Mc 1, 29-39

Neste pequeno trecho narrado pelo evangelista Marcos, vemos pelo menos seis trajetórias provocadas pela presença significativa de Jesus, com os seus discípulos e ao encontro das multidões: (1) da sinagoga para a casa de Simão e André (Jesus, Tiago e João); (2) da cama para a cozinha (a sogra de Pedro); (3) da refeição e convívio íntimo para a porta da casa (à noite, em que procuravam Jesus muitos doentes); (4) daquele vale para um sítio ermo (Jesus, de manhã muito cedo para orar); (5) a subida dos discípulos ao monte onde Jesus Se encontrava a orar (levando-Lhe a notícia de que todos O procuravam); (6) daquele sítio ermo de Cafarnaum para muitos lugares das povoações vizinhas da Galileia (para cumprir o mandato de pregar e curar).

Os gestos que matizam a pregação de Jesus e as suas consequências são diversos: a visita a Simão e seu irmão André, na sua casa; a aproximação de Jesus à sogra de Pedro, tomando-lhe a mão e levantando-a; o serviço daquela idosa já curada; a reunião dos doentes à beira da porta e a cura operada por Jesus; o silenciamento dos demónios; Jesus levanta-se e sai para orar; os discípulos procuram-n’O para O informar de que muitos o procuram; o alargamento do mapa da missão de pregar e curar.

Desta narração, no seguimento da cura do possesso na sinagoga, aprendemos pelo menos três lições:

1ª ─ Que o Senhor é poderoso para curar seja qual for a doença e transformar seja qual for a situação. Não importava a natureza de suas doenças; Jesus curou a todas aquelas pessoas.

2ª ─ Os seguidores de Jesus também ficam doentes e os seus familiares são chamados a acompanhá-los. Notemos que enquanto Tiago e João tinham estado na sinagoga com Jesus, Pedro e André ficaram em casa a cuidar daquela familiar idosa.

3ª ─ Jesus é Aquele em quem se cumprem as Escrituras, Ele que verdadeiramente «tomou sobre si nossas enfermidades e carregou as nossas doenças» (Mateus 8,17; cf. Isaías 53,4). Mesmo que os discípulos de Cristo não vejam curadas todas as suas enfermidades, somos confortados em saber podemos assomá-las à Paixão de Cristo (cf. Col 1,24) e que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus (cf. Rm 8,28), descansando seguros de que nada pode ser capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus (cf. Rm 8,35-39).

O Papa Francisco recebeu em audiência, no Vaticano, os signatários do “Rome Call for A.I. Ethics”, um documento sobre o desenvolvimento ético da inteligência artificial, assinado por representantes das três religiões abraâmicas. O Santo Padre comunicou-lhes que “A fraternidade entre todos é a condição para que o desenvolvimento tecnológico esteja a serviço da justiça e da paz em todo o mundo. (…) De fato, cada pessoa deve poder desfrutar de um desenvolvimento humano e solidário, sem que ninguém seja excluído. Trata-se de vigiar e trabalhar para que não se enraíze o uso discriminatório desses instrumentos em detrimento dos mais frágeis e excluídos. Lembremo-nos sempre de que a forma como tratamos os últimos e menos considerados entre os nossos irmãos e irmãs mostra o valor que damos ao ser humano. É possível dar um exemplo dos pedidos dos requerentes de asilo: é inaceitável que a decisão sobre a vida e o destino de um ser humano seja confiada a um algoritmo.”

A visão de Jesus “vamos a outros lugares” alarga-se hoje ao âmbito de uma “antropologia digital”, que devem ser cruzadas com três coordenadas fundamentais: ética, educação e direito. O Papa encorajou-os “a prosseguir com audácia e discernimento, na busca de caminhos que conduzam a um envolvimento cada vez maior de todos aqueles que têm no coração o bem da família humana”.

Dom Vicenzo Paglia, presidente da Pontifícia Academia para a Vida, sublinha que “a primazia do ser humano deve prevalecer sobre a inteligência artificial”. Para nós, é importante atermo-nos à aprendizagem da pregação algorítmica, quer dizer, uma pregação ética que, diante das descobertas tecnológicas, não deixe de levar a Jesus os problemas sofridos pela humanidade e não cesse de amplificar ações de cura que implicam o respeito para com a visão integral do ser humano.

Realizado por Zen Palagniuk (String Art)
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