Consagração: uma apresentação humana que anuncia um divino sacrifício
[Leitura] Mal 3, 1-4; Lc 2, 22-40 ou Lc 2, 22-32
[Meditação] Na Apresentação do Menino Jesus no templo, a nossa contemplação direciona-se para a Família de Nazaré e os velhos Simeão e Ana. E, naquela Família, sobressai a presença da Luz silenciosa, notificada pelo bater de asas das duas pombinhas. Esta apresentação humana controlada pela Lei de Moisés antecipa o Batismo de Jesus, naquilo que tem de promessa e cumprimento que, aos olhos de Simeão, é anúncio de um divino sacrifício. Penso ser assim qualquer consagração feita da vida humana a Deus, desde o Batismo que se escolhe e a Vocação que se acolhe como desígnio de Salvação.
Em tempos caracterizados por um forte abandono da vida religiosa, que o Papa Francisco chama de «hemorragia da vida consagrada», somos alertados para as causas que, ainda que um pequeno número seja pela vontade de casar, a maioria é pela «perda de fé» na (fraca) resolução das questões espirituais. Na Festa da Apresentação do Senhor, é oportuno, pois, perguntarmo-nos sobre o que se fez ou se está a fazer desta Luz que é apresentada ao mundo. Será que a função de educar e encaminhar na vocação foi sempre um serviço ao mistério? Será que a «apresentação humana» nas ordens religiosas foi sempre ao encontro do «divino sacrifício» que esconde por detrás de cada carisma? Não será, porventura, que se encheram os conventos com tarefas e promessas que não tinham nada a ver com A promessa de salvação escondida nos corações, surpreendentemente proclamada por educadores pacientemente sábios?
O título, em estilo provocador, de «inverno contemplativo», da capa da Revista «Vida Nueva» deste mês de fevereiro, manifesta a preocupação da Igreja sobre a pastoral das vocações de especial consagração. Ouso afirmar que esta “especial consagração” e a consagração batismal têm faltado primaveras na apresentação de filhos a Quem possa acender a chama da esperança. Falta, também, na Igreja a lucidez espiritual de baixar das belas teorias à prática do acompanhamento que saiba contemplar nos corações dos jovens, pela escuta paciente e atenta, os “pavios” que esperam, molhados de “combustível humano” que é o desejo de felicidade, propostas surpreendentes que sejam mais do que a imposição de esquemas institucionais que lhes tapam, muitas vezes, a visão do caminho inédito aberto por Jesus Cristo, onde há para cada um e uma uma forma particular de dar passos sob um olhar e amor pessoais a parte de Deus. Sim, há formas de apresentar o “sacrifício” de um compromisso vocacional fiel, sem que os jovens lhes virem a cara! É necessário quebrar tabus e limpar a linguagem de tudo o que encobre os reais paradoxos, para que em cada tempo e em cada pessoa, se tentem felizes resoluções, a caminho.
[Oração] Sal 23 (24)
[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo