Testemunho sem fingimento: o Encontro que gera encontros
[Leitura] Ap 21, 9b-14; Jo 1, 45-51
[Meditação] Entre a visão do Apocalipse e a cena da conversão de Natanael relatada no Evangelho do mesmo autor, há um contraste tão grande à semelhança entre um filme de ficção tirado da imaginação e um encontro real fotografado do quotidiano. A relação entre os Apóstolos e Jesus Cristo (o Cordeiro) parece ser a ponte que se apoia nessas duas “margens” da realidade: a que se vive e a que se sonha.
O Evangelho de hoje ajuda-nos a refletir que um bom testemunho faz a ligação entre a nossa existência e a Pessoa de Jesus com a Sua proposta de vida eterna. A história de Natanael deixa-nos vislumbrar a “gramática” do processo chamado “testemunho”, que se pode sintetizar nos três passos dúvida-conversão-anúncio. Este processo acontece, segundo o que contemplamos no relato de João, com 3 encontros e 2 convites:
1º – Encontro primordial de Filipe com o Mestre, escondido da cena, mas poderosíssimo, porque dá ao Apóstolo a capacidade de partilhar com convicção aquele encontro e de convidar os outros a fazer o mesmo;
2º – Encontro do Apóstolo com um homem chamado Natanael, no espaço de uma existência escondida ou de algum modo debilitada ou “à sombra” de alguma dependência (“debaixo da figueira”);
3º – Encontro de Natanael com Jesus, onde a aproximação sem fingimento faz brotar uma exclamação de fé igualmente autêntica.
Do 2º para o 3º encontros, existem 2 convites: um feito pelo Apóstolo e outro feito pelo próprio Jesus. Um tem a capacidade de motivar por razões humanas (amizade), o outro, de encontro à réplica exata do Encontro primordial, é feito por Jesus em direção às visão das coisas do Céu que João relata no seu Apocalipse. Razão tem o refrão do salmo de hoje, ao convidar-nos a exclamar “Aqueles que Vos ama, Senhor, proclamem a glória do vosso reino”. Na verdade, proclamar implica amar: esta ação tem de estar contida não só nas palavras que se dizem aos outros, mesmo que convictamente, mas simultaneamente na empatia de quem quer fazer habitar os destinatários no mesmo projeto de felicidade. A empatia, assim, com o convite a fazer parte e não só a ouvir discursos, desfaz todo o tipo de fingimentos e realiza o Encontro sempre novo entre a nossa humanidade e Deus que a quer salvar. É preciso “sair”, visitando as “figueiras” onde se desencontram os que carecem de sentido. É esse o exemplo do Papa Francisco, contemplado também no encontro da vigília noturna da JMJ em Cracóvia, ao receber o testemunho de um jovem, e convidando a todos os jovens a terem coragem de deixar o “sofá” (uma outra dependência como a da sombra da figueira de Natanael).
[Oração] Sal 144 (145)
[ContemplAção] Em: twitter.com/padretojo