A motivação de um coração crente é tornar-se capaz do Reino
[Leitura] Jos 24, 1-13; Ev Mt 19, 3-12
[Meditação] A vida cristã combate-se, hoje, entre dois hemisférios expressivos da mundanidade espiritual: o da descrença e o da pós-crença. Aquela reporta-nos a Terá, pai de Abraão; esta leva-nos a confrontar-nos com os que, apesar de terem ouvido falar do Deus único e verdadeiro, preferem um deus que lhes seja mais conveniente. Assim, as motivações que levam o ser humano a cooperar no seu desenvolvimento não são tanto informadas pela Revelação de Deus, mas pelas aspirações mundanas do homem.
Foi por isso que Josué, em Siquém, reuniu a assembleia (incluindo os anciãos, chefes, juízes e magistrados) para lhes fazer memória do que o verdadeiro Deus tinha feito em favor do seu Povo. Na verdade, ele declara uma espécie de “Credo” feito das obras de Deus que ajuda o Povo a afastar-se da descrença de outrora. No Evangelho, Jesus confronta-se com aqueles que preferem “frabricar” um deus à sua maneira com as motivações de quem se quer ser o topo da religião. O tema debatido − o do divórcio − mostra bem a divergência de motivações. Enquanto que 0s fariseus apostam na argumentação em favor da possibilidade do divórcio, Jesus faz memória da origem da possibilidade do amor livre, indissolúvel e fecundo entre o homem e a mulher.
Temo que a questão séria do Matrimónio e da Família, mesmo depois da XIV Assembleia Plenária do Sínodo dos Bispos, por vezes, seja tratada por uns com as motivações dos fariseus, enquanto que poucos a tratam como Jesus. Temo também que entre os que representam uns e os que tentam representar Jesus, a partir do Magistério do Papa, se esqueçam que há muitas “tentativas de famílias” que estão a caminho de um ideal que não é o de uma “profissão de fé” no divórcio, mas que também ainda não é ou já não pode ser uma situação regular de Matrimónio. A pergunta seria: o que é preciso para alguém se tornar capaz do Reino? A busca da (verdadeira, incluindo a própria) felicidade ou a fixação no perfecionismo? Andámos a assistir a muitos sacramentos do Matrimónio sem que os noivos tenham concluído, no mínimo exigível, a iniciação cristã… o que podemos esperar?! Num tempo em que se alcançou quer uma longa esperança de vida, quer a acumulação de desafios e problemas com que a juventude é confrontada, penso em relação ao Sacramento do Matrimónio e que penso em relação ao Sacramento da Ordem: andamos a apressar sacramentos, descartando a possibilidade de que as etapas sucessivas sejam consequência da maturidade de etapas precedentes, como afirma a nova Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis.
[Oração] Sal 135 (136)
[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo