O jejum é o que nos permite ver a presença na ausência, jejuando da presente aparência. A realização do bem é a evocação da presença de Deus

Is 58, 1-9a; Mt 9, 14-15

Observamos com a ajuda de Isaías que o povo estava ausente quando Deus estava presente; e quando Deus parecia estar ausente, o Povo reclamava a presença, pedindo-Lhe sentenças justas. Por isso, questionavam a validade do jejum, vivendo-o e apresentando-o como um fim em si mesmo, quer dizer, com uma moeda de troca por bens perecíveis e a curto prazo. Fazer jejum não é um descargo de consciência diante da corrida para os negócios e a opressão dos servos. Jejuar no meio de contendas é escolher mal o conteúdo ou matéria do jejum.

É Jesus que nos ensina o verdadeiro “jejum que agrada ao Senhor”, já anunciado pelo profeta:

…quebrar as cadeias injustas, desatar os laços da servidão, pôr em liberdade os oprimidos, destruir todos os jugos? …repartir o teu pão com o faminto, dar pousada aos pobres sem abrigo, levar roupa aos que não têm que vestir e não voltar as costas ao teu semelhante?

Versículos 6-7

Esta formulação dos conteúdos do jejum em modo de perguntas, faz com que o Senhor apele à liberdade, colocando os seus ouvintes entre as fragilidades e a respetiva cura, esperando uma decisão consciente e livre.

Então a tua luz despontará como a aurora, e as tuas feridas não tardarão a sarar. Preceder-te-á a tua justiça e seguir-te-á a glória do Senhor. Então, se chamares, o Senhor responderá; se O invocares, dir-te-á: “Estou aqui”».

Versículos 8-9a

No presente daquele povo, o Senhor promete o que na sua aparente ausência cumprirá, aos olhos da fé. Em outras reflexões homiléticas descobrimos que os milagres pressupõem a fé e a fé pressupõe a Sagrada Escritura. Por sua vez, esta pressupõe o jejum. Jejum de palavras inúteis, jejum de maus desejos, jejum de más ações. Só quando o nosso intelecto, a nosso afeto e a nossa vontade estiverem voltados para o Senhor, disponíveis, é que estaremos predispostos a viver aqueles bens que o Senhor nos promete.

Os três parâmetros que a antropologia cristã também assina sobre a dinâmica do desenvolvimento humano, estão presentes no Evangelho de hoje: as etapas (do discipulado), a presença (do “esposo” Jesus) e a ausência (o tempo da Igreja em que nos foi enviado o Espírito Santo).

O que temos, hoje, para oferecer ao Senhor é o nosso coração humilhado e contrito, por olharmos num curto alcance e por termos as pernas curtas. Peçamos-Lhe que Ele não o despreze, por sabermos ser o nosso centro de paixões e decisões que determinam o sentido da nossa vida entre a oferta divina de vida eterna e a nossa liberdade esclarecida.

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