O convite a seguir Jesus está aberto a todos, sem aceção de pessoas. Há que perder algo para que chegue a todos!
Gn 11, 1-9; Mc 8, 34 – 9,1; comentário inspirado em VV.AA. Comentáros à Bíblia Litúrgica. Assafarge: Gráfica de Coimbra 2, 2007.
Ter vergonha de Jesus levará a que Jesus possa vir a ter vergonha de nós. A solução é perder algo no confronto com os outros, para virmos a ganhar no confronto com Jesus.
Como vimos ontem, há uma “cristologia satânica” que leva a uma “eclesiologia satânica”. Aquela apresenta Jesus como sacerdote poderoso ou também como aliado do poder político que deriva na apresentação de uma Igreja como comunidade de poder sacerdotal ou uma comunidade sacerdotal aliada com o poder. Hoje sabemos bem, desgraçadamente, no que derivam os abusos de poder e de consciência, dos quais derivam os abusos sexuais.
O dualismo salvar e perder a vida, na linguagem de Jesus, levou, posteriormente, a uma mística platonista que derivou na dicotomia “corpo” e “alma”, de teor masoquista que levou a uma cosmovisão negativa: tudo o que teria que ver com a alma é bom e tudo o que teria a ver com o corpo é mau. Daqui deriva a “mortificação” como bem absoluto, pensando alguns que ela produzisse automaticamente a certeza da “salvação da alma”. Os ensinamentos de Jesus levam-nos a seguir um caminho diferente: os grandes sinais da sua vida são libertadores em sentido perfeitamente corporal: saciar a fome, obter a cura, superar a angústia e, inclusivamente, ultrapassar a morte.
O segredo da vida cristã está em superar o poder egoísta, colocando tudo o que somos e temos, seja a nível dos bens espirituais, como dos corporais, ao serviço da edificação e defesa da dignidade humana.