Não se pode humanizar sem a ação de santificar
[Leitura] Lev 23, 1. 14-11. 15-16. 27. 34b-37; Mt 13, 54-58
[Meditação]No dia de São João Maria Vianney, rezamos o Evangelho com alguma tristeza por Jesus não ter sido bem acolhido na sua terra. Aquele Santo, como Jesus outrora “filho de um carpinteiro”, também foi alvo de críticas quanto à sua peculiar simplicidade, uma vez que era filho de agricultores.
Espero não escandalizar ninguém que seja praticante e, ao mesmo tempo, da sociedade média-alta (e se escandalizar ainda bem…!): sou formador de candidatos ao sacerdócio há 20 anos na Diocese de Viseu e não me lembro de nenhuma maioria proveniente de elites intelectuais e económicas. Esta estatística corrobora o que lembra o documento pontifício que regulamenta a formação sacerdotal: «o dom da vocação ao presbiterado, conferido por Deus no coração de alguns homens» e «as vocações são manifestações das incomensuráveis riquezas de Cristo (cf. Ef 3, 8)» (Ratio fundamentalis institutionis sacerdotalis, 1 e 11). Portanto, as vocações de consagração não são provenientes do poder humano, mas divino. Quando muito, os recursos humanos (que também são obra do amor de Deus) podem ser colocadas ao reconhecimento e promoção daquele dom.
Temo que, mesmo dentro das nossas paróquias, sobretudo aquelas em que tendem a medir o sucesso de vida comunitária meramente pelas qualidades do presbítero, tenham como programa pastoral algo caracterizado por humanizar sem santificar, através de um servilismo social que pouco espaço deixa à ação da graça de Deus, consistente por si mesma.
Continua a ser difícil e incómodo crer em Jesus Cristo como Servo sofredor, a Quem os presbíteros são chamados a configurar-se de forma especial, assim como noutro grau todos os fiéis pelo Batismo.
O Levítico descreve o cuidado imposto a Moisés de governar um programa “litúrgico” para santificar algumas datas festivas, para que o povo não se esquecesse da misericórdia de Deus, ordenando que as oferendas fossem passadas pelo fogo. Como será com o povo da nova aliança sem os presbíteros, também eles “passados” pelo Fogo do Espírito para a representação visível de Cristo Cabeça e Pastor para estarem inteiramente ao serviço do povo de Deus, sem o peso de uma possível carreira ou governo de uma herança económica?
São cada vez mais necessárias famílias cristãs onde se possa aprender a escutar, sem ruídos de qualquer sugestão de sucesso terreno, a voz de Deus que chama no interior do coração de algumas crianças, adolescentes e jovens para se configurarem com Jesus Cristo, através do influxo do Espírito Santo. Só com este ambiente poderão ser ícones da Santíssima Trindade!
[Oração] Sal 80 (81)
[ContemplAção] www.twitter.com/padretojo