O Reino de Deus não se conquista, mas recebe-se e partilha-se com total igualdade de deveres e direitos (não de género)

[Leitura] Gen 2, 18-24; Hebr 2, 9-11; Mc 10, 2-16

[Meditação] Na Liturgia da Palavra deste XXVIII domingo do tempo comum não me foi fácil orientar a reflexão homilética, uma vez que há a tendência para nos fixarmos nos temas mais delicados da emergência relacional, como o cuidado para com os Matrimónios na eventualidade do divórcio. No entanto, como o Evangelho é sempre aquele tesouro onde um pai de família pode ir buscar coisas novas e coisas velhas (cf. Mt 13, 52), ousei apontar o foco da atenção para outro objeto: as mulheres e as crianças que, no tempo de Jesus, assim como no nosso tempo em certas regiões e circunstâncias, carecem que se lhes faça verdadeira justiça.

Antes, até, que o divórcio que Moisés autorizou às mulheres por causa da dureza do coração dos homens (porque estes as tinham como escravas, cf. Dt 24,1-4), chamou-me à atenção o “divórcio” que os discípulos estavam a correr o risco de provocar entre os mais pequeninos e o Reino de Deus, como se este fosse meramente uma coisa “de adultos” ou de gente ilustradamente bem comportada. Jesus não usou metáforas! Quebrou as fronteiras que relacionais que lhes estavam a ser impostas, para declarar, sem redundâncias: «Quem não acolher o reino de Deus como uma criança não entrará nele».

Pela tendência masculinizante da leitura das Sagradas Escrituras, ainda muito imposta pela cultura paternalista, corremos o risco de impor à sequela de Cristo um “caderno de encargos” exclusivo de características impostas pelo homem. Na verdade, como ele é apresentado por Jesus, o Reino de Deus é totalmente gratuito e é “de Deus”. Ele dá-o a quem quiser! Se assim não fosse, já não seria totalmente d’Ele. E Jesus declarou bem-aventurados os que padeciam de alguma coisa e não os que eram fortes em tudo! É aqui que insiro a questão do divórcio que, na Igreja, encontra sua versão correspondente à de Deuteronómio (24, 1-4) na atual e infelizmente cada vez mais frequente possibilidade de declaração de nulidade. Na verdade, é muitos casais pobres de consumação psíquica e espiritual do seu “matrimónio”, para além da eventual consumação física e da ratificação ritual e social. Perguntemos: São só bem-aventurados os “bem casados” (que o são por transportarem a sua cruz e seguirem Jesus neste estado de vida não isento de sofrimentos e lutas)? Ou, sê-lo-ão, também, aqueles que, sendo pobres em espírito ou perseguidos de alguma maneira, não chegam a conseguir consumar uma relação até ao seu auge espiritual sacramental, tendo em conta o seu modelo: a relação de Cristo com a Igreja? É por isso que o Papa Francisco avisa que «O sacramento do matrimónio não é uma convenção social, um rito vazio ou o mero sinal externo dum compromisso. O sacramento é um dom para a santificação e a salvação dos esposos, porque “a sua pertença recíproca é a representação real, através do sinal sacramental, da mesma relação de Cristo com a Igreja». E, ainda que não se possa requerer que os esposos imitem totalmente a relação de Cristo com a Igreja, «O matrimónio é uma vocação, sendo uma resposta à chamada específica para viver o amor conjugal como sinal imperfeito do amor entre Cristo e a Igreja. Por isso, a decisão de se casar e formar uma família deve ser fruto dum discernimento vocacional» (AL 72).

Concluindo, não estamos em tempos de impor legalismos. Estamos em tempos da urgências de exemplos de seguimento, na missão da Igreja!

[Oração] Sal 127 (128)

[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo

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