O discípulo-missionário constrói uma casa-na-árvore em vez de um castelo-na-areia
[Leitura] 1 Cor 10, 14-22; Lc 6, 43-49
[Meditação] Quase todos já sonhámos, um dia, viver numa casa construída sobre uma árvore. Este sonho talvez possa passar a mais do que uma aventura ou fantasia de infância. Parafraseando as duas parábolas do Evangelho de hoje, podemos comparar a experiência do ser discípulo-missionário com uma dessas habitações suspensas em dois pólos:
1º − Alimentar-se de céu. A solidez do ser discípulo não é comparável à fortaleza física de um qualquer jogador de rugby, mas à ceerteza dos valores que professa e pratica. Uma árvore sem folhas voltadas para o sol não pode vir a dar frutos. Estes não são os bens materiais, conforme se espera ao fim de cada mês numa empresa fabril (embora também seja preciso), mas a realização dos mistérios do reino de Deus no mundo.
2º − Ser bem consciente da realidade. A árvore tem as suas raízes na terra, muitas vezes, também, a contornar rochas para que, na intempérie, possa manter-se de pé. Dá uma lição ao ser humano, pois não há nada a dar mais segurança do que um realismo que livra de falsas expetativas ou inúteis frustrações. Inspira o discípulo a ser um missionário independentemente das viagens que faz (a árvore não sai do sítio e nem, por isso, deixa de realizar a sua missão de dar frutos).
Estes dois pólos, em conjunto, são promotores do realismo esperançoso que o discípulo-missionário não sucumba neste mundo e, permanecendo nele, possa transferir em alimento capaz de ser assimilado num certo contexto sócio-cultural a seiva espiritual que lhe vem da sua capacidade de se deixar penetrar pelo sol a que está exposto numa permanente ou consistente relação com Deus. A “casa-na-árvore” pode bem simbolizar um estilo de vida de desprendimento e, ao mesmo tempo, de miradouro de contemplação dos mistérios de Deus e da vida humana. Com o “castelo-na-areia” metaforizamos a busca desenfreada e repetida de sucessos apoiada em falsos deuses, que fazem da vida uma experiência movediça e sem horizonte ou meta. Afinal, os sonhos de criança não são assim tão isentos de perspetiva de futuro…
[Oração] Sal 115 (116)
[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo