O mistério de Cristo é uma expiação ecológica
[Leitura] Hebr 11, 32-40; Mc 5, 1-20
[Meditação] Recuso-me a interpretar o episódio evangélico de hoje sob a influência dos filmes hollywoodescos que retratam o exorcismo para fins sensacionalistas e económicos. Muito menos, não me basta a forma como desde a idade média se olha para o exorcismo e a expiação, muitas vezes mais assente no “rito de” e menos no “desde onde” e “para quê”. O rito sugere qualquer coisa, aquém ou além da força divina implicita nele, mas não basta, porque um ato humano menos ou mal cuidado pode tornar-se contraproducente, como, aliás, pode acontecer em todos os sacramentos, especialmente os de cura, se não forem pedagógicos e mistagógicos ao mesmo tempo.
Lembro-me dos antecedentes da publicação da recente carta encíclica do Papa Francisco Laudato Si’ sobre o cuidado da casa comum e, porque toca diverssíssimos aspetos (incluindo os sócio económicos e políticos) da ecologia globalmente e integralmente entendida e das vozes parecidas com as da Legião que possuía aquele homem doente que Jesus curou: «que tens que ver connosco; viste para nos atormentar?». Pensemos bem: se Jesus os vem atormentar é porque aqueles demónios estão num estado de prazer que não coincide, certamente, com o sofrimento daquele a quem possuíram para desfrutar do prazer num corpo. Quanto ao cuidado da casa comum presente naquela encíclica, alguns acusaram o Papa de se estar a meter em assuntos que não eram da sua missão (que seria só a Teologia), ao que o Pontífice responde que também foi formado em Ciências (físico-químicas) e que, sabia, portanto, do que estava a falar. Na verdade, quem ler aquela carta na íntegra, vai constatar que as denúncias podem (e devem) incomodar muitos (des)interessados de que se cuide da casa comum, de forma integral.
Pois, Jesus, ao livrar aquele homem da Legião, restitui-o à sua casa e ao seu ambiente, com a mensagem da compaixão. Foi este o centro do ano da misericórdia que há pouco vivemos e que o Papa prolonga na sua missão de fidelidade ao Evangelho. Porque, hoje, continua a haver sistemas malignos que roubam os indivíduos às suas casas, famílias e comunidades que, por detrás de máscaras aparentemente inofensivas, se festejam com o prazer horrendo da destruição da dignidade que pode dar a verdadeira felicidade. No interior de quem se deixa possuir por tais sistemas habita um sofrimento profundo muitas vezes escondido que só quem é de Jesus sabe e pode, com atenção, acolhimento e oração, ajudar a resolver, restituindo o ser humano à sua proveniência (de Deus) e ao recomeço do caminho para uma vida bem conseguida segundo o programa das bem-aventuranças que Jesus viveu e proclamou. Portanto, uma terapia que não seja tendencialmente integral nem é ecológica nem libertadora, dado que o ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus e, como tal, chamado a uma vida plena.
[Oração] Sal 30 (31)
[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo