O azeite da caridade na almotolia do coração
Comentário a Os 2, 16b. 21-22 e Mt 25,1-13
Frequentemente, interpretamos o azeite nas almotolias da parábola de Jesus sobre o Reino como sendo sinónimo de oração. A proclamação deste Evangelho na Festa das santas virgens, como Teresa Benedita da Cruz, induz-nos a pensar que elas estiveram sempre a rezar. Não é que a oração não seja um pressuposto de uma vida santa. Porém, o que faz entrar no Reino é a caridade, levada na almotolia do coração, porque distribuída pelo caminho pelos irmãos.
De certeza que Edith Stein rezava. Mas também dedicou a sua vida ao serviço do povo judeu e alemão.
A vida dos santos mostra-nos uma verdadeira síntese entre ascese e mística, quando a lemos à luz do mistério da misericórdia de Deus. O passaporte para o céu, como diz o Papa Francisco, é o pobre. Então, o azeite com que somos convidados a preparar as nossas almotolias não é uma oração desencarnada da realidade, mas a memória da caridade, quer dizer, o que fomos para os outros segundo os talentos e dons que ele semeou nas nossas vidas.
Não dormitar, portanto, significa deixar que o Senhor nos leve para o deserto para nos falar ao coração (talvez seja esta uma boa definição de oração), deixando-nos entusiasmar (quer dizer: deixar ter Deus dentro), para cumprirmos a Sua vontade.
De facto, as nossas boas ações são sempre uma transferência da caridade de Deus para a necessidade dos outros. Portanto, o bem a fazer aos outros não depende de “compras”, mas da forma como somos para eles. A porta do Reino nunca se fechará para quem busca melhorar o seu ser em favor dos outros. As meras compras isolam-nos no egoísmo; a pobreza do deserto em Deus enriquece o nosso ser. O que define melhor a caridade não é o bem que fazemos aos outros com o nosso dinheiro (talvez ande por aqui a definição de justiça); caridade é o que passamos de Deus aos outros (na defesa da verdade, na aclamação dos direitos, na criação de condições, na ajuda ao crescimento do outro e no seu cuidado, etc.) através da essencialidade do nosso ser.