A oração alinha o nosso projeto pessoal de vida no projeto de Deus, tendo como pano de fundo a memória e como ponte a confiança

Est 4, 17. n. p-r. aa-bb. gg-hh; Mt 7, 7-12

A oração é um dos elementos “gramaticais” ou um conteúdo metodológico da quaresma que, associada aos outros dois que são o jejum e a esmola, nos ajudam a fazer o caminho até à Páscoa. E quanto mais feita em segredo, mais à atenção chama o Senhor, que tudo vê e sabe o que precisamos. Inicia e pressupõe, na continuidade, um projeto de vida que se vá afinando com o projeto de Deus, através de um discernimento contínuo.

No “mínimo” dos mínimos, Deus espera por um ato de consciência e de liberdade que pode concretizar-se num pedido (“pedi”), numa procura (“procurai”) e em importunar alguém (“batei à porta”), confiando que o Bom Deus é capaz de nos dar muito mais do que, sendo maus, nós somos capazes de dar a quem amamos. Repito: dentro de um projeto pessoal que aspire concretizar o projeto de Deus a nosso respeito. É curioso que a oração de Ester é semelhante à oração de Mardoqueu (no mesmo Livro) e à de Judite; como acontece ao Magnificat de Maria em relação ao cântico de Ana (cf. 1 Sam 2). Significa que estes orantes estavam como que alinhados no projeto de Deus, coincidindo em pedir e louvar dentro dos mesmos cânones que se referem à vontade de Deus sobre a respeito da sua vida. No mínimo da oração, é-nos pedida a proatividade, diante de algo que vejamos estar a interferir no caminho que acreditamos Deus trilhar para nós.

No “máximo” possível, a oração implica estarmos atentos e preparados para receber o que Deus tem para nos dar, dentro do seu desígnio de amor e na Sua atenção ao nosso caminhar sobre esta terra. No máximo, a oração implica serenidade para aguardar o que se pediu, demore o que demorar na lógica de Deus em relação ao tempo.

O mínimo e o máximo da oração terão de ter como “ponte” a confiança: para pedir-procurar-bater e para esperar-acolher o que Deus, na sua bondade, quiser presentear-nos.

Ester reza a Deus estando em perigo de morte. Não sendo o nosso caso, e para não nos perdermos em miudezas que não tenham que ver com o projeto de Deus (e que trazem à nossa oração muita aridez), se não tivermos graves motivos para rezarmos, abramos os jornais, que certamente os encontraremos.

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