O processo de conversão implica uma dupla confiança: na promessa de Deus e na fé pessoal/comunitária

Jn 3, 1-10; Lc 11, 29-32

Na profecia de Jonas hoje proclamada, saltam-me à vista dois aspetos:

1) Em relação a quem é enviado ─ Jonas: primeiro é convidado a levantar-se e a ir e só depois é que recebe a mensagem que irá apregoar. A Jonas é pedida a confiança na promessa de Deus.

2) Quanto à cidade de Nínive, que leva três dias a atravessar, só precisaram que Jonas apregoasse durante um dia, para que a mensagem se espalhasse e chegasse ao rei, que logo decretou o que seria eficaz para aplacar a ira de Deus. A Jonas é pedida a confiança no “sensus fidei” do Povo.

O povo de Nínive poderia estar desviado, mas ainda não tinha perdido a capacidade de proagir. Comparo esta situação à da deflagração dos incêndios que assusta e destrói a vida das comunidades, entre o aviso das autoridades e do envio de bombeiros e da capacidade de interagir das pessoas afetadas, de forma comunitária, procurando salvar a todos.

Deus dá quarenta dias a Nínive, como prefiguração do tempo da Quaresma que vivemos na Liturgia, para que a conversão seja um processo e não meramente um ato, processo no qual, à luz desta profecia, vejo três passos:

1º ─ A escuta da Palavra de Deus, mediante uma pregação consequencial (“daqui a quarenta dias…”);

2ª ─ O assentimento da fé através de sinais práticos (alimentação e vestes);

3º ─ A consolidação de medidas (o decreto do rei) que deem consistência à mudança de vida com que se responde efetivamente ao amor de Deus, que quer que vivamos!

Por vezes, acho estranho que a Quaresma seja vista ou organizada como um fim em si mesmo, a ver pela falta de criatividade com que se procura viver a fidelidade e pela fugacidade da celebração da Páscoa, como se os quarenta dias pudessem esgotar o poder dos cinquenta dias. Carecemos de novas formas de pregação que tire da premonição das consequências que se vislumbram no modo de viver humano, algum fruto sonhado pela Palavra de Deus que se nos antecipa no caminho, pela pregação, oração e ação.

Com o Evangelho aprendemos que quando não estamos abertos a colaborar com a salvação, como processo quotidiano de escuta e envolvimento no que a Palavra de Deus nos diz, tão pouco serviriam os sinais que desejamos, para onde transferimos a força necessária que seria proveitosa ao nosso crescimento para Deus.

Hoje, celebra-se o Dia Mundial da Proteção Civil. Surgiu em 1949 no protocolo 1 do Tratado de Genebra “Proteção das vítimas dos conflitos internacionais armados”, definindo-se como um sistema nacional de gestão dos serviços de emergência que proporciona assistência e proteção a toda a população perante um desastre ou acidente. Em Portugal, neste dia, organizam-se habitualmente simulações, exposições, ações de sensibilização e outras iniciativas que tentam informar e integrar a população em geral na proteção civil. Porque não, ao nível da vida da fé, aproveitar a quaresma para fazer “simulacros” que nos levem além de meras exposições de património do passado, mas verdadeiras exposições sobre o que poderá vir a acontecer se a atitude humana e cristã não melhorar a respeito daquilo que verdadeiramente nos faz experimentar a Páscoa?

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