A fé pressupõe o seguimento de Jesus na senda das Escrituras
Ontem, com a cura do cego de Betsaida, concluíamos que os milagres pressupõem a fé em Jesus. Com a consulta de Jesus aos seus discípulos sobre a Sua identidade, aprendemos que a fé pressupõe um conhecimento aprofundado das Escrituras, onde está prefigurada a entrega de Jesus Cristo como servo sofredor.
Enquanto que as multidões ainda viam mal a identidade de Jesus, como aquele cego de Betsaida antes da cura total da visão via homens como “árvores”, Pedro já via qualquer coisa ─ «Tu és o Messias» ─ mas parece que estava com um “descolamento de retina”, quer dizer, sabia intelectualmente bem que Jesus era o Messias de Deus, mas, emocionalmente, estava marcado pelos triunfalismos e nacionalismos da sua gente. Ele não erra no alvo, mas não acerta no centro: Jesus tinha de sofrer, antes da vitória da ressurreição.
É curioso que o episódio de hoje entra em contraste com o de ontem (Mc 8,22-26): enquanto que Jesus, para curar o cego, afasta-o daquela localidade para um “pedaço de Céu”, onde vigoram os procedimentos próprios de um Deus que Se aproxima para tocar a vida do homem e a sanar, no episódio de hoje, Pedro afasta o Senhor do caminho do Céu para a lógica terrena para O contestar. Por isso, Jesus diz-lhe “vai-te Satanás”, melhor traduzido: Pedro, põe-te atrás de Mim e segue-me. Doravante, o seguimento ou discipulado nunca deixará de ser identitário na vida de um crente. Só assim é que poderá haver missão, igualmente parte do estar e sair em Igreja. Segundo Jesus, a missão da Igreja assenta na teologia do Filho do homem, da qual Pedro ainda é só um mero aprendiz.
Na primeira leitura do Livro do Génesis, temos como que um “terceiro” relato da criação, em que Deus exorta a Noé e aos seus filhos que sejam fecundos e que dominem a terra. Aparece três vezes a expressão “pedirei contas” e três vezes a palavra “aliança”. Está aqui prefigurada a atitude de Jesus diante dos seus discípulos: para que haja nova aliança, é preciso prestar contas no caminho para os bens prometidos, sem subterfúgios ou desistências apoiadas na lógica humana.
Para se aceitar o grande e definitivo milagre da Ressurreição é preciso viver uma fé não triunfalista, apoiada na vivência do que dizem as Escrituras que têm como máxima autoridade o que Cristo viveu e ensinou com as suas palavras e ações.