Oração: voz entre dois silêncios. É mais “afinada” a voz daquele que perdoa

Is 55, 10-11; Mt 6, 7-15

Conheci um autor de teologia espiritual que definiu a oração como “Voz entre dois silêncios: o silêncio do Pai em quem a voz começa e termina, e o silêncio do coração humano que a recebe e, através da força do Espírito, a restitui como dom de si sempre mais pleno. O objetivo do seguimento é o de afinar progressivamente a voz humana, através do apuramento do significado, natureza e caraterísticas da oração cristã (Costa, Maurizio. Voce tra due silenzi. La preghiera cristiana. Bologna: EDB, 1998).

No Evangelho de hoje, Jesus é claro no método e consequente: falar pouco diante de um Pai que sabe o que precisamos antes de lho pedirmos. E ensina-nos a oração do Pai nosso, que tem o perdão aos irmãos como o “termómetro” de como vai a relação com Deus.

O jesuíta Franz Jalics, ao ensinar-nos a proporcionalidade incontornavelmente presente entre a nossa relação com Deus e os outros, disse:

Enquanto queirais impor a outros as vossas convicções ─ presunçosos pelo que sabeis ─ ninguém vos vai ouvir, mesmo que o que vocês têm para dizer seja a coisa mais valiosa que a humanidade possui. (…) A relação com os outros determina a nossa relação com Deus e vice-versa. A relação com Deus e a relação com as outras pessoas discorrem sempre em paralelo e que uma para a outra podem ser banco de prova ou controlo de autenticidade. Porque é o mesmo coração humano que entra em contacto com Deus e com os outros. Por esta razão, quem alcança uma atitude contemplativa no seu trato com Deus será também compreensivo com as pessoas com quem se relaciona e se abrirá a elas com confiança e paz. Claro que também é certo o contrário: quem não é capaz de entender os seus semelhantes e de comunicar-se com eles, tão pouco chegará longe na sua relação com Deus.

Franz Jálics, Escuchar para ser: dimensión contemplativa de las relaciones interpersonales, ed. Pablo d’Ors (Salamanca: Ediciones Sígueme, 2022).
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