Para a Bíblia, o tempo é superior ao espaço. E Jesus aproveita-o bem, sem displicência!

Mt 8, 5-11; Is 4, 2-6

“Naquele tempo”, o encontro entre um centurião e Jesus. Aquele diz-Lhe que tem um servo gravemente doente; Jesus declara-lhe, sem perguntas ou comentários, que irá curá-lo. Aquele diz-Lhe que não é digno que entre em sua casa (ou seja, que há ali um aparente entrave moral) e que basta “uma só palavra” Sua, para que o seu servo fique curado; Jesus fica admirado por tão grande fé.

De facto, como nos inspira Abraham Joshua Heschel, um filósofo e teólogo judeu, dos maiores de todos os tempos, inspira-nos que, muitas vezes, a atenção que damos às diferenças patrióticas, culturais e materiais inibem-nos de dar ao tempo a sua nobreza e de entender o seu significado profundo, que nos permite dar mais atenção às gerações e aos acontecimentos.

Pois, neste trecho do Evangelho de hoje, naquele centurião humilde, Jesus vislumbra a promessa que se cumprirá nos “muitos” que virão sentar-se à mesa no reino dos céus. O Advento é um tempo, mais do que um espaço. Mais importantes do que as regras do espaço, são as regras do tempo. E neste tempo, Deus quer visitar-nos. E não só a nós! A todos… basta que em cada coração haja um dócil anfitrião!

O Mestre ultrapassa as fronteiras da religiosidade para alcançar a todos. Não há um só grupo que possa vangloria-se de possuir aquele “gérmen do Senhor” profetizado por Isaías. Se assim fosse, só os judeus é que teria sido salvos e nós não estaríamos aqui a fazer nada. É anunciado que o Senhor vem para “lavar” e “limpar” com o “sopro da sua justiça”, “Ele criará sobre todo o espaço… e sobre as suas assembleias uma nuvem de fumo durante o dia e um esplendor de fogo ardente durante a noite”. “Por cima de tudo, a glória do Senhor será uma cobertura e uma tenda” para servir de sombra, refúgio e abrigo.

Numa reportagem do Expresso, lê-se que Amã, na Jordânia, é refúgio precário para vidas que a guerra destrói. O ACNUR diz que estão na Jordânia 13.843 iemenitas, mas o Governo admite que o número real seja perto do dobro. Desde 2014, já morreram 377 mil pessoas no Iémen (metade à fome, metade em ataques) e 6 milhões estão desalojadas. O país é considerado palco da pior crise humanitária do mundo. Os pedidos de proteção internacional apresentados ao Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) por iemenitas são mais na Jordânia do que em qualquer outro país. As hipóteses de serem aceites são escassas. Para os que chegaram antes de 2019, o processo é demorado; para quem fugiu depois, já nem é hipótese: o Governo jordano mudou a lei para proibir o registo de novos candidatos a asilo não-sírios. Sem essa proteção, qualquer um pode ser deportado.

Em cada tempo de Advento litúrgico, é-nos dada a oportunidade de olharmos para o espaço e vermos que a Palavra de Deus continua a servir para descrever quer o drama da vida humana na busca pela sobrevivência, quer para nela ajudar a encontrar a luz que salva.

Hoje, peço para que os direitos pelos quais a ACNUR luta junto dos refugiados do Iémen ─ a saber: para que os refugiados registados e os que têm avaliações pendentes possam ter os mesmos diretos, não tendo que ser deportados ─ sejam considerados pelo governo da Jordânia, dando-lhes condições de sobrevivência pacífica e de trabalho. Oremos.

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