Amor a Deus e ao próximo: a lei básica que nos restitui à “terra prometida” do Reino
[Leitura] Ex 22, 20-26; 1 Tes 1, 5c-10; Mt 22, 34-40
[Meditação] As leituras de hoje ajuda-nos, em grande, a coroar o “outubro missionário” e a iniciar o “novembro seminário”, com a celebração de Todos os Santos e Todos os Fiéis Defuntos. Descubro três aspectos que cada uma das leituras nos ajudam a aprofundar: histórico-antropológico, teológico e eclesiológico.
1º – Aspeto histórico-antropológico: A primeira leitura faz-nos regressar a um tempo em que o Povo de Deus, depois de ter estado no cativeiro do Egito e fundamentando-se nessa experiência opressora da qual Deus o libertou, formula um conjunto de normas que asseguram proteção jurídica e social aos mais débeis e pobres. A partir desta leitura, podemos dar conta que a história bíblica (ou seja de Deus com o Povo) é uma história de humanização. Nem todos textos do Antigo Testamento deixarem isso claro, mas a Bíblia testemunha uma progressiva (embora lenta) purificação da compreensão da imagem de Deus pelo homem.
2º – Aspeto teológico: Quando chegamos ao Novo Testamento, o humanismo bíblico atinge o seu ponto mais alto, em Cristo. Jesus volta a ser confrontado diante dos fariseus (que o queriam apanhar numa cilada), desta vez sobre as leis fundamentais. Sabe-se que havia, no seu tempo, uma proliferação de 613 leis que se subdividiam para complicar a vida dos mais pobres. Vejamos a diferença com o Livro do Êxodo! Algo semelhante com o tempo de hoje? Dá a impressão que um povo quando se sedentariza e não está a caminho, complica com as leis… No caminho, são precisas menos leis… Vamos rápido: a novidade de Jesus foi pegar nos preceitos fundamentais que existiam e uni-los numa só necessária Lei, a do Amor a Deus e ao Próximo, que andaram milenarmente separadas pela confusão dos preceitos.
3º – Aspeto eclesiológico: A carta de Paulo é um convite a imitarmos Aquele que nos espera no Reino futuro, de onde nos guia com a luz do Espírito Santo. Se pensamos em habitar nesta terra para sempre, teremos de nos perder em leis que correm o risco de ser desumanizadoras, se acolhermos a ideia que caminhamos para o Reino definitivo, iremos relativizar muitas leis e renovar sempre o modo de viver em função disso. A missão da Igreja ganha muito e o mundo também, com a prática da lei do amor a Deus e ao próximo como Lei una. O Papa Francisco, um dia disse aos jovens que lhe perguntaram o que precisavam de fazer para viver melhor o Crisma, ao que ele terá respondido: não percam tempo, vivam já o capítulo 25 de Mateus e ireis para o Céu!
Na recente Conferência sobre o Futuro da Europa, o Papa Francisco voltou a sugerir aos cristãos que se envolvam em todas as esferas da política, para que a vivência dos valores cristãos saiam da esfera privada aí enclausurada pelo laicisco atual. De facto, em determinadas circunstâncias podemos ser colocados a jeito de obediência aos homens de maneira a arriscarmos a desobedecer a Deus. Há que mudar rumo com a coragem de abraçarmos a causa cristã sem proselitismos, mas também sem pactuar com o laicismo arrogrante e agressivo ao qual não fica nada a dever e a ferir o testemunho de fé cristã. Aquela semelhança de que Jesus fala entre o Amor a Deus e o Amor ao Próximo é uma caraterística que normaliza a fé, quando esta se vê subjugada − tanto dentro como fora do âmbito eclesiástico − a excentricidades humanas que bloqueiam a construção do Reino.
[Oração] Sal 17 (18)
[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo