Filip 2, 1-4; Lc 14, 12-14

Hoje, diante deste Evangelho, tenho duas moções espirituais a partilhar:

A primeira é a do contraste entre as refeições humanas que frequentamos, quase na totalidade, entre familiares e amigos, e o banquete do Reino que Jesus inaugura, em que nos chama a participar sem ter de retribuir.

A segunda é a de que ressuscitar implica ir adquirindo o modo de existência que Jesus nos convida a antecipar aqui na terra: se na ressurreição dos mortos nos será retribuído por termos convidado pobres e aleijados graciosamente, então ser feliz no Reino implica irmos “ressuscitando” com eles à mesa, da Eucaristia litúrgica à Liturgia da vida, reciprocamente, senão, viveríamos ou na hipocrisia (rito eucarístico com números mas sem caridade) ou no assistencialismo que quer ter sempre pobres (caridade sem Eucaristia).

Para que isto possa acontecer, precisamos de ir “morrendo” para uma existência meramente baseada nas relações familiares. A “retribuição” do reino é a própria ressurreição. Quer dizer que viver para os outros, “banqueteando” a vida dos mais pobres faz parte do processo da ressurreição. O ato de ressuscitar implica o gerúndio que antecipa o rito de passagem da morte à vida: ressuscitando a partir de uma vida nova que nos é já proposta nesta terra.

Quando na cruz Jesus diz “tudo está consumado”, quer dizer que é definitiva aquela entrega que Ele foi preparando pelo caminho da sua Encarnação. Para nós, está colocado um desafio: o de perdermos a vergonha de dar testemunho, como nos é sugerido com o tema desta Semana dos Seminários. Completar a alegria do Apóstolo, como escutamos na primeira leitura, implica levá-la aos que choram, considerando-os superiores.

O Papa Bento XVI, na Carta Encíclica Caritas in Veritate, lembra-nos a mais valia de termos os desvalidos à mesa:

No n.º 35b, diz-nos que os pobres não devem ser considerados um “fardo”, mas um “recurso”, pois o mercado não pode bastar-se a si mesmo e precisa das “energias morais” dos sujeitos.

O n.º 48 ajuda-nos a refletir que a existência de pobres são uma declaração de incompetência quanto à distribuição dos dons ou bem comum que Deus destinou para todos.

Numa outra ocasião, o Papa Bento XVI lembrou-nos que o que dá ao pobre não faz deste um inferior. Aquele que faz caridade sabe que não é superior ao seu semelhante pobre, sabendo que este lhe mostra o rosto do próprio Cristo que Se identificou com ele.

Dedicada à causa dos pobres, Santa Teresa de Calcutá, um dia foi surpreendida por uma jornalista que, contemplando a delicadeza com que os tratava, lhe disse: «Madre, eu não faria isso nem por um milhão de dólares», ao que a Santa de Calcutá respondeu: «Eu também não o faço por um milhão de dólares; faço por amor a Jesus».

Os meios de comunicação divulgaram recentemente um casal de idosos teve a infelicidade de serem despejados e despojados de um apartamento em Arroios-Lisboa, onde vai ser reconstruido alojamento local, e andavam pelas ruas a deambular e chorar suas tristezas. Foram visitados na Gare do Oriente, onde dormiam há vários meses, por Marcelo Rebelo de Sousa. Junto deles e de telefone na mão ali mesmo fez os seus contactos e o assunto ficou parcialmente resolvido.

Entretanto, recusaram soluções de emergência. Não admira, uma vez que o seu êxodo foi provocado por injustiças e indiferenças, uma vez que sendo idosos e doentes, foram forçados a sair da sua habitação onde viviam a fidelidade através do corte de luz e da água, como se pode ler nesta petição.

Num destes dias, foi a público a notícia de que é possível que os utilizadores da TV por TDT deixem de ter acesso a este meio vulgar de comunicação social, que já é fruto do pagamento de impostos (nomeadamente na fatura da eletricidade, no chamado imposto de audiovisuais). Serão excluídos da informação ou obrigados a transitar para um serviço caro de comunicação?

Hoje peço o Espírito Santo, para que nos ajude a encurtar a distância entre o Evangelho e a vida, e que nos dê a alegria de vivermos a prática da comunhão através da caridade, através da harmonia entre os nossos sentimento e pensamentos (como nos inspira o Apóstolo), começando por acolher os pobres e aleijados no coração, com humildade e gratidão. Por esta intenção, oremos irmãos!

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