Luz do Natal do Senhor: ótica divina já presente na fibra humana universal, contemplando-Lhe o Ser e imitando-Lhe o fazer

Is 52, 7-10; Hebr 1, 1-6; Jo 1, 1-18No Natal do Senhor

Passados inumeráveis séculos desde a criação do mundo, quando no princípio Deus criou o céu e a terra e formou o homem à sua imagem; depois de muitos séculos, desde que o Altíssimo pôs o seu arco nas nuvens como sinal de aliança e de paz; vinte e um séculos depois da emigração de Abraão, nosso pai na fé, de Ur dos Caldeus; treze séculos depois de Israel ter saído do Egipto, guiado por Moisés; cerca de mil anos depois que David foi ungido rei; na semana sexagésima quinta, segundo a profecia de Daniel; na Olimpíada cento e noventa e quatro; no ano setecentos e cinquenta e dois da fundação de Roma; no ano quarenta e dois do império de César Octávio Augusto; estando todo o orbe em paz, Jesus Cristo, Deus eterno e Filho do eterno Pai, querendo consagrar o mundo com a sua piedosíssima vinda, concebido pelo Espírito Santo, nove meses depois da sua conceição, nasceu em Belém de Judá, da Virgem Maria, feito homem: Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo a carne.

Do Martirológio Romano

Apesar de se recitar ou cantar este pregão no Dia de Natal, proclamando a Boa Nova do Nascimento do nosso Salvador, as notícias de hoje informam que “O Cristianismo é, neste momento, a religião mais perseguida no mundo inteiro“. O franciscano frei Ventura “defende Deus de todas as acusações e assume que se o mundo está como está é sobretudo porque ‘os homens estão loucos'”, denunciando “os hipócritas, sobretudo ‘os facínoras que em nome de Deus vêm atiçar pessoas umas contra as outras'”. É como este missionário capuchinho, missionário de pé descalço, amigo dos pobres e dos que sofrem que, hoje, somos chamados a aproximarmo-nos do Menino Jesus: com a mente e o coração “descalçados”, quer dizer desprevenidos e a trabalhar juntos para acolher as surpresas do Emanuel-Deus-connosco, graça suficiente para que reine a Paz na humanidade. Será graça eficaz se cada um de nós quiser!

O entrevistado refere:

É um ponto de chegada e de continuidade de um endeusamento do “eu” e de uma tribalização do “nós”. Estamos a pagar esta fatura de “eus” exacerbados e autoendeusados que procuram, apesar de tudo, a segurança da tribo e uma gestão tribal da vida, do desporto, da política, da culinária, das relações interpessoais. A tribo que funciona ao mesmo tempo como lugar de proteção e também como lugar de despersonalização. Nesta luta do “eu” à procura do seu próprio sentido, estamos a pagar a fatura. Esta fatura a que chamo “solteironização” dos afetos. O tempo que vivemos é solteiro de afetos, viúvo de emoções e divorciado de compromissos, é um ponto de chegada, de continuidade, e será o ponto de partida para outro estilo de ser e de estar que ainda está por inventar. Estamos a começar a perceber por onde podemos eventualmente caminhar.

Frei Fernando Ventura, in JN

Como que em resposta a esta provocação, podemos aceitar a proposta do Papa Francisco quem durante uma das orações do Ângelus, nos propõe “o único caminho é o da humildade”, exortando que a Igreja a purificar-se “do sentimento de superioridade, do formalismo e da hipocrisia”. No fundo e na prática, mais de Deus e menos de nós, sendo que o nosso mais é o acolhimento passivo para uma obediência ativa.

(Continuará)

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