A autoridade de Jesus liberta da autorreferencialidade que oprime desde o profundo

[Leitura] 1 Cor 2, 10b-16; Lc 4, 31-37

[Meditação] É na sinagoga que acontece este encontro entre Jesus e o homem endemoninhado. Vista só como um relato, é uma cena simples, mas se a lermos como metáfora, a surpresa dos que confessam conhecer Jesus pode bem ser personificada naqueles que não querem que Ele provoque a antiga religião. Fazem-me lembrar aqueles velhos do Restelo que, cada vez que aparece alguma novidade, mesmo sem verificar se ela é boa ou má, dizem logo que estamos a acabar com a religião. Como Jesus, todo o Apóstolo que prega a sua novidade, não deve arredar pé, mas mandar calar a resistência à Boa Nova.

«Demónio impuro», à luz da novidade do Evangelho, não quererá referir-se somente ao que é obsceno, porque não seguir as leis, mas também que não se abre à novidade que liberta. Prova dessa novidade é a exclamação dos que rodeiam o homem arremessado para o meio, admirados pela palavra desconhecida, mas poderosa. Na verdade, exclamam por Alguém que é capaz de interferir num esquema mórbido e escravizante “instalado” na mente daquele “pseudo-marginal”. Digo assim, porque estou convencido que há muitas «periferias existenciais» personificadas por crentes dentro das comunidades (inclusive nas assembleias litúrgicas), não na aparência, mas na realidade das vidas íntimas, incapazes de se ver livres de esquemas rígidos que não as deixam manifestar as suas doenças, mais ou menos graves. Não se toca nos assuntos, nem se criam espaços de escuta, por vezes, porque é melhor estar assim, para não se ferir o bom funcionamento das coisas.

Ora, como o Papa Francisco atesta, a comunidade da Igreja só estará «em saída» quando sair da sua autorreferencialidade e autossuficiência. Para isso, terá de invocar dentro de si o Espírito de Deus, Aquele que tem a linguagem capaz de levar o homem natural à experiência das coisas sobrenaturais. Com o Evangelho temos o pensamento de Cristo. Jamais podemos retroceder a uma forma de religião que O ignore em favor de leis que oprimem o Homem para o fazer servir esquemas mundanos de uma aparente autossuficiência. Por vezes, estes esquemas entranham-se nas pessoas desde a sua infância e, se não houver posteriormente uma formação adequada, em que se tenha a coragem de acolher Jesus Cristo, a pessoa pode rever-se naquele homem que se sentia fora do círculo dos que exprimem sem problemas as graças espirituais. Lamento que, mesmo dentro de alguns círculos da Igreja, se fale do exorcismo como que a respeitar o esquema cinematográfico que perpetua a sua imagem do passado, deixando que pessoas oprimidas pelo mal (que tem muitas vairantes) fiquem presas, também, a modos de ver a reliadade antigos, à superfície das leis. Esquecendo-se de, como Jesus, descer à “cafarnaum” do homem oprimido de hoje. A este respeito, é curioso ver o que no dicionário da Língua Portuguesa significa essa palavra: «lugar de tumulto ou desordem, lugar onde se amontoam objetos sem qualquer ordem, caverna, gruta, antro». Com a sua palavra e ação, Jesus veio para limpar o interior do homem em desordem, através de uma postura que hoje só se pode imitar através de uma séria interdiplinariedade (a meu humilde ver), restaurando a liberdade que leve a segui-l’O a partir de uma nova ordem, provavelmente nunca vista!!!

[Oração] Sal 144 (145)

[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo

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