Jesus mora no irmão! E se Ele for um refugiado e quiser morar em ti?!
[Leitura] L 1 1 Jo 3, 7-10; Ev Jo 1, 35-42
[Meditação] A Liturgia da Palavra de hoje abre-nos a porta para o “Evangelho da Vocação”, como dinâmica cristã apontada por João Batista como definitiva, em Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Doravante, todos os que quiserem seguir Jesus, terão de passar por esta porta: a da vocação que implica a conversão. Por outras palavras: de ir respondendo ao projeto de amor divino, através do discípulado missionário. O substantivo a indicar um caminho contínuo de conversão; o adjetivo a sugerir que a resposta se faça por ações ou passos concretos de oferta de vida.
Quanto à conversão, ela esteve muitas vezes demasiadamente centrada em coisas do foro íntimo (afetivo etc.). Já o Papa Bento XVI, na obra “Jesus Cristo” que assinou como José Ratzinger, referiu que a moral da Igreja, a certa altura da história (medioevo), centrou demasiado a questão do pecado e da graça em coisas do foro sexual. Na verdade, ao lermos João, damo-nos conta de que não é de Deus não praticar a justiça e não amar o seu irmão. É claro que umas coisas levam às outras, no bem e no mal. No entanto, é uma questão de centramento. Mesmo partindo do pressuposto que a exigência para consigo próprio pode garantir uma maior disponibilidade para fazer o bem aos outros, não é garantido que a pessoa que se centra de forma obsessiva na perfeição da sua vida interior possa estar disponível para dizer sim a um desafio de cuidado (mais perfeito) para com os outros.
A dinâmica iniciada pelo Percursor, na qual Jesus engancha a sua missão, sugere que, doravante, a resposta ao chamamento de Jesus implica sempre um caminho de conversão e de serviço, sempre unidos. Notamos isso pela forma apressada como André foi logo chamar o seu irmão. E nem seque tinham ainda percebido o alcance da missão à qual os queria chamar o Mestre.
Se passarmos a vida cristã a buscar ou a visitar Jesus meramente em espaços físicos, corremos o risco de O ignorarmos no lugar onde Ele prefere morar: no irmão. Se repararmos bem, o evangelista João refere-nos uma hora (as quatro da tarde) e não um endereço postal ou coordenadas GPS. Responder ao convite de Jesus “vinde ver” implica mais o desafio de ir ao encontro e ocupar tempo com um irmão necessitado, como fez rapidamente André em relação a Simão, do que em “fecharmo-nos em copas” espirituais desincarnadas: uma caridade adiada por ensaios que não nos deixam sair das piedosas intenções. A ética cristã não é uma ética do lugar, mas uma ética do destinatário.
E se Ele for um refugiado e quiser morar em ti?! Vá que esta sua manifestação (epifania) te surpreenda!!
[Oração] Sal 97 (98)
[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo