De pequeninos é que nos agarramos ao caminho
[Leitura] Sab 2, 12. 17-20; Tg 3, 16 – 4, 3; Mc 9, 30-37
[Meditação] Presenciei, numa ocasião em que fui a um hipermercado, um pai andar às compras com um filho pequenino, com este nada mais do que agarrando uma das suas pernas, para não se perder naquela parafernália de propostas de consumismo. Hoje em dia, os carrinhos de compras mais sofisticados já têm um assento mais cómodo para as crianças (e seus pais), com a (des)vantagem de lhes possibilitar a iniciação à tática hipnótica pro-consumismo.
Neste XXV domingo, também Jesus nos aparece (pela segunda vez segundo S. Marcos) como um eficiente publicitador do caminho que conduz à salvação, escolhendo o trilho da discrição e não se demorando a explicar aos Doze o que Lhe ia suceder, como acontece naquele curto reclame de TV de 20 segundos, que tem tudo o que é preciso para levar os discípulos a entusiasmarem-se com uma proposta, mas com a seguinte diferença: enquanto o reclame da TV esconde as coisas más (ilusão do baixo-preço, pouca durabilidade da satisfação que promete, etc.) e ativa (pelo tom, imagens e cores) o ciclo vicioso do consumismo, o “reclame” do caminho de Jesus declara toda a verdade do círculo virtuoso que nos atrai para o bem que é a ressurreição.
Na verdade, por detrás de qualquer cruz se esconde uma vitória que alimenta a esperança de vida eterna, enquanto por detrás de qualquer processo de atração consumista se esconde sempre a repetida necessidade de voltar à parafernálica posse de bens que não saciam. Os discípulos ainda não estavam preparados para aquele dom, mesmo sendo ele gratuito. Discutiam quem deveria ser o primeiro depois que Jesus viesse a ser morto. Nem sequer deram importância ao facto de a morte anunciada não era o final, mas o início de uma nova história: a do Ressuscitado a caminhar connosco. Jesus deixa-nos um testamento que, na verdade, é, na verdade, para “gastarmos” em favor da vida eterna: a humildade e o serviço. Para nos levar a “gastar” toda a atenção nesse “hipermercado” da graça, sugere-nos que sirvamos a Deus em todos os que são identificados com uma criança: os pequeninos, os fracos, os pobres, os marginalizados. Enfim, os que nunca ficariam à disposição da nossa atenção nas primeiras prateleiras de uma superfície comercial, caso fossem equiparados a objetos de consumo.
Atendamos: descartar as coisas difíceis do Evangelho é desviarmo-nos do horizonte para o qual nos aponta o mesmo. A realização pessoal à qual almejamos com tanto empenho só pode ser, na perspetiva da incarnação, um benefício colateral ao cumprimento da vontade de Deus que somos chamados a amar nos nossos irmãos com todas as forças do coração. Isto não se faz num ato, mas numa repetição de atos (ainda que alternados por quedas) que vão construindo a atitude. Dentro de uma opção fundamental de vida, proporá um caminho mais consistente… mesmo que a partir da consideração de sermos como os pequeninos! Porque… nos basta a graça!
[Oração] Sal 53 (54)
[ContemplAção] http://www.twitter.com/padretojo