de estar “incardinados”; os leigos comprometidos através dos movimentos, associações e obras, assim como os religiosos e religiosas, deveriam, também, sentir no coração uma “incardinação” a um projeto comum, fugindo todos à tendência de “dividir ou confundir para reinar”. É esta, para mim, a maior perversão da missão, como advertiu Jesus, numa certa ocasião, à multidão: “Quem não está comigo está contra mim, e quem não recolhe comigo dispersa” (Lc 11,23).

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