Jesus inaugura os jogos “holísticos” com a liga dos últimos

[Leitura] Sir 3, 19-21. 30-31 (gr. 17-18.20.28-29); Hebr 12, 18-19. 22-24a; Lc 14, 1. 7-14

[Meditação] Acabámos de assistir há poucos dias aos Jogos Olímpicos realizados no Rio de Janeiro-Brasil, para onde o Papa Francisco enviou uma saudação especial e votos, dizendo:

Diante de um mundo que está sedento de paz, tolerância e reconciliação, faço votos de que o espírito dos Jogos Olímpicos possa inspirar a todos, participantes e espectadores, a combater o bom combate e a terminar juntos a corrida (cf. 2 Tm 4, 7-8), almejando alcançar como prémio não uma medalha, mas algo muito mais valioso: a realização de uma civilização onde reine a solidariedade, fundada no reconhecimento de que todos somos membros de uma única família humana, independentemente das diferenças de cultura, cor da pele ou religião. (…) Desejo que esta seja uma oportunidade para superar os momentos difíceis e comprometer-se a «trabalhar em equipa» para a construção de um país mais justo e mais seguro, apostando num futuro cheio de esperança e alegria! (Audiência Geral, 3.8.2016)

Com a parábola de hoje e sem fugir aos “jogos” da vida humana − uma vez que comia com fariseus, publicanos e pecadores − Jesus inaugura algo como os “jogos holísticos”, quer dizer, desenvolve a compreensão holística (com valores que justificam a verdadeira finalidade) da vida por meio da criação, neste Domingo, de um jogo com dois valores ou regras muito importantes, para principiantes: a humildade e a gratuidade, que, segundo Ben-Sirá, se completam mutuamente. Vejamos na parábola do Evangelho: «Quando fores convidado para um banquete nupcial, não tomes o primeiro lugar, pode acontecer que…» e «Quando ofereceres um almoço… não convides os teus amigos… convida os pobres…». O primeiro jogo foi proposto aos comensais; o segundo, ao anfitrião fariseu. Os fariseus eram famosos em ser virtuosos por fora e ambiciosos por dentro e os que eles convidavam, à exceção de Jesus, seguiam-lhes as pisadas. Através de um estudo feito em ambiente científico, descobriu-se uma triangulatura que avaliam a compreensão holística de um jogo: a aplicabilidade, a cognição e a motivação. Na verdade, ter um bom desempenho no jogo depende destes três fatores, seja em que arena for: a do desporto ou a da vida. Mas… valerá a pena apostar tudo só na dimensão desportiva, jogando só na dimensão do sensível (a obtenção de medalhas), sem escalar o monte Sião que, segundo o autor da Carta aos Hebreus, levará mais alto que o monte Sinai.

Outros critérios de avaliação na ciência do desporto são o sistema de pontuação condizente e o risco‐benefício apropriado, para o que se deve adotar uma compreensão de regras, valores, distinção entre boas e más práticas, para que se consiga chegar a uma vitória. Por isso, por uma prática reflexiva e não só de empenho físico, propõe-se a teoria do constructionism, que visa a proporcionar aprendizagens por meio da criação, colocada como uma opção a ser trabalhada com um grande sentido crítico com todos os elementos que compõe um jogo, com uma metodologia que tenha uma parte de incentivo numa aprendizagem e que deixa margem à liberdade do indivíduo para escolher o lugar pelo qual quer lutar, sem deixar de lado a reflexão que cada opção lhe pode proporcionar. Penso que, analogamente ao desporto que faz ganhar troféus perecíveis, foi isto que Jesus nos quis demonstrar com o “combate” que nos pode ajudar a alcançar o prémio da vida eterna: a reviravolta dos lugares e dos benefícios, assumindo todos os riscos.

D. Tonino Bello ilustra o convite do Mestre de forma muito interessante: «vai para o último lugar, não por um sinal de indignidade ou de desvalorização de ti, mas por sinal de amor e de criatividade. Porque gestos destes geram uma reviravolta, uma inversão de rota na nossa história, abrem o caminho para um modo de habitar a Terra totalmente outro. O homem, para estar bem, deve dar sem interesse (a quem não lhe pode retribuir). É a lei da vida. E por isso também lei de Deus. Serás feliz, é o segredo das bem-aventuranças: Deus oferece alegria a quem gera amor.» Penso, neste sentido, que o testemunho do nosso selecionador nacional Fernando Santos é uma boa síntese do que acabámos de meditar, onde se percebe que o futebol é só uma peça do grande puzzle de que é composto o caminho da fé. Quem ousar trilhar este caminho, nunca passará vergonhas se usar de humildade na escolha dos últimos e não ganhará menos que a recompensa da gratuidade para com eles que, aliás, o Pai reserva para todos no seu Reino glorioso.

[Oração] Sal 67 (68)

[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo

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