[Leitura] Ex 17, 8-13; 2 Tim 3, 14 – 4, 2; Lc 18, 1-8
[Meditação] Hoje, o nosso Mestre conta-nos uma parábola sobre «a necessidade de orar sempre sem desanimar», mostrando, assim, que a oração não implica somente dizermos as palavras certas e fazermo-lo num lugar adequado. É preciso, também, que a oração não tenha grandes intervalos de tempo, de modo a fazermos da relação com Deus uma espécie de ida ao supermercado para fazer as compras, ao fim-de-semana, ou uma ida ao médico quando as dores têm uma causa desconhecida grave. Fugir desta tendência implica fazermos uma administração espiritual do tempo que, conforme o monge beneditino alemão ANSELM GRÜN assegura, é algo que é possível através do ritmo, intercalando tempos de trabalho e tempos de oração que o fecundam, em direção ao tempo plenificado por Jesus Cristo. Para que isto possa acontecer, precisamos dominar os desafios práticos do dia-a-dia sem deixar de procurar compreender o sentido da nossa existência. Tudo isto se pode comparar com a respiração, em que inspiramos ar para podermos oxigenar os nossos órgãos vitais e expiramos o dióxido de carbono para que o sangue não fique intoxicado.
Nitidamente, aquele juiz iníquo que Jesus nos indica como motivação para confiarmos superlativamente mais em Deus Pai era um homem que pensaria demasiado no trabalho lucrativo, não dando espaço à ajuda a quem não lhe pudesse pagar, como aquela viúva. Mas esta não deixa de sair ao seu encontro. Aquele “profissional” da justiça só sai quando dá conta que pode tirar daí o proveito do seu sossego. Aquela mulher regressou a sua casa em paz, enquanto aquele homem deve ter ficado no desassossego habitual. Acontece assim, porventura, connosco, quando não organizamos bem os ritmos do nosso tempo, entre a oração e o trabalho. O ora et labora beneditino é uma regra de vida que dá paz à alma, como a respiração dá oxigénio ao corpo. Há tempo que podemos chamar de “completo” que é o tempo em que Deus Se revela a nós através da Sua Palavra à qual respondemos (melhor modelo de oração!); e há tempo incompleto, aquele que, por mais que trabalhemos ou desfrutemos de algum prazer, permaneceremos insatisfeitos. Uma boa organização espiritual do tempo não nos deve levar à preguiça, mas pode ser uma boa experiência no cadenciar equilibradamente o trabalho que dignifica a vida humana e o descanso da oração que lhe pode dar fecundidade. Assim se percebeu a cooperação entre a oração de Moisés, levada até à exaustão, e a luta de Josué no vale da batalha da vida.
Paulo exorta-nos a viver constantemente sob a proclamação da Palavra, aproveitando-a em todo o tempo para “trabalhar” a realidade com os valores e as capacidades que ela nos permite adquirir. Na verdade, ela é com certeza o verdadeiro “pão” do dia-a-dia para não podermos sucumbir nos desafios difíceis que aí se nos apresentam. A missão da Igreja é o “interface” onde podemos, em vez de imitarmos aquele mau juiz, dar espaço e atenção a todos, juntando a medida das nossas capacidades pessoais ao tudo que Deus é capaz de fazer através de nós. Esse tudo, vem-nos através da insistência da nossa oração, que é relação com Deus Pai, através de Jesus Cristo, no Espírito Santo.
[Oração] Sal 120 (121)
[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo