No vaso frágil da religião transportamos o tesouro da fé cristã que o renova

[Leitura] Deut 5, 12-15; 2 Cor 4, 6-11; Mc 2, 23 – 3, 6

[Meditação] À frente do Seminário Maior de Viseu está a estátua do Bispo D. António Alves Martins (1808-1882), onde podemos ler, numa das faces da coluna, a afirmação que lhe foi atribuída:  «A religião deve ser como o sal na comida: nem muito nem pouco, só o preciso». Penso que esta frase não dista muito do sentido da afirmação de Jesus escutada na cena evangélica deste IX domingo do tempo comum — «O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado» —, com a qual percebemos que a prática do bem para se salvar vidas proposta pelo Evangelho transcende toda a ordem estabelecida.

Nós sabemos que Jesus não fundou nenhuma Ordem, nem nenhuma Religião, ainda que esta se referencie ao Cristianismo no quadro das três grandes religiões (juntamente ao Judaísmo e ao Islão). A face do Cristianismo que se descreve como Religião será a forma como os crentes aderem ao acontecimento vida-paixão-morte-ressurreição de Jesus Cristo. No entanto, enquanto a religião se pode definir mais bem como o ser humano à procura de Deus, o acontecimento cristão refere-se ao movimento de Deus em direção à humanidade, para a salvar, segundo os seus desígnios de amor.

Acontece, pois, que aquela face humana de religião, por vezes, cristaliza-se em leis que impedem de acolher o amor salvífico de Deus, impondo coisas que Ele não quer. Assim, a religião pode caraterizar-se como aquele “vaso” frágil que é chamado a ter consciência do tesouro que transporta — a fé cristã (no caso do Cristianismo, claro) —, que, traduzido em oração e ação, tem o poder de a renovar no sentido de servir a construção do Reino de Deus. Assim, o Antigo Testamento vai deixando de ser uma mera latência do Novo, dando espaço ao cumprimento da promessa de Deus: a de termos vida em abundância, longe de todas as formas de opressão a que nos impõe uma falsa visão de Deus e do ser Homem sobre a terra.

Requer-se uma santa “rebeldia” para se ser cristão!

[Oração] Sal 80 (81)

[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo

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