Discerne o que é eterno no caminho, enquanto é tempo

Ef 4, 1-6; Lc 12, 54-59

Há uma bela definição de Deus, hoje, na carta de S. Paulo aos Efésios (4, 1-6), no confronto com o ser humano, chamado a uma forma de vida que o ajude a caminhar na descoberta da semelhança com a imagem divina. E o Apóstolo sugere que é o comportamento que pode ajudar a criatura a caminhar para o seu Criador, sem deixar de se confrontar com os outros, “com toda a humildade, mansidão e paciência”, suportando-se “com caridade” e empenhando-se “na unidade de espírito pelo vínculo da paz”. Está, aqui, também uma boa definição do crente sinodal com Deus e com os outros.

No Evangelho, Jesus provoca a multidão com a ironia: de facto, se a multidão é capaz de discernir o que se tornou óbvio com a aprendizagem das coisas relativas à terra, como é que não têm a coragem de descobrir com o mesmo critério ─ o discernimento ─ a justiça do que acontece no tempo?

Não foi à toa que o Papa Francisco, falando-nos do bem comum e a paz social, nos avisou de que o tempo é superior ao espaço.

Há a investigação empírica (maioritariamente dedutiva: raciocinar em que se parte da causa para o efeito) sobre os factos e dados que levam o ser humano a projetar a vida só a pensar no bem-estar neste mundo. Não lhe chamaria discernimento, porque não procura o novo e acima de si, em termos de valores, mas conta comente com as próprias forças. Esforça-se mais por certificar ou justificar os próprios desejos do que construir algo novo e perene.

Já o discernimento, maioritariamente indutivo (partindo dos efeitos para as causas, tendo em vista melhores efeitos), conta com uma luz superior na leitura dos factos e dos dados disponíveis à observação humana, acrescentando-lhe dados novos, para a busca e construção de uma posse integral de faculdades e bens que não têm que ver só com a vida neste mundo, mas com a existência toda. E é um processo inclusivo de todos no caminho. Por isso, é um instrumento da natureza sinodal da Igreja.

Vale mais doar(-se) no caminho do que pagar na prisão!

Não nos faltará, em pastoral, navegar menos na dedução e aventurarmo-nos mais da indução? A teologia espiritual, que é melhor definida como “experiência espiritual cristã” não é uma ciência empírica, mas com toda a propriedade científica pode chamar-se como ciência descritiva, pois procura contemplar com todos os instrumentos que se têm à disposição o que acontece sob a ação do Espírito e olhando para a forma como o ser humano responde.

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