A correção fraterna só é possível dentro da relação fraterna. A escuta e o discernimento sinodal também!

Lc 6,39-42

Assistimos, hoje, a um conjunto de reações à síntese sinodal nacional por parte de alguns grupos de crentes. Tendo ou não tempo ou oportunidade de ter dado opinião na escuta sinodal, agora sabem a reações ao que está escrito. Sem querer fazer algum juízo de valor (que nem eu nem ninguém poderá emitir, diante do aviso de Jesus quanto ao julgamento do irmão), constato que entre a escuta nacional e a etapa continental está agora a acontecer a sinodalidade não das ideias, mas das classes de pessoas que a sociedade projetou na Igreja. É óbvio que onde há mais pessoas com estilo de vida diferente (refiro-me ao litoral), é possível de haver mais gramas deste género.

A correção fraterna inspirada no Evangelho só é possível realizar-se num clima de relação fraterna. Trata-se de ganhar o irmão e não de se destacar dele. Trata-se de olhar para a própria “trave” e não para o “argueiro” do outro. A assimetria das correções fraternas só se verifica entre pais e filhos, Papa/Bispos e restantes fiéis, etc. A correção fraterna entre irmãos tem vindo a ser ausente em tempo real, adiando-se para publicações póstumas a um ato eclesial/comunitário, porque os “irmãos” que enchem as nossas assembleias litúrgicas não têm tido a coragem de conviver para além das mesmas, onde o “ámen” convive bem com o anonimato. Mostrem-me o tipo de reuniões fora da Missa e eu vos direi que tipo de celebrações têm essas comunidades.

É óbvio que uma síntese sinodal nacional não representa o pensamento de todos e nem todos podemos concordar com tudo o que nela está escrito. Porém, faz um retrato do que é o nosso sedentarismo eclesiástico. E estas reações póstumas servem-lhe de moldura dourada. A pergunta fundamental era e continua a ser: Como é que este “caminhar juntos” se realiza hoje na nossa Igreja? Ora, parece que não estamos a caminhar juntos. Enquanto não nos ajudarmos a tirar reciprocamente traves e argueiros, não será possível caminhar só com arremessos teológicos e conceituais. O caminho da Igreja não é conceitual, mas relacional, tendo Cristo por Guia e Mestre (não conheço outro!)

A cegueira mais perigosa é daqueles que não querem ver o caminho, não meramente o conceito, que serve habitualmente para diferenciar os poderes. Conclusão: enquanto andarmos a definir a Igreja, na prática, como um conjunto de classes, o caminho não será de “Ecclesia”. Precisa-se de uma Igreja em saída. Há muitas pedras para tirar deste caminho…

O que nos vale é que Cristo Ressuscitado não nos abandona neste caminho, enquanto não nos vir caminhar juntos… não se trata de caminhar ao estilo deste ou daquele… Trata-se de caminhar ao estilo de Jesus.

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